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Ditadura do cancelamento

Identitários são tigrões com Monark e tchutchucas com Bolsonaro

Histéricos partiram com tudo para cima do apresentador por uma fala e ignoram completamente ações do presidente de extrema-direita

O identitarismo se parece com uma Malhação do Judas, ou aqueles bonecos de vodu. Na impossibilidade de atacar um objeto, se investe contra sua imagem ou símbolo. Uma outra analogia possível é a do sujeito covarde que, por conta da surra que levou de um valentão, se vinga batendo em seu irmão mais novo.

No caso da Malhação do Judas, pelo menos, se trata de uma festa popular muito antiga que, de certa forma, nos locais onde ainda persiste, virou uma espécie de diversão na qual participam crianças e adultos. No caso do identitarismo, a coisa é mesmo o diversionismo, o desvio do foco do objeto principal para um secundário é proposital. Trata-se de uma política pensada para esse fim.

A Malhação do Judas – Rio Antigo

Talvez pudéssemos nos arriscar um pouco na psicanálise e admitir que uma das funções do identitarismo é a da sublimação, a transformação de um impulso, uma energia, potencialmente perigosos, em algo socialmente mais aceitável. Por exemplo: em vez de se atacar a polícia que diariamente trucida homens negros, só no Rio de Janeiro, um negro é assassinado a cada quatro horas, os identitários levam as pessoas a descarregarem sua raiva em estátuas de pessoas que há séculos teriam sido escravagistas. Assim, a polícia continua protegida da ira popular.

Borba Gato

Em julho de 2020, em São Paulo, identitários tentaram incendiar a estátua do bandeirante Borba Gato, na região do bairro de Santo Amaro. A desculpa apresentada é que em espaço público não se poderia exibir a imagem de um homem que teria sido um verdadeiro genocida, escravizador e estuprador contumaz. Sua imagem causaria (supostamente) sofrimento nas pessoas de descendência africana que transitam pela região. Imediatamente, se iniciou um debate na grande imprensa e na progressista; nas redes sociais, acadêmicos escreveram longos artigos e polemizaram em lives sobre a legitimidade do incêndio.

A coisa chegou a um extremo, a um non sense, que pessoas questionaram se o Brasil deveria ou não existir; e outros sustentaram que não haveria problema no ato de vandalismo porque a estátua de Borba Gato seria feia, ou melhor, de gosto duvidoso, não se tratava de uma obra de arte.

Ao contrário do que parece, todo esse caos é um incêndio controlado, como aqueles que se provoca nas matas para evitar que o fogo se alastre de verdade. É fogo para combater o fogo. Toda a energia que deveria ser gasta no enfrentamento popular com as instituições se converte em debates, textos, vídeos, lacrações e cancelamentos.

Existe ainda um subproduto disso tudo que se chama oportunismo. Essa figura é aquela que usa o movimento para galgar degraus na sociedade. Pode conseguir notoriedade, verbas para pesquisas acadêmicas, financiamento de fundações estrangeiras, viagens para congressos, seguidores nas redes. Alguns despontam para a política e, no final das contas, a luta geral é direcionada para as vantagens individuais.

Bolsonaro x Monark

A última vítima do identitarismo e do linchamento nas redes sociais é Bruno Monteiro Aiub, o Monark, (ex)apresentador do podcast Flow, um dos mais famosos no Brasil. Em um programa, no qual entrevistou Tabata Amaral (PSB) e Kim Kataguiri (Podemos) – deputados federais –, Monark defendeu que se no País existem partidos de extrema-esquerda, não veria problema se também houvesse um partido nazista. Imediatamente começou a grande onda “lacradora” nas redes. Os apresentadores do Flow são notórios porque defendem a liberdade de expressão, que cada um pode pensar e se expressar como bem entender, em nenhum momento Monark defendeu que deveria se fundar um partido nazista, ou fez defesa do nazismo. Mas, na cultura do cancelamento, isso é o que menos importa.

O clamor nas redes sociais é que se processe e prenda Monark por apologia ao nazismo. Kim Kataguiri, deveria perder o mandato por ter concordado com o youtuber. Fez-se uma enorme festa com a perda de patrocinadores do programa. Praticamente ninguém se preocupou em levantar a ficha corrida dessas empresas que vão de prostituição a envolvimento com trabalho escravo.

Por falar em ficha corrida. Jair Bolsonaro, o presidente ilegítimo, fez apologia de tudo quanto é coisa: metralhar petistas; posou em foto ao lado de Beatrix von Storch, neta de antigo ministro de Hitler. Bolsonaro posou também ao lado de sósia de Hitler. Ameaça constantemente golpe militar e o que lhe acontece? Absolutamente nada.

Jair Bolsonaro abraçado a Beatrix von Storch e ao marido dela, Sven von Storch

O STF segue o exemplo: em vez de atacar o alvo principal, Bolsonaro, parte para cima de alvos secundários para saciar a sede de sangue identitária. Por exemplo, coloca na cadeia figuras insignificantes da extrema-direita como Bob Jefferson, Daniel Silveira, Sara Winter. Assim, esses golpistas aparecem como defensores da democracia e ganham aplausos da esquerda.

Tchutchucas

A esquerda identitária se levantou em armas contra Bolsonaro quando este disse, na Hebraica no Rio de Janeiro, que se pesava quilombolas em arrobas e que se tratava de um bando de preguiçosos? Os identitários foram para as ruas exigir sua saída da presidência? Não. No máximo fizeram algum barulho nas redes sociais e logo se esqueceu do assunto. A esquerda mal tem vontade de sair às ruas pelo Fora, Bolsonaro, boicota o quanto pode. Pior, tem se empenhado em trazer a direita para dentro das manifestações de esquerda. Os mesmos que hoje querem a cabeça de Kim Kataguiri estavam ontem no ato do MBL tentando “unificar” o movimento.

O identitarismo é uma doença que deve ser combatida e expulsa do movimento operário. Trata-se de uma ideologia importada dos EUA que tem a finalidade de bloquear a verdadeira luta das mulheres, negros e demais minorias. Tentam transformas as lutas políticas em problemas morais. Mentem quando sustentam que se pode mudar a sociedade ‘educando’, mudando o pensamento das pessoas. Eles sabem que a educação, no capitalismo, vai de mal a pior, a cada dia se educa menos. O negócio dos identitários é queimar estátuas de personagens de ontem, quando os índios de hoje têm suas casas de reza queimadas por jagunços e nada se faz.

Ao contrário dos identitários, que querem dar mais poder para o Estado e que o governo fascista aplique a lei contra fascistas, coisa que nunca vai acontecer, a classe trabalhadora é a única força capaz de derrotar a extrema-direita e emancipar todos os setores oprimidos da sociedade.

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