Neste domingo, 28, a Colômbia escolherá seu novo presidente e Gustavo Petro, candidato da esquerda colombiana, lidera as pesquisas para desespero do empresariado e da burguesia. As eleições foram marcadas por violência e muita tensão porque podem diminuir significantemente a influência dos EUA na região, já que o país é tido como um “quintal” do imperialismo norte-americano.
A imprensa Causa Operária entrevistou um cidadão colombiano, que vive e estuda em Minas Gerais sobre quem é Gustavo Petro e por que a direita não quer que ele ganhe. Acompanhe seu relato:
DCO – Olá Claudio, agradecemos a sua colaboração com nosso diário, para começar, você poderia nos dizer que é Gustavo Petro?
Cláudio – Oi, muito obrigado pelo convite, acho interessante conversar com você. Também estou com suas causas.
Diário – O que vc faz aí na UFMG?
Cláudio – Faço pós-doc na UFMG, eu sou físico, com mestrado na Espanha na área da física médica e doutorado aqui pela UFMG nas ciências das radiações. Meu alvo é estudar efeitos biológicos devido à exposição a radiação desenvolvendo novos modelos radiobiologicos. Faço estudos in vivo, in vitro e modelagem computacional. Agora estou no terceiro ano de pós-doutorado. “Tenho um pouco de saudade” de pensar que terei que “ir” de Brasil, aqui fiz muitos amigos, gente boa que levo no coração.
DCO – Você é colombiano?
Carlos – Sou sim e justamente por isso tento não dar muitos dados, imagino que você entende a situação real da Colômbia
DCO – Sim, entendemos sim.
Carlos – Toda pessoa contrária as ideias do regime é alvo de ameaças, aqui no Brasil tem muito colombiano agiota que trabalha conjuntamente com máfias que pertencem ao regime colombiano e são parceiros do governo ou de milícias aqui, infelizmente essa violência está se acentuando aqui no Brasil. Nossos países precisam muitas reformas, para evitar tanto sofrimento
DCO – Reformas ou revolução?? Reformas não darão conta
Carlos – Gosto da revolução mas acho que precisamos uma meta alcançável, precisamos com urgência tirar poder dos violentos.
DCO – Qual é o cenário real para Gusstavo Petro hj na corrida das eleições?
Carlos – Muito provável. Teoricamente tem os votos para ganhar em primeiro turno. Porém as consequências disso ainda não sabemos.
DCO – Quem é Gustavo Petro, na visão de um colombiano?
Cláudio – É um homem de origem da “clase meia”
DCO – Ele é operario? A direita traz uma visão de guerrilheiro violento dele, isso é verdade?
Carlos – Não, a história do Gustavo Petro não é simplesmente de um guerrilheiro. Debater este tema das eleições da Colômbia com uma jornalista é importante, principalmente para o trabalho que vocês fazem.
O movimento M-19 do qual fez parte Gustavo Petro nasceu por um fraude eleitoral em 1970. Os fundadores do movimento inicialmente foram filhos ou netos de Generais das Forças Armadas da Colômbia que não aceitavam a maneira como um setor da elite queria manter o poder. Depois, com o tempo, outras pessoas que foram perseguidas pelo regime criminoso começaram se integrando nesse movimento porque eram alvo de ameaças e tortura. Este foi o caso de Gustavo Petro. Essa é a verdadeira história dele.
Ele foi refugiado nesse movimento mas não foi guerrilheiro … sua intenção era porque a Colômbia nunca foi uma verdadeira democracia. A luta do movimento M-19 conseguiu que em 1990 o governo neoliberal de Virgílio Barco aceitara uma nova constituição onde a Colômbia se transformou em um Estado Social de Direito.
Por enquanto é só de papel mas deixou a base para que com um governo de progresso todo aquilo que está escrito nessa nova constituição seja cumprido. A nova constituição foi formulada em 1991 e baseia o Estado nos direitos fundamentais para os cidadãos que são considerados pessoas e não são exclusivos de só naturais colombianos. Toda pessoa é alvo de direitos sem importar de onde seja, cor de pele, gênero, religião ou qualquer diferença que exista.
Infelizmente quase 31 años depois muitas das coisas ali definidas não se cumpriram ainda porque nunca tivemos um governo que garanta o cumprimento da constituição.
Hoje as mulheres tiveram uma conquista histórica sobre seus direitos sexuais e reprodutivos justamente porque a Corte Constitucional reconheceu a mulher como dona de seu corpo e só ela tem a única autoridade sobre seu corpo e não pode se impor sobre ela elementos de juízo morais, religiosos, nem científicos, desde que entretanto isso não coloque em risco a vida da mulher. A Corte aceitou que as mulheres podem interromper a gravidez até a semana 24 de maneira voluntária. Por outro lado, foi escolhido esse número de semanas porque depois desse momento o feto já é viável para a vida e pode nascer sem necessidade da mãe. (Corte no espanhol é igual a Tribunal Superior aqui no Brasil)
Outra conquista dessa constituição foi faz pouco tempo o reconhecimento da eutanásia, que é o direito de morrer dignamente, principalmente para aqueles pacientes terminais e doenças catastróficas. Invés de esperar que a pessoa morra sofrendo, é possível agora que ela possa ser acompanhada pelo pessoal médico com medicamentos que acelerem o processo sem sofrimento para o paciente.
Tudo isso foi conseguido pelo movimento no qual ele, (Petro), foi membro, então não é uma questão simples de falar de uma guerrilha, a história real é muito mais aprofundada e muita pessoas morreram nessa luta de exigir uma nação baseada em direitos.
Este domingo um dos autores da maior conquista que tivemos vai se transformar no presidente do país levando em consideração que tudo aquilo escrito na Constituição deve ser cumprido.
Outra coisa que já falou é que, uma vez que Lula “seja” o presidente e “faça” a posse, vai formalizar uma visita presidencial para fortalecer nossa união para continuar estruturando todos os tratados e acordos do espaço Mercosul para ser transformados em uma organização de ordem supranacional igual ao que acontece na Europa com a União Europeia.
Isto vai homologar todo o bem-estar social para que os cidadãos de nossa esfera regional possam transitar e morar livremente se beneficiando dos mesmos direitos e serviços desde Argentina até o México. O projeto de Petro se enquadra completamente com um objetivo regional e a visão brasileira do Mercosul.
Esse ano vai ser nosso momento e vamos voltar para continuar construindo nosso barco comum chamado América, esse é nosso origem, essa é nossa terra, essa é nossa bandeira.
DCO – E porque esse clima de violência durante as eleições na Colômbia?
Cláudio – Porque a mafia não quer deixar o poder, eles não tem povo ao lado deles.
DCO – Muito obrigado.
Cláudio – De nada, quando quiser combinamos e continuamos falando. Eu irei para votar aqui em Belo Horizonte esse domingo e fazer parte de uma nova história!
DCO – Boa sorte Cláudio e toda a Colômbia!
