Já é fato notório que esquerda decidiu abdicar de comandar os estados. No caso do PT, desde o primeiro turno fez diversas alianças em nome da velha política de coalizão. No Rio de Janeiro, o PT ficou a reboque de Marcelo Freixo, do PSB, que sequer apoiou Lula no segundo turno.
Na realidade, o PT foi bem-sucedido somente com Elmano de Freitas, pelo estado do Ceará, Rafael Fonteles (PT), pelo Piauí, e Fátima Bezerra, no Rio Grande do Norte que venceram no primeiro turno. Além desses, venceu em segundo turno Jerônimo Rodrigues, na Bahia.
Os demais nove candidatos, a saber: Décio Lima, em Santa Catarina; Edegar Pretto, no Rio Grande do Sul; Fernando Haddad, em São Paulo; Giselle, no Mato Grosso do Sul; Jorge Viana, no Acre; Paulo Mourão, no Tocantins; Requião, no Paraná; Rogério Carvalho, em Sergipe; Wolmir Amado, em Goiás, perderam. Desses candidatos, somente quatro concorreram ao segundo turno, com apenas uma vitória, na Bahia, já mencionada. O que tinha de comum com quase todas as chapas com o PT na cabeça é ter um direitista tiracolo.
Além do PT ter abdicado de vencer nos estados, apoiando partidos de direita como o PSB (Freixo), Solidariedade (Marília Arraes), MDB (caso do Pará com Hélder Barbalho) e PSD (Kallil); o PT e a esquerda de conjunto inovaram e decidiram apoiar candidatos da direita supostamente como mal menor.
O caso do apoio à Marília Arraes (SD) é um dos casos mais flagrantes. Os acordos costurados visavam colocar o PSD no mesmo palanque de Marília e selar a paz, mas na realidade, o PSD ficou com Raquel Lyra, na prática, canalizando diversos votos inclusive de petistas à candidata do quase morte, PSDB.
Mas, nenhum caso mais aberrante que o apoio ao candidato novamente eleito, Eduardo Leite, que seria candidato à presidência pelo PSDB e pela terceira via. Leite foi tão incensado neste ano que chegou a se declarar gay no programa de Pedro Bial, porta voz do imperialismo da rede Globo. Antes de viabilizarem Simone Tebet como candidata da terceira via, Leite era o nome mais forte para combater Lula.
Contudo, no Rio Grande do Sul, a esquerda não elegeu Pretto para o segundo turno devido à baixíssima mobilização e pela política do “já ganhou”, de modo que Leite assumisse seu posto para concorrer ao segundo turno. Mas isso não parece ter sido um problema para a esquerda gaúcha. Em nome do combate ao espantalho do bolsonarismo, o PT declarou apoio a Leite, sem qualquer contrapartida, inclusive fazendo o trabalho militante que não fizeram no primeiro turno.
Muito mais que uma política de capitulação, a esquerda perdeu o foco tático de campanha. São Paulo é um dos maiores exemplos dessa política, fizeram acordo com o PSB, uma sublegenda do PSDB, a fim de “conquistar” o Estado mais importante do Brasil. Deste modo, Márcio França foi o candidato apoiado pelo PT ao senado federal e a esposa dele, a vice de Haddad. Nada disso foi suficiente, o PT perdeu e ainda amargou um vice do PSB, Geraldo Alckmin, como vice de Lula na presidência.
Voltando ao caso gaúcho, Leite não apoiou Lula, não o apoiou e ainda mantém vivo o PSDB, partido que setores do PT tem forte apreço, muitos políticos do PT dizem inclusive que a ala “tradicional” do PSDB faziam o “bom combate” político, “civilizado”. O próprio Haddad é partidário dessa política de alianças com o PSDB, que parece estar avançando na direção de recuperar o partido mais pró-imperialista que o Brasil já teve. Sem dúvida que o PT de São Paulo e do sudeste de modo geral, deu péssimo exemplo, despolitizando a esquerda, confundindo o panorama para uma eleição conduzida e orientada pela política capituladora do mal menor.
O identitarismo também deve ser mencionado para esse tipo de política do mal menor. A alta penetração do identitarismo no Partido dos Trabalhadores contribuiu muito para a confusão. Pelo fato de Onyx Lorenzoni ser representante do bolsonarismo e ter expressado comentários considerados homofóbicos, amplificou nas fileiras da esquerda, a forte vinculação com a defesa do Bolsogay, pois o fato de Leite ser homossexual, não o faz menos bolsonarista que Lorezoni.
Mesmo com toda política de organização de derrotas, o PT foi o partido que mais venceu estados no Brasil, com quatro governos, ampliou o número de deputados, assim como o suposto aliado PSOL, mas a tática não favoreceu a politização da militância, que poderia levar a uma vitória maior, apesar da tentativa franca de golpe, por intermédio da Polícia Rodoviária Federal, polícias de modo geral e Exército, que fizeram barricadas (não fiscalizações) para impedir o povo a votar. O que o PCO já sinalizava, que seria uma vitória apertada (caso Lula vencesse), acabou acontecendo. Politizar com um programa dos trabalhadores é o melhor caminho para a vitória, não a confiança em articulações com oportunistas.