O ano de 2024 será palco das eleições mais importantes do mundo, a eleição presidencial do centro do imperialismo, os EUA. Em profunda crise política interna, o país tem por presidente um homem impopular para todos os setores, eleito em oposição a Trump, mas sem nenhum mérito próprio, Joe Biden. Frente à aproximação do pleito, um comitê do Congresso norte-americano, responsável por investigar a invasão do Capitólio feita por trumpistas no começo de 2021 — que acusaram fraude na eleição do ano anterior — recomendou a abertura de processo contra Donald Trump.
Representante de uma ala mais nacionalista da burguesia dos Estados Unidos, um setor mais fraco da burguesia daquele país, Donald Trump se notabilizou por declarações abertamente contrárias à política da ala mais imperialista da burguesia dos EUA. Falando contra as “guerras intermináveis”, contra a retirada de empregos nos EUA, Trump apela para a população revoltada com a crise econômica que chega até o núcleo do imperialismo.
O imperialismo, que levou uma campanha de frente ampla contra Trump em 2020, conseguiu vencer aquela eleição de maneira apertada, e não tem perspectiva real de vencer novamente em 2024. De lá para cá, a crise se tornou mais aguda, e a guerra na Ucrânia intensificou em todo o imperialismo a crise. Os países despejam dinheiro em armamentos para a Ucrânia manter a agressão da OTAN à Rússia, enquanto as pessoas passam fome e frio, sofrem com o desemprego em países industrializados. Esse fato já aprofunda a crise no seio do imperialismo, mais destacadamente na Europa, que vem se desindustrializando pela crise energética com a sanção à Rússia, em benefício dos EUA.
A burguesia financeira busca retirar Trump da corrida eleitoral antes que ela tenha início. Nos Estados Unidos, não existe uma restrição de campanha ao período eleitoral, ela começa quando os candidatos optam por iniciar, realizar comícios e etc. O processo contra Trump corresponderia a essa fraude eleitoral. Outra ferramenta do imperialismo é fraudar as primárias do partido Republicano. Grande propaganda vem sendo feita do governador da Flórida, o Republicano Ron DeSantis, que aparece com frequência na imprensa norte-americana.
A recomendação do Congresso tem caráter apenas simbólico, pois cabe ao Departamento de Justiça, na figura do procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, acatar a decisão. As acusações são de obstrução de um processo oficial do Congresso, apoiar uma insurreição, conspiração para fraudar o governo e conspiração com declaração falsa. Uma farsa completa, visto que o que ocorreu no dia 6 de janeiro de 2021 no Capitólio se tratou de um mero protesto, legítimo, de contestação de um processo eleitoral no mínimo estranho, com votação inclusive pelos correios (a eleição ocorreu no período da pandemia).
A eleição dos EUA ruma para um tapetão. Ron DeSantis não é um político popular, é uma figura artificial sem qualquer apelo e, pior, se trata de um torturador, que trabalhou na base militar de Guantánamo. A propaganda, no entanto, é tão forte, que se vê até na imprensa pró-imperialista no Brasil elogios rasgados ao “substituto de Trump”.
Trump, ao fim e ao cabo, expressa a polarização política, a crise econômica do imperialismo. A proibição de um candidato não irá acabar com a crise, mas a deixará mais intensa, porque o regime apodrecido vai continuar, com suas instituições falidas e políticas anti-populares. Nas últimas eleições presidenciais, Joe Biden foi emplacado mas, de lá para cá, a situação piorou, e a ala principal do imperialismo se desmoralizou ainda mais: foi obrigada a fazer promessas que não cumpriu de maneira descarada, como a suspensão das dívidas estudantis, um problema sério nos EUA. Conseguirão, novamente, enganar toda a população? E, caso consigam, o que isso irá custar ao maior bastião do imperialismo no planeta, em termos de sua crise política interna? A crise está aberta e não demonstra qualquer sinal de arrefecimento.