Em coluna no jornal O Estado de S. Paulo, publicada no último sábado (10), o jornalista esportivo, Benjamin Back, fez interessantes colocações sobre o jornalismo esportivo brasileiro e sua cobertura da seleção brasileira durante a Copa no Catar.
Back começa a coluna afirmando que não perdemos apenas dentro de campo, mas também fora dele. Para ele, a Copa marcou o “fim” do jornalismo esportivo. Ele pontua que as críticas da imprensa neste Mundial “foram diferentes e mais pesadas que em edições passadas!” Ele continua: “Elas foram destiladas de ódio, raiva, de ataques pessoais e não me surpreenderia nem um pouco saber que após a bola bater na trave no pênalti do Marquinhos, muitos especialistas devem ter comemorado como se fosse a conquista de um título!”
O jornalista explica isso pelo fato de que “a política nacional tomou conta e a militância falou mais alto também no nosso futebol”. Back se refere, obviamente, às críticas da imprensa esportiva a Neymar em função de sua declaração de apoio a Bolsonaro durante as eleições deste ano. O comentarista do UOL, Walter Casagrande Jr., foi um dos escalados pela imprensa para atacar Neymar por sua declaração.
Back até consegue identificar alguns elementos corretos na situação. Destaca que a imprensa esportiva desferiu uma verdadeira campanha de ataques contra a seleção brasileira. Mas não consegue encontrar o fundamento disso tudo. Segundo ele, a luta política nacional, tal como se expressou nas eleições, em especial no segundo turno ― Lula x Bolsonaro ― teria invadido e dominado o jornalismo esportivo. Os “bolsonaristas”, como Neymar, foram atacados ou elogiados por um lado, e os “lulistas”, como Tite, foram atacados ou elogiados por outro. Como consequência, as análise sobre o jogo propriamente teriam ficado prejudicadas.
O que o colunista não consegue enxergar é que as coordenadas políticas que guiaram a campanha contra a seleção brasileira não se baseiam na luta entre Lula e Bolsonaro. Na verdade, não é possível explicar o esgoto despejado pela imprensa esportiva contra a seleção sem fazer referência à luta entre o imperialismo e a nação oprimida. Não é a luta contra Bolsonaro que explica, por exemplo, os ataques de Casagrande contra Neymar, mas sim a pressão que o imperialismo exerce contra o Brasil em época de Copa do Mundo.
Back considera que o que aconteceu neste Mundial foi uma novidade, mas isso também não é verdade. Se lembramos das clássicas crônicas de Nelson Rodrigues nos anos de 1960 e 1970, veremos que o cronista e dramaturgo fluminense já denunciava o “complexo de vira-lata” da imprensa brasileira, a campanha abjeta promovida contra os jogadores brasileiros e, ademais, oferecia um conselho valioso para o Brasil ganhar a Copa: “não nos ler”.
Talvez a voracidade da campanha contra a seleção tenha sido maior nesta Copa, tendo em vista a maior possibilidade de vitória da equipe. Mesmo os adversários apontavam o Brasil como a seleção favorita a vencer. Diante da maior chance de vitória, o imperialismo pisou no acelerador e borrifou mais veneno do que o normal contra o Brasil. Back percebeu que havia algo errado, notou que as “análises” transbordavam em muito da mera crítica esportiva e formulou uma explicação que, num primeiro momento, até parece correta, mas que não resiste a uma análise mais profunda.
Benjamin Back é um jornalista da imprensa burguesa. Trabalhou na Band, na Fox Sports e em outras empresas capitalistas da comunicação. Sua crítica à imprensa da qual faz parte é um sintoma interessante e mostra, ainda que não com tanta clareza, que a campanha imperialista contra o Brasil no futebol passou do ponto e pode gerar uma crise.
Back decretou o “fim” do jornalismo esportivo. Ainda que esteja longe da verdade, é preciso trabalhar pelo fim do jornalismo esportivo capacho, antinacional, entreguista e pró-imperialista promovido pelos monopólios da imprensa capitalista.