Nesta última semana, uma bela história de amor ocorreu na Cúpula das Américas, uma inclusive, tão sigilosa que nenhum jornal da burguesia ousou desafiar e tirar das escuras. Entretanto, caro leitor, faço essa matéria para expor as ousadias dos participantes, e mostrar que, na realidade, as relações amorosas nas novelas da política podem ter finais trágicos não só para os envolvidos, mas, sem a devida atenção, para toda a população.
Abertura e a suruba na Cúpula das Américas
O evento começou na quinta-feira. Biden, nosso galante protagonista, estava com os poucos pelos que lhe restavam por causa da velhice arrepiados. Tinha acabado de receber a notícia de que alguns de seus convidados estariam ausentes. Biden sabia que a culpa era sua e não sabia as possíveis consequências de um novo fracasso em seu governo durante a derrota que vem sofrendo na Ucrânia contra os russos.
Mesmo assim, estava confiante nas suas decisões. Não poderia, de forma alguma, convidar o governo de Cuba, Venezuela e Nicarágua para a Cúpula. Esse foi o motivo da rachadura diplomática que levou outros convidados a cancelarem a participação.
Era óbvio: Poucos iriam aceitar o argumento de que essas nações não poderiam participar por infringirem os direitos humanos e os princípios democráticos americanos. Entretanto seria ainda pior se elas participassem e mostrassem a fraude destes mesmos princípios. Seria uma crise de qualquer maneira. E Biden sabia disso melhor do que ninguém.
O governo mexicano disse que não participaria. Em seguida, as lideranças da Guatemala e de Honduras disseram o mesmo em protesto. Biden sabia que correria algum risco, só não esperava que os países centrais para a discussão da imigiração estariam ausentes no evento. Isso complicaria suas propostas sobre o tema.
Biden também estava com nervos à flor da pele pois não sabia como os presentes iriam reagir a sua presença. Sabia que se houvesse alguma revolta e a situação piorasse, seus problemas cardíacos não iriam perdoar. Assim, nos últimos minutos, encaminhou sua vice, Kamala Harris, para fazer o discurso inicial, que aceitou sem nenhuma hesitação e dirigiu-se ao palco. Se tem uma coisa que relaxa Biden é ser tratado como um sério, poderoso e respeitável presidente dos Estados Unidos.
Depois de Harris, falou Pedro Castillo, presidente do Peru, que acalmou Biden ao se colocar como um verdadeiro capacho e dizer o lema da Doutrina Monroe no final de sua fala: “América para os americanos”. A situação estava mais estabilizada, e Biden não teve problemas ou precisou de ajudantes e andadores para subir no palco desta vez. Mas a calmaria durou pouco, assim que Biden subiu no palco começaram as vaias. Algumas pessoas estavam indignadas não só com o fracasso do seu governo, que foi expulso do Afeganistão e agora perde para os russos, mas com a sua decisão de excluir Cuba, Venezuela e Nicarágua.
Enfim, os protestantes logo foram retirados, antes de qualquer reação mais grave de Biden. E as falas que se seguiram em defesa da “democracia”, do “clima” e das “instituições” pareceram acabar com o clima de revolta. Boric, inclusive, uma das principais pretendentes de Biden, chegou a concordar com a medida do presidente dos EUA em excluir as nações consideradas “autoritárias” e “policiais contra o povo”.
A realidade é que o evento em si é, nos termos desta matéria, uma grande suruba. Boa parte do que acontece são países firmando sua posição de subordinação dos Estados Unidos, e puxando o saco de Biden para serem as “cadelinhas favoritas”. Todavia, gostaria de destacar uma dessas cadelinhas e suas promessas de amor que são um pouco mais picantes e que muito esclarecem sobre a política nacional.
Biden e Bolsonaro: entre tapas e beijos
Mesmo com a abertura calorosa, uma das grandes estrelas e paqueras mais picantes de Biden não estava presente: Jair Messias Bolsonaro. Bolsonaro, a ilustre e insolente dama dos sonhos que Biden quer tomar para si, responsável pelo segundo maior país da América, se planejou para chegar apenas na sexta-feira, um dia após a abertura.
Biden, que não poderia deixar de cortejar a bela dama, chamou-a para uma reunião bilateral antes de sua entrada no evento. “Não aconteceria, eu não estava previsto para vir aqui. Ele [Biden] mandou um enviado especial para lá [Brasil] e acertamos a agenda”, como afirmou Bolsonaro.
O encontro estava marcado por ambiguidades. Bolsonaro, insolente como sempre com seus donos, levantava a necessidade de discutir sobre as urnas eletrônicas e sobre a liberdade de expressão, temas complicados para Biden, que se colocou em defesa das urnas e da democracia golpista brasileira. Mesmo assim, Bolsonaro saiu maravilhado da reunião.
Ele definiu a “experiência” como “simplesmente fantástica”. “Estou maravilhado e acreditando em suas palavras e naquilo que foi tratado reservadamente entre nós”, declarou. Ora, ninguém sabe de fato o que aconteceu entre eles, mas Bolsonaro deu uma pista: “É igual a um casamento, você vai aceitar os meus defeitos, eu vou aceitar os seus e vamos ser felizes”.
Aqui, indo além das brincadeiras, fica claro. Bolsonaro, por mais repugnante e insolente que seja, é uma das principais alternativas da burguesia para dominar o Brasil. Por um lado, o imperialismo diz que as eleições no Brasil são confiáveis, o que limita a investida de Bolsonaro contra as urnas; por outro, o encontro de Bolsonaro e Biden foi uma mais do que uma reaproximação, foi a “consolidação” de uma aliança mais forte, como relatou o próprio Bolsonaro. Ainda que o imperialismo deseje um candidato mais profissional para aplicar sua política neoliberal, está junto com Bolsonaro para combater Lula e a classe operária brasileira.
Inclusive, dados mostram que Bolsonaro pediu ajuda à Biden para combater Lula, argumentando que ele seria um problema para seu futuro casamento e para o governo dos EUA. De acordo com o jornalista Eric Martin, da Bloomberg: “O presidente brasileiro Jair Bolsonaro pediu ajuda ao presidente dos EUA, Joe Biden, em sua candidatura à reeleição durante uma reunião privada à margem de uma cúpula regional nesta semana, retratando seu oponente de esquerda como um perigo para os interesses dos EUA, segundo pessoas familiarizadas com o assunto”
Finalmente, Biden e todas as suas noivas e amantes estão à serviço do imperialismo e de sua política destrutiva. Não importa sua “personalidade” ou “características particulares”, seja Boric – o jovem tatuado e estudante descolado da esquerda – ou seja, Bolsonaro, ambos irão apoiar aquilo que seus padrões ordenarem. Biden, as instituições brasileiras, a terceira via, Bolsonaro e até parte da esquerda são todos engrenagens fundamentais para golpear novamente Lula em 2022. Não se trata apenas de uma ficção ou de uma mera ficada, para combater Lula e a classe trabalhadora, a burguesia vai se utilizar de todas suas armas.