O clima de “já ganhou” impulsionado pela imprensa burguesa e que atinge a esquerda já foi muito negativo no primeiro turno e deve ser evitado a todo custo neste momento. Prova disso é que a burguesia procura impulsionar esse clima o tempo todo. Seja através de movimentações do TSE, de notícias recentes ou das pesquisas eleitorais nada confiáveis. No entanto, a esquerda não deve confiar em nenhuma dessas instituições, que deram a demonstração do quanto são inúteis para a esquerda no próprio primeiro turno das eleições.
O fim do “caçador de fascistas”
O TSE, que nada mais é do que um puxadinho do STF, presidido por Alexandre de Moraes, procurou se apresentar como a instituição que faria com que as eleições corressem da forma mais limpa possível, também prometeram perseguir e eliminar qualquer vestígio de notícias falsas e mentiras ditas pelas campanhas eleitorais.
No período anterior às eleições, o próprio Alexandre de Moraes protagonizou episódios de censura e perseguição a diversas pessoas. A princípio, suas condenações absurdas atingiam preferencialmente os alvos bolsonaristas. Foi o caso de Daniel Silveira, Roberto Jefferson, Allan dos Santos e outros. Em todas essas situações, a esquerda pequeno-burguesa aplaudiu de pé as ações ditatoriais de Allexandre de Moraaes.
Em um dado momento, o STF atingiu até o PCO, derrubando todas as redes sociais oficiais do Partido, escancarando o que já havia sido dito pelo PCO repetidas vezes: todo recrudescimento da repressão e da perseguição irá, eventualmente, se voltar contra a classe trabalhadora. Mesmo assim, um grande setor da esquerda continuou se enganando, afirmando que aquilo era porque o PCO havia se indisposto pessoalmente com Moraes, o que era errado porque ele seria um grande lutador contra o fascismo.
Tudo isso mudou, no entanto, com a chegada do período eleitoral propriamente dito. Hoje é possível perceber claramente que as notícias falsas são ditas sem maiores consequências, os patrões coagem livremente os funcionários a votarem em Bolsonaro e muito mais selvageria é feita pelos bolsonaristas sem que haja nenhuma reação do judiciário. Findou-se o combate às fake news, à fraude e a todo o jogo sujo do bolsonarismo – na verdade, esse combate nunca existiu e isso fica claro agora.
O Partido da Imprensa Golpista
A imprensa burguesa cumpriu um importante papel na primeira etapa das eleições de deixar toda a base lulista desmobilizada. Foi graças às pesquisas por ela controlada que toda a esquerda caiu num clima de “já ganhou” e não fazer uma luta efetiva, nas ruas, pelos votos de Lula.
Nesse momento, ocorre o mesmo. Particularmente após o debate, muitas matérias saíram procurando demonstrar que Bolsonaro assumia uma postura derrotista, de que estaria irritado e não teria mais esperanças de vencer as eleições. Foi muito difundido o vídeo de Bolsonaro irritado após uma pergunta do jornalista da Folha, também se repercutiu muito a fala em que ele se compromete a aceitar o resultado eleitoral – “Quem tiver mais votos, leva”.
Sobre o debate, a equipe de Bolsonaro teria se sentido derrotada, enquanto a de Lula estaria comemorando. Também foi muito citado o caso de Fábio Faria e as rádios, em que houve um recuo de Bolsonaro.
As pesquisas eleitorais também seguem mostrando uma vantagem, ainda que pequena, de Lula sobre Bolsonaro. No entanto, não é possível acreditar nisso nem por um momento. Isso ficou evidente no primeiro turno das eleições. Lula esteve o tempo todo com uma vantagem de cerca de 15 pontos sobre Bolsonaro. No dia da apuração, Bolsonaro esteve na frente durante quase o tempo todo, com Lula conseguindo superá-lo nos últimos momentos, e ainda assim ficou apenas 5 pontos a frente de Bolsonaro.
Os patrões não estão com Lula
A confiança que setores da esquerda e do PT têm nessas instituições é um reflexo da crença absurda de que algumas alas da burguesia estariam apoiando a candidatura de Lula. Ao verem os posicionamentos de Ciro Gomes, Simone Tebet, Armínio Fraga, Marina Silva e outros capachos do que á de pior da política nacional, a favor de Lula, ficam confusos e acreditam que estão sendo apoiados pelo imperialismo.
No entanto, é preciso dizer claramente que o verdadeiro apoio da burguesia é sempre financeiro. A única coisa que os capitalistas têm para contribuir é com seu dinheiro. Os tímidos vídeos e notas de apoio emitidas declarando apoio em Lula que têm surgido de dentro do setor da burguesia mais alinhado ao imperialismo, não ajudam em nada a campanha de Lula.
Por outro lado, a burguesia financia de forma exuberante a campanha bolsonarista. Nos últimos dez dias, Bolsonaro recebeu mais de 30 milhões de reais em doações de pessoas físicas, sendo todas elas de mais de R$100 mil. Isso sim é um verdadeiro apoio burguês. Além disso, é preciso lembrar também que há mais de 1500 denúncias de patrões coagindo funcionários a votarem em Bolsonaro. Em todos os locais de trabalho do país, estabeleceu-se um verdadeiro clima de perseguição política contra quem se assume abertamente apoiador de Lula
Não se pode confiar, portanto, em nenhuma das instituições controladas pela burguesia. O clima de “já ganhou” que se procura estabelecer é para que muita gente, considerando que o jogo já está ganho, fique em casa, não vá votar e não vá mobilizar outras pessoas a votarem em Lula. A realidade é que está tudo indefinido. Lula é o candidato mais popular do país, mas os bolsonaristas estão agindo com tudo que podem no sentido de impulsionarem seu candidato, lançando mão de todos os expedientes sujos aos quais a burguesia tem acesso.