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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Independência à vista?

Morte da rainha pode resultar na total desintegração do Império

Reinado de 70 anos era um ponto de estabilização de um regime opressor, que agora perdeu sua principal figura

Em crise desde o Brexit, o Reino Unido segue em marcha ao próprio colapso e da rápida desintegração do país e do Commonwelth, resultado formal do império britânico. Após fracasso econômico retumbante na última década, de ter encampado uma luta fracassada contra a Rússia e de ter promovido uma política de guerra, levando a cabo a campanha contra Afeganistão, Iraque e Iêmen, os sintomas da metástase já se fazem presentes. Mal morreu a rainha Elizabeth II, seu filho, Charles III, sem popularidade, e embebido em escândalos, já mobiliza as colônias a buscarem independência.

Essa não é uma onda que vem de agora, na realidade há um movimento de libertação de relativa intensidade. Em 2021, Barbados, ilha caribenha, declarou-se república, afastando Elizabeth II como chefe de Estado em inusitada transição, realizada sob a presença do então Príncipe Charles, agora Charles III. Barbados já era independente desde 1966, e a declaração foi simbólica, porém agora já representa um movimento maior organizado por outros países.

Na Escócia, o movimento pela independência é muito forte, antes mesmo da morte da rainha. A primeira-ministra, Nicola Sturgeon, anunciou novo referendo para 2023. Em 2022, mais precisamente desde junho, o governo da Escócia vem preparando um plebiscito, liderado pelo próprio partido de Sturgeon, o Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês). O projeto sugere que a data do plebiscito seja 19 de outubro de 2023. O objetivo da legenda é que o país se torne um Estado independente, membro da União Europeia. A Escócia está sendo impulsionada a este movimento, a fazê-lo também com auxílio do imperialismo norte-americano, uma situação de grande contradição entre o desejo da população e do imperialismo.

Sturgeon é primeira-ministra desde 2014, e é uma das líderes do movimento de independência da Escócia. Em 2014, Sturgeon saiu derrotada de um referendo com acusações de fraude, vencido pela Coroa Britânica por pequena margem, 55% contra a independência contra 45% a favor, não demonstrado nem na opinião pública, nem pelos movimentos de rua, nem na insatisfação da população.

No Brexit também havia forte divisão, sendo a maioria contra o movimento, na Escócia, mas no final, a vitória foi da Coroa Britânica, onde a Rainha Elizabeth II não foi mera assinante de um tratado, mas uma voz atuante no movimento, chegando a discursar em 2019 sobre a necessidade do Reino Unido se separar de uma vez da União Europeia.

Sem dúvida que esse movimento colocou o povo da Grã-Bretanha, Irlanda do Norte, e o Commonwealth, no colo dos Estados Unidos, mas não se pode negar, que a legitimidade do reino está desgastada há mais tempo. Se por um lado, a Rainha Elizabeth II conseguiu unidade em função do carisma e experiência de 70 anos à frente do imperialismo britânico, por outro lado, Charles não impõe respeito suficiente, fazendo com que outra parte da imprensa imperialista faça uma campanha contra Charles, aproveitando-se de fatos concretos, mas ao mesmo tempo impulsionando a balcanização.

Crise do imperialismo

A rainha conseguiu manter relativa unidade aos países do bloco Commonwealth, muitos sentiam-se súditos de luxo, porém nada que impedisse protestos e movimentos de independência, já que a crise do imperialismo, especialmente do condomínio britânico, é bastante profunda. Com um rei impopular, evidentemente que as forças contraditórias se colocariam em choque. De um lado, o imperialismo norte-americano, impulsiona a imprensa internacional, de outro, a imprensa britânica, que tem se comportado em favor da queda do rei, não da queda do regime, e, não menos importante, as colônias que que defendem o republicanismo.

É o caso de Nova Zelândia e Austrália, onde o movimento republicano é grande, dividido em forças anti-imperialistas, mas fortalecido pelos primeiros-ministros, que são pró-imperialistas. Jacinda Ardern, do Partido Trabalhista, já declarou após a posse do Rei Charles III, que pretende cortar laços institucionais com a monarquia, embora cinicamente diga que não haja urgência para discutir isso no momento. Em entrevista, a pró-imperialista Ardern respondeu às perguntas sobre independência e afirmou “acredito que é provável que isso (independência) ocorra enquanto eu estiver viva, mas não vejo isso como uma medida de curto prazo ou algo que esteja na agenda tão cedo”. (O Globo)

O mesmo roteiro foi seguido por Anthony Albanese, primeiro-ministro da Austrália. Segundo Albanese, “não é o momento” para discutir a independência, embora seja um republicanista disse que não tem interesse de fazer referendo durante o mandato com chefe de governo da Austrália, que desviou o assunto dizendo que “agora é hora de prestarmos homenagem à vida da rainha Elizabeth, uma vida bem vivida. Uma vida de dedicação e lealdade, inclusive ao povo australiano”. Enquanto isso, o líder do pró-imperialista, Verdes da Austrália, Adam Bandt, já se manifestou em favor da discussão imediatamente após a morte da rainha via Twitter.

De acordo com uma empresa, a Essential, 44% dos australianos são favoráveis à proclamação da República, número menor que o último referendo australiano, em 1999, quando o número de australianos pró-República era maior. O referendo australiano teve participação de 95,10% da população, com 45,13% dos eleitores respondem “sim” à República, e os demais 54,87% respondem negativamente, ou seja, 6.410.787 pessoas.

Antígua e Barbuda, Jamaica, protestos já ocorrem há anos e a pressão é maior para a independência. Nesses países atrasados, os súditos, que não são de luxo (primeira linha do Commonwealth), se organizam em torno das manifestações de lideranças republicanas. Gastou Browne afirmou à imprensa que “Isso não representa nenhuma forma de desrespeito aos monarcas. Isso não é um ato de hostilidade, ou qualquer diferença entre Antígua e Barbuda e a monarquia. É um passo final para completar o círculo de independência para nos tornarmos uma nação verdadeiramente soberana”.

Essas demandas desnuda a crise do imperialismo britânico, expõe a crise econômica com inflação recorde nos últimos 45 anos, com aumento do desemprego. Os fatores se devem à própria condução do Reino Unido, que após a guerra no Iraque, quando mataram mais de 1 milhão de iraquianos, causando ônus à economia financeira, ajudando na debacle de 2008. Após a empreitada de guerra contra a Rússia, a situação do Reino Unido se agravou, pois as sanções se reverteram em mais crise. A Rússia suspendeu o fornecimento de gás e petróleo, elevando a inflação e resfriando os britânicos. Nenhum país quer viver tutelado por um regime que está em tamanha crise.

A esquerda e o 7 de setembro de ontem e de hoje  - Análise Política da Semana - 10/09/22

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