Desprezo pelo futebol

“Imune à Copa”: um novo termo para ignorância política

A esquerda pequeno burguesa não dá a mínima para a derrota da Seleção porque também não dá a mínima para o povo

Nos últimos anos, a esquerda brasileira abandonou uma parte importante do vínculo com a classe trabalhadora, entrando de cabeça na campanha imperialista contra o nosso futebol. Um dos maiores exemplos da história recente foi o vexaminoso “Não vai ter Copa”, que não era apenas uma política lamentável para desestimular a realização de um evento tão importante e jogar um balde de água fria em milhões de brasileiros que estavam ensandecidos para ver a Seleção jogar no próprio país. Era também uma política golpista, que visava desestabilizar o governo de Dilma, com manifestações e todo um movimento político organizado pelo imperialismo norte-americano. Não à toa, várias ONGs financiadas por verba estrangeira, pela Open Society, Ford Foundation (fachada da CIA), dentre outras, participaram ativamente dessa campanha golpista.

De lá para cá, um grande setor da esquerda passou a repetir igual papagaio tudo o que a imprensa capitalista mundial fala sobre o futebol e principalmente sobre o futebol brasileiro. Repetiram a baboseira de atacar um dos maiores craques brasileiros, Neymar. Não apenas isso, mas a Seleção como um todo foi alvo de ataques baixíssimos da esquerda, com os intelectuais da pequena burguesia praticamente torcendo contra o Brasil e, às vezes, torcendo por seleções europeias ou para a supostamente esquerdista.

Um exemplo é a filósofa Marcia Tiburi, que publicou uma coluna no portal Brasil 247 intitulada “Derrota”, onde se propôs a dar alguns pitacos após o Brasil ser eliminado.

A primeira coisa que chama atenção é que a colunista se propõe a falar da Copa, mesmo considerando que esteve “imune” ao torneio. É interessante observar como sempre aparece um analista para tudo. Afinal, emitir opinião ainda é gratuito. A própria Tiburi já inicia seu texto anunciando que vai falar sobre algo de que não conhece. Pelo menos nisso acertou e temos que dar a ela esse crédito. Disse a filósofa:

“A Copa do Qatar acabou mal para o Brasil.Além de uns gritos distantes e relances de algum jogo nas televisões espalhadas em bares e restaurantes, de umas fotos de Richarlison que eu gostei de conhecer, esta que vos escreve esteve imune à Copa.”

Os “gritos distantes”, “relances de algum jogo” e “umas fotos de Richarlison” demonstram um grande desdém para com a competição esportiva mais importante do mundo, que movimenta bilhões de dólares na economia e mobiliza milhões — ou até bilhões — de pessoas para assistir o grande espetáculo do futebol. No fundo, a filósofa da pequena burguesia não dá a mínima para o futebol, para um dos maiores motivos de alegria do povo brasileiro, é quase como se tivesse nojo do assunto. Fala como se fosse obrigada e desgostasse muito do esporte querido da população. Nada mais natural, pois é fato consumado que uma boa parte da classe média odeia o povo e tudo o que se refere a eles.

Em seguida, a analista repete um dos jargões imperialistas contra o país sede da Copa: “O machistérrimo Qatar é demais pra mim. O país me afastou mais ainda do futebol, ele mesmo um espetáculo da sociedade dos privilégios e da exclusão patriarcal”.

Junto com a campanha do “morreram 6.500 mil trabalhadores para fazer a Copa”, temos a de que o país é machista e homofóbico. No entanto, esse não é o maior problema do Catar. O país não exerce um papel de influência no mundo a ponto de bombardear e matar milhares de pessoas de uma vez, como fazem os Estados Unidos. Esses sim são os verdadeiros inimigos. O Catar, de fato, é uma monarquia com tradições que nós consideramos atrasadas, o que evidencia ainda mais que se trata de um país oprimido pelo imperialismo. Não vemos a esquerda fazendo essa campanha contra a Arábia Saudita, por exemplo, que é muito mais alinhada com o governo norte-americano. Aqui, Tiburi demonstra sua ignorância não só no futebol, mas no papel político que cada país exerce no mundo. A realização da Copa em países oprimidos é um embate dentro da FIFA e uma vitória desses países e isso vem ocorrendo desde a Copa de 2010, na África do Sul.

“Li alguns depoimentos de jogadores entristecidos, soube de crianças e pré-adolescentes arrasados com a derrota. Fiquei a pensar na derrota no país onde tanta gente não aceita uma derrota. A derrota é um limite importante que faz parte do jogo de futebol e do jogo da democracia. Imaginem se os jogadores derrotados acampassem diante das goleiras do lado direito dos campos e rezassem para a bola…”, continua Tiburi.

A autora aproveita para debochar do sofrimento do povo brasileiro, ao dizer que “ficou sabendo” da tristeza generalizada. E debocha ainda mais dizendo que a derrota teria algum valor, que é importante saber perder. Um desrespeito com milhões de brasileiros que mal puderam acreditar que esse título mundial que estava em nossas mãos nos foi tirado por um assalto orquestrado pelo imperialismo. E debocha ainda mais quando diz que “as derrotas têm uma dignidade”. Se fosse em condições de igualdade, poderíamos concordar. Agora, perder na mão grande, que dignidade poderia haver nisso?

Na sequência, aproveita para atacar os jogadores dizendo que eles não perdem nada com a derrota, que poderão continuar bancando bifes de ouro para sempre. E o que perderia o povo? Pergunta Tiburi.

“Ora, o povo que vibra com o espetáculo perdeu algo que é preciso perder: a ilusão. Perder a ilusão é algo tão maravilhoso que se assemelha a uma vitória. Nela mora a dignidade do fracasso que faz da derrota uma impagável experiência de conhecimento”, responde a filósofa, na sequência.

O texto de Tiburi é um escárnio com o sofrido povo brasileiro, que enfrentou mais uma derrota indevida. Essas frases filosóficas não servem de nada para apagar o assalto que a Seleção sofreu nessa Copa. Ao invés de denunciar a barbaridade contra o Brasil, a autora debocha e diz que é necessário aprender a perder.

Só uma pessoa que não tem o mínimo apreço pelo futebol falaria uma loucura dessas. Não entende o sofrimento do povo e não se solidariza com o mesmo. O papel que essa esquerda intelectualizada exerce é um desserviço para a classe trabalhadora. Atacam os jogadores, atacam o futebol e ainda se propõem a falar sobre um tema do qual possuem total desconhecimento e desgosto.

Quem nunca sofreu por futebol, por ver seu time perder partidas importantes, deveria se abster de comentar a respeito. Não entendem nada de futebol e não consegue entender que isso faz parte da nossa cultura e que nos faz brasileiros.

No fim das contas, é de fato um reflexo do modus operandi da pequena burguesia. Não gosta do povo e das coisas que o povo gosta. Reproduz a política do imperialismo como inocentes úteis, que não entendem um pingo do que está acontecendo e daquilo que está em jogo. Alguns o fazem por ignorância e outros por canalhice mesmo. Para Tiburi, podemos ao menos garantir com tranquilidade o quesito da ignorância.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Rolar para cima

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.