Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Povo no divã

Educação política: uma tarefa urgente

É útil para uma burguesia que defende a democracia da boca para fora que o fascista seja visto como "doente mental" ou "burro"

Numa breve pesquisa pela internet sobre o que se diz na imprensa sobre o fascismo, salta aos olhos um texto muito curioso, intitulado O jogo de linguagem fascista, que aparentemente dá o suporte teórico para chamar boa parte da população de “gado”. Trata-se de um arrazoado de autoria da “filósofa” Marcia Tiburi, que, vazado no estilo acadêmico-engajado, dá um ar de sofisticação ao que diz o senso comum – no caso, empresta certo glamour à ideia de que dentro de cada pessoa mora um fascista em potencial.

Ficamos assim sabendo que “fascismo” é “uma expressão que vem sendo usada para definir formas espetaculares de exposição de preconceitos raciais, sexuais, de gênero, de classe e vários outros ao nível do cotidiano concreto ou virtual”. Para não dizer que não falou das flores, Tiburi diz que até podemos “lembrar do [sic] fascismo italiano e sua imitação dos rituais de poder da Roma antiga”, mas “o fenômeno atual caracteriza-se por explosões de ódio que causam espanto a quem olha o mundo e a sociedade em termos democráticos”. Assim, o fascismo “atual” seria não um fenômeno político, mas a eclosão de um mau comportamento, em geral manifesto no chamado “discurso de ódio”.

O fascista seria, portanto, o vizinho, o maluco que xinga os outros na internet ou que rechaça as teorias de identidade de gênero, a pessoa “preconceituosa” e, finalmente, como conclui Tiburi, gente “burra”. Segundo ela: “Impotente para a compreensão do outro, para perguntar, para mudar de ideia, resta-lhe tentar sentir-se sempre cheio de razão.  A impotência para o questionamento tem um nome metafórico cuja validade técnica, infelizmente, foi banalizada. Trata-se da burrice como impotência não apenas relativa ao saber sobre as coisas, mas relativa ao outro que sempre nos serve de espelho”.

Reconhecemos um fascista, segundo Tiburi, por meio de “sua expressão verbal, gestual ou prática”. À luz desse raciocínio, o “fascista” existe independentemente do fascismo. Ele só precisa de um líder que desencadeie suas manifestações de ódio recalcado, como se acionasse o detonador de uma granada. Tal análise, no entanto, passa ao largo das condições políticas que levam ao surgimento ou ao ressurgimento do fascismo, jogando sobre os ombros de indivíduos psicologicamente suscetíveis ou, quem sabe, perturbados a responsabilidade por algo que só existe porque está a serviço da burguesia.

Enquanto a esquerda pequeno-burguesa vai ao delírio com o palavrório da Márcia Tiburi e de seus colegas das universidades, a burguesia vai avançando sobre os direitos dos trabalhadores. É muito útil para uma burguesia que defende a democracia da boca para fora que o fascista seja um doente mental, um burro, um pária, um seguidor tresloucado de Jair Bolsonaro, o qual, por sua vez, teria chegado de Marte e arrebatado os recalcados com seu discurso de defesa da pátria e da família.

Segundo essa análise, metade da população brasileira é composta de pessoas decentes, que querem o amor e o bem da humanidade, enquanto a outra metade pasta no relvado. Assim, caso houvesse um bom divã para cada ruminante deste país, o fascismo não floresceria. O problema, na ótica tiburiana, estaria nos indivíduos, não nas classes.

Por essas e por outras é que a direita autodenominada civilizada está cada vez mais parecida com certa esquerda. Enquanto esta, em seu impulso narcísico-universitário, produz e reproduz essas baboseiras, a burguesia parasitária usa todos os métodos, inclusive o fascismo, para oprimir o povo e, com isso, aquinhoar partes cada vez maiores do seu trabalho. Educação política é uma tarefa urgente, que passa longe desse falatório.

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