Justo após a trágica eliminação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo, quando o jogo já estava ganho, o “Pombo” Richarlison conseguiu driblar a ofensiva contra o futebol brasileiro na imprensa golpista. O camisa 9 da Copa, que havia prometido fazer uma tatuagem em homenagem ao Hexa, não se intimidou com o revés e mostrou o esboço de um enorme desenho que ficará impresso nas suas costas. Em destaque, seu rosto entre os rostos dos seus ídolos Ronaldo “Fenômeno” e Neymar e a frase que Pelé lhe dedicou após a queda nas quartas de final: “Você fez o Brasil sorrir”.
Após a estreia do Brasil contra a Sérvia, parte da imprensa da direita e da esquerda tentaram usar o ótimo desempenho de Richarlison e a lesão de Neymar para diminuir a importância do maior jogador da equipe, o nosso camisa 10. Da parte da direita, o mesmo cinismo que há anos coloca Messi e Cristiano Ronaldo como superiores ao craque. E do lado da esquerda, que aderiu à campanha contra Neymar por conta dele ter declarado voto em Bolsonaro e tentou transformar Richarlison numa espécie de Che Guevara de chuteiras.
Para azar dos urubus, o elenco estava bastante unido e não deixou a campanha rachar o grupo. Mesmo assim, o bombardeio da imprensa contribuiu para desconcentrar os jogadores em relação à curta competição. Quem assistiu pelo menos aos jogos do Brasil não tem como negar o papel de liderança técnica de Neymar, que marcou um dos mais belos gols da história das Copas contra a Croácia, deixando o Brasil com um pé nas semifinais.
Richarlison, com certeza, não ignorou esse fato. Ele, que já era fã do camisa 10, não hesitou em imprimir o rosto de Neymar nas costas, junto com o outro ídolo Ronaldo e do seu próprio, numa manifestação de que quer se tornar um ídolo para as futuras gerações de jogadores. Abaixo dos rostos, um garoto com a camisa 9 de Richarlison de frente para barracos de uma típica favela brasileira, cenário comum dos grandes centros urbanos do país e de onde sai a maioria dos nossos grandes jogadores.
A maioria dos aspirantes a craque de futebol, por conta da falta de estrutura e oportunidades, acaba ficando pelo caminho. Uns morrem cedo demais, outros acabam procurando maneiras mais imediatas para sustentar suas famílias e nunca saem da pobreza extrema. Alguns até conseguem seguir uma carreira como atletas, mas com salários muito distantes daqueles pagos pelos grandes clubes e quando não conseguem mais jogar partem para outras ocupações para seguir pagando as contas.
Quem não vive o futebol como a maioria do povo brasileiro vive, não consegue entender porque Richarlison resolveu registrar definitivamente o que aconteceu na Copa. Por mais que o sonho maior não tenha sido realizado, o camisa 9 jogou uma Copa do Mundo pela Seleção Brasileira, sonho comum para grande parte dos jovens brasileiros, pois se trata da mais importante seleção do futebol. Fez isso jogando ao lado de um dos seus maiores ídolos, ninguém menos que Neymar. Na Copa, conheceu pessoalmente o “Fenômeno” Ronaldo e se emocionou como um garoto.
A carona que a esquerda pegou na campanha contra Neymar e contra a Seleção ignora que as crianças e jovens admiram os jogadores, tanto pelo futebol que aprendem a amar desde pequenos quanto pela trajetória de superação da miséria, coisa que eles também aspiram. Ao contrário de outros esportes, que dependem de certa estrutura para serem praticados, o futebol é bastante flexível. Na falta de bolas adequadas, se improvisam bolas de elástico, papel e até pequenas pedras. Na falta de traves, pedaços de pau, pedras ou chinelos, entre outros. Na falta de uniformes, os clássicos times “com camisa” e “sem camisa”. Essa flexibilidade, aliada ao show do futebol arte brasileiro, tornaram o futebol o esporte mais popular do mundo, popular especialmente nos países atrasados, onde a torcida pela Seleção Brasileira é enorme.
Richarlison é um desses garotos das periferias do Brasil, que parece viver dentro de um sonho e que sabe disso. Para alguns, a frase dedicada a ele por Pelé pode parecer algo de menor importância. Ao tatuá-la nas costas, Richarlison torna explícita a importância de Pelé para a cultura do futebol. O Rei do Futebol escreveu que ele “fez o Brasil sorrir” e o “Pombo” vai carregar isso com orgulho pelo resto da sua vida. Quem não viveu o futebol não tem a mínima condição de entender isso.