O debate no PT em torno da aliança com Alckmin para vice da chapa de Lula nas eleições presidenciais evoluiu de um boato na imprensa golpista para declarações mais claras do PT e do próprio Lula nesse sentido. O fato tem sido usado por setores da esquerda como um pretexto para negar apoio à candidatura do ex-presidente, mesmo sendo ele o principal candidato da esquerda e o único capaz de derrotar Bolsonaro nas urnas.
“Ainda não posso dizer quem é que vai ser o vice. Só posso dizer que o vice não será um cara igual a eu. Será contraponto ao próprio PT. Alguém que possa ajudar na construção de uma coalizão”, disse Lula à rádio Liberal, do Pará, segundo reporta o jornal O Globo. O ex-presidente vem manifestando que quer o ex-governador Geraldo Alckmin para ser o seu vice.
Nós do PCO somos contra a presença de Alckmin na chapa de Lula. É preciso dizer que aliados direitistas como esse não são um pássaro de bico longo e belas penas, mas verdadeiros ratos, cuja presença na chapa de Lula pode debilitar sua campanha e, caso eleito, sabotar seu governo por dentro.
Lula é o candidato do nacionalismo burguês brasileiro que, em consonância com a tendência de países antiimperialistas como a China, Rússia e Venezuela, deve ser o candidato de oposição à política do imperialismo norte-americano na América Latina. Como aliado de setores como a China, Lula também deve representar um setor da burguesia nacional que depende do comércio com o país asiático para manter seus negócios. Nesse sentido, Lula se encontra atrelado a relações políticas internacionais que tendem a levá-lo à esquerda nessas eleições e num possível futuro governo, ainda que o faça nos marcos da política burguesa.
Essa tendência à esquerda, contudo, conflita com a política de coalizões com setores neoliberais, ligados ao imperialismo, como Alckmin e os tucanos. A contradição, sem dúvidas, tende a produzir um atrito que deve agir contra os interesses eleitorais de Lula.
Em lugar dessas amplas alianças, portanto, Lula deveria seguir a tendência de radicalização da sua política, chamando as massas petistas e os trabalhadores de um modo geral a se mobilizarem em favor de sua candidatura e de seu possível governo. Essa alternativa, que utiliza os métodos de luta revolucionários, é a única forma de o PT enfrentar os golpes que sofrerá da burguesia nessas eleições e, conseguindo se eleger, conseguir pressionar o Congresso apoiado na força do povo mobilizado e governar, ainda que com seu limitado programa nacionalista de reforma do capitalismo.
O apoio a Lula não precisa ser um apoio às suas opiniões, método e programa. Para um partido operário, revolucionário e comunista como o PCO, nem deve. O PCO, por exemplo, apoia a candidatura de Lula incondicionalmente, isto é, sem exigir nada em troca, resguardando para si o direito criticar, de apresentar seu programa, mantendo sua independência política.
Apoiar a candidatura do ex-presidente não significa apoiar o seu programa ou suas alianças, mas abrir o caminho para a evolução da consciência das massas, por meio da experiência concreta com seu governo diante da luta contra a burguesia golpista e a necessidade de impor uma derrota a Bolsonaro e aos direitistas que o colocaram no governo.
Não é preciso apoiar a presença de Alckmin na chapa para apoiar o próprio Lula e impor uma derrota, pela esquerda, a Bolsonaro e todos os golpistas nestas eleições. Essa é a posição que deveria ser assumida pelo restante da esquerda que, estando supostamente na luta pelo “fora Bolsonaro”, deveria apoiar, com seu próprio programa e bandeiras, o candidato com mais chances de derrubar o governo golpista eleito em 2018.
