Nesta quarta-feira (07), comemorou-se o bicentenário da Independência do Brasil. Por sua importância, a data foi destaque em praticamente todos os lugares do País, desde a imprensa burguesa, até a governamental. Além das tradicionais manifestações do chamado “campo progressista”, que há décadas acontecem na data, chamaram muito a atenção os atos públicos protagonizados pela direita bolsonarista. Ao mesmo tempo, como acontece todo ano, o governo realizou grandes exibições militares em Brasília e no Rio de Janeiro, contando, como esperado, com a participação de Bolsonaro, Presidente da República.
Meses antes da data, antecedendo a mobilização bolsonarista, a imprensa burguesa fomentou uma gigantesca histeria afirmando que Bolsonaro estaria dando todos os indicativos de que, neste 7 de Setembro, em conjunto com as Forças Armadas, daria um golpe militar no Brasil, instituindo um governo de tipo ditatorial.
Como é, também, tradicional, a esquerda pequeno-burguesa brasileira entrou de cabeça nessa campanha, propagandeando que a “democracia” estaria em risco frente ao tremendo horror que Bolsonaro representaria. Estabeleceu-se, então, um clima de terror que contava os dias até a comemoração da Independência, como se a data representasse o dia do juízo final das instituições do regime nacional.
O que diz a imprensa
Antes de mais nada, é preciso observar como a imprensa burguesa pinta o quadro que quer nos mostrar. Nesse sentido, as capas dos maiores jornais brasileiros, após os atos de Bolsonaro, só falavam disso em um tom dramático, como se houvesse uma grande operação bolsonarista. Veja abaixo:
Além disso, ao longo do dia, todos os artigos, também, seguiram a mesma linha. Confira:
Chama especial atenção a matéria intitulada Bolsonaro deve ser investigado por abuso de poder, dizem especialistas publicada tanto no Estado de S. Paulo, quanto em O Globo. Repercussões de falas de “especialistas” que servem para jogar fogo na lenha de que Bolsonaro estaria cometendo um grave atentado contra o Estado de Direito no 7 de Setembro.
Por outro lado, temos a histeria da esquerda que, além de se limitar a fazer piadas com o órgão genital de Bolsonaro, “lacram” ao tentar rebater a colocação de Bolsonaro de que “Seguramente passamos por momentos difíceis, a história nos mostra: 22, 35, 64, 16 e 18. Agora em 22. A história pode repetir. O bem vencendo o mal”.
O jornal Brasil 247, o maior portal de notícias da esquerda progressista brasileira, por exemplo, publicou um artigo reproduzindo essa fala e afirmando que Bolsonaro havia feito “uma nova ameaça de golpe de Estado”. Conclusão tirada, diga-se de passagem, por meio dos relatos da Folha de S. Paulo.
Costurando um espantalho
Diante de todo esse quadro, fica claro que a burguesia está criando um espantalho, ou seja, uma figura que tem as suas pretensões elevadas a graus alarmantes de maneira puramente artificial. Literalmente um espantalho: não é um perigo real, mas assusta as aves da plantação.
No caso de Bolsonaro, tentam moldar a sua imagem de modo que se torne um perigo iminente à democracia brasileira, um verdadeiro nazista que pode, a qualquer momento, instituir campos de concentração em todo o Brasil. Enquanto que a realidade, como atestado pelos próprios atos de 7 de Setembro, é que Bolsonaro, independente de possuir ou não tendências golpistas, não possui o poder político para instituir uma ditadura no País. Por esse ângulo, é um burguês como qualquer outro, só que caricato.
É uma manobra que, no último período, funcionou perfeitamente. Afinal, a esquerda, assombrada com o espantalho que a burguesia costurou, chegou ao absurdo de apoiar as medidas, essa sim, ditatoriais de Alexandre de Moraes, skinhead de toga que instituiu um verdadeiro regime de exceção. E esse apoio, obviamente, se dá sob a justificativa de combate ao perigo fascista de Bolsonaro.
Em outras palavras, a esquerda pequeno-burguesa, na ausência de princípios, foi levada a apoiar medidas profundamente autoritárias que, no final, se voltam contra a classe operária, como é o caso da censura. Uma posição que faz Marx se revirar em seu túmulo.
Uma manobra para a terceira via?
Até o momento, está claro que a terceira via, representada, principalmente, por Tebet, é a escolha favorita da burguesia, principalmente a imperialista, nas eleições deste ano. Por um lado, decerto que não querem Lula e, por outro, como demonstram os jornais citados anteriormente, também não querem Bolsonaro. Procuram, portanto, uma alternativa que melhor represente os seus interesses, ou seja, o neoliberalismo.
Todavia, como viabilizar uma candidata que, até o momento, é absolutamente desconhecida pela grande maioria da população? É uma tarefa consideravelmente complexa, ainda mais quando levamos em consideração que seus adversários são figuras extremamente polarizadas e, principalmente no caso de Lula, populares. Entra, portanto, o golpe.
Finalmente, a intenção da burguesia é, justamente, levar Tebet para um segundo turno. Mas, Tebet não ganha, de maneira alguma, de Lula e, portanto, precisa que tal embate se dê contra Bolsonaro, o espantalho. E é esse o possível motivo por trás de todo esse alarde, a burguesia precisa chantagear a esquerda e o eleitorado de Lula a apoiar a terceira via. Ademais, fato que comprova essa hipótese é a recente escalada de Bolsonaro nas pesquisas eleitorais.
Apesar da gigantesca campanha na grande imprensa contra ele, Bolsonaro já se encontra a 10 pontos de diferença de Lula que, segundo as últimas pesquisas, permaneceu mais ou menos estagnado. Medida que deve, no mínimo, criar desconfianças. Afinal, qual seria o motivo de tal escalada? Antes, parece se tratar de uma manobra para concretizar o quadro dos sonhos da burguesia com Tebet e Bolsonaro no segundo turno.
A operação se daria, aproximadamente, da seguinte forma: tentarão fazer com que Bolsonaro “grude” em Lula nas pesquisas para que, depois, possa ultrapassá-lo. Então, a imprensa gritaria “Golpe!”, chantageando a esquerda, por meio desse quadro artificial, a apoiar Tebet contra o espantalho que ela, também, criou. Isso porque a campanha de Ciro já indicou que pode abdicar em favor da unidade do chamado “centrão” em torno de Tebet, o que a levaria para mais de 20% das intenções de votos sem contar nos pontos que pode roubar, de antemão, de outros candidatos.
Em seguida, iniciariam uma ampla campanha para obrigar Lula e a esquerda a apoiar Tebet, argumentando, inclusive, que não apoiarão Lula no segundo turno. Ou seja, a última alternativa para impedir que o espantalho fascista, que vai impor uma ditadura nazista no brasil, seria a terceira via. Estaria dado, então, o golpe.
Concomitante a toda essa operação, não podemos esquecer que, como já é tradicional, a imprensa burguesa continuará sua campanha de calúnias contra Lula, confabulando denúncias absurdas para desmoralizar a campanha do ex-presidente. Não se pode descartar, também, que comecem a surgir acusações ainda mais fortes envolvendo corrupção, machismo e afins, tudo para forçá-lo a renunciar à corrida e apoiar Tebet.
Um futuro em construção
A esta altura do campeonato, não se pode ter muitas certezas, pois o quadro ainda está, em grande medida, sendo montado. Porém, uma coisa é absolutamente certa: a burguesia não quer um novo governo Lula, pois o imperialismo está em uma crise ineditamente profunda e, por isso, precisa pôr ordem na América Latina que tem, como principal país, o Brasil.
Para tal, não podemos ter dúvidas que o imperialismo fará de tudo, inclusive arquitetar um novo golpe contra Lula e o PT para impor, de uma vez por todas, a sua política no país, política que, neste momento, é representada por Tebet. Algo que jogaria o Brasil na miséria como nunca antes vista.
Por isso, é preciso antecipar toda e qualquer movimentação por parte da burguesia, principalmente aquelas que possuem ligação direta com as eleições. O fato é que o povo e, principalmente, os seus setores de vanguarda, devem tomar as ruas e garantir a eleição de Lula na força. Caso contrário, serão pegos de surpresa pela manobra imperialista e, então, será tarde demais.