A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (13) a chamada PEC do Estado de Emergência, permitindo ao governo gastar, independente do teto de gastos, mais de R$41,25 bilhões até o fim de 2022 em recursos destinados a programas sociais, concessões de ajuda financeira a caminhoneiros e taxistas, diminuição de tributos do etanol. Sendo R$26 bilhões destinados ao Auxílio Brasil, R$1,05 bilhão ao vale-gás de cozinhas, entre outras medidas, em uma clara campanha de compra de votos do governo Bolsonaro às vésperas das eleições.
Mesmo sendo ilegal pelas regras eleitorais vigentes, a compra de votos de Bolsonaro em forma de PEC, também chamada na imprensa burguesa como PEC “Kamikaze”, nome dado pelo próprio Paulo Guedes, no início do governo Bolsonaro, foi aprovada no segundo turno com 469 votos a favor a 17 contra. Com um amplo apoio não apenas do principal setor do regime golpista como também da própria esquerda parlamentar.
Em um ato de desespero eleitoral, a esquerda, ao invés de se contrapor a compra de votos aberrante que Bolsonaro está fazendo às vésperas das eleições, de denunciar a tentativa de fraudar as eleições, decidiu se juntar a campanha em torno das “bondades”, como afirmou Guedes.
A esquerda, ao aprovar o Estado de Emergência, concede a Bolsonaro e a todo o regime golpista plenos poderes para agir como bem quiser faltando poucos meses para as eleições. Da mesma forma que a esquerda vem dando ao STF cada vez mais poder para perseguir seus opositores políticos, agora é a vez de Bolsonaro ter nas mãos o controle total do Estado há passos de uma eleição presidencial.
Até então, a esquerda parlamentar se colocava no “vale tudo” contra o “fascismo de Bolsonaro”, era a luta do “amor” contra o “ódio”, o bem contra o mau, agora, no entanto, parece claro que o amor venceu, porém, o amor da esquerda com a direita golpista, e pior, com o próprio bolsonarismo, garantindo a eles plenos poderes de roubarem para si as eleições presidenciais.
O cinismo por parte da direita é enorme. O que antes era a PEC “Kamikaze” para Guedes, que criticava qualquer auxilio à população mesmo durante a crise da pandemia, agora classifica a PEC de Bolsonaro como a PEC das “bondades”. Chegando ao ponto de colocar que o governo Bolsonaro quer combater a fome e quem se opõe a esta compra de votos descarada, quer ver o povo brasileiro viver na miséria.
O mesmo governo que hoje faz essas “bondades” às vésperas das eleições foi o mesmo que permitiu morrer mais de meio milhão de pessoas na pandemia, colocou outros milhões na miséria e aprovou sistematicamente enormes cortes contra a população, entregando por fim a maior inflação do século. No entanto, é para esse governo que a esquerda pequeno-burguesa vem entregando a faixa presidencial, permitindo a maior compra de votos oficial desde o fim da ditadura militar.
O amor de fato venceu, para que lutar contra o fascismo se a eles podemos amar? Para que denunciar a compra de votos descarada se podemos simplesmente apoiar? A trágica conclusão da luta parlamentar contra o fascismo foi por fim, dar todos os poderes de Estado à Bolsonaro no ano das eleições. Quem venceu, no fim das contas, foi o amor da “oposição” a seus cargos.