A população sofre com a manipulação da burguesia. Através da sua imprensa, os capitalistas divulgam as ideias que garantem seu domínio sobre o povo. A esquerda, ou melhor dizendo, as direções das organizações da esquerda, deveria combater essa manipulação. Explicar, denunciar, informar.
O que vemos ultimamente, no entanto, é que a esquerda pequeno-burguesa é a primeira a acreditar nas manipulações da burguesia. É o que está acontecendo nas eleições deste ano.
Agora, a popularidade de Lula é incontestável. Esse fato já foi contestado pela esquerda pequeno-burguesa quando o ex-presidente foi vítima das calúnias e mentiras da imprensa, sendo preso pela operação Lava Jato. Quem não se lembra do “Lula livre não unifica”, dito por Marcelo Freixo quando ainda estava no PSOL?
Não há dúvida que Lula é popular e que a vontade do povo é elegê-lo. Isso não significa, no entanto, que a direita vai deixar isso acontecer tranquilamente. Sem mobilização, a vontade do povo não se impõe. A esquerda deveria saber disso, mas desde o início do processo eleitoral, anestesiada pelas pesquisas eleitorais, um otimismo infundado toma conta da esquerda.
Quando falamos pesquisas eleitorais estamos falando de imprensa burguesa. É o monopólio da imprensa que controla essas pesquisas. De antemão, a esquerda não deveria acreditar nelas.
A esquerda pequeno-burguesa ficou anestesiada com as pesquisas, mas não foi só isso. Os ataques da imprensa contra Bolsonaro também fizeram acreditar que a burguesia teria decidido apoiar Lula. O mesmo efeito produziu a política do STF e de Alexandre de Moraes, que fez a esquerda acreditar que o bolsonarismo seria parado por meio das instituições golpistas.
Uma onda de otimismo tomou conta da esquerda pequeno-burguesa. A maior demonstração disso foi a campanha de que Lula poderia ganhar ainda no primeiro turno. Que a eleição já estava ganha. Na linguagem do futebol, a esquerda foi para a eleição de “salto alto”. O resultado desse otimismo infundado, fruto da ilusão difundida pela burguesia, foi uma eleição que terminou muito apertada no primeiro turno, com Bolsonaro ganhando em estados onde a pesquisa apontava a vitória de Lula, como São Paulo.
Se antes o otimismo era um perigo, agora virou caso clínico.
O segundo turno das eleições mostra um cenário muito complicado para a esquerda. Bolsonaro não apenas aparece quase empatado com Lula como está claro que ele tem o apoio da burguesia, ou ao menos do setor mais importante da burguesia.
Mesmo com esse cenário muito grave, há setores da esquerda que apostam num otimismo forçado, distante da realidade, para “animar a tropa”. É como dar uma droga para uma pessoa que está passando dor e pode morrer para ela se alienar da realidade dura. Mas em política isso não funciona. O otimismo sem fundamento serve à derrota e leva à desmoralização da esquerda.
A política correta sempre é mostrar a realidade e denunciar, chamando o povo a reagir. O otimismo infundado é prostração, é a ausência de luta.
Nesse momento, é preciso denunciar, por exemplo, que há uma mobilização patronal para eleger Bolsonaro. O risco é enorme e o povo precisa saber disso para reagir. Os trabalhadores precisam reagir diante das milhares de denúncias de assédio dos patrões.
O revolucionário precisa dizer a verdade ao povo. A informação falsa para “animar a tropa” na verdade serve para desnorteá-la. Leon Trotski afirmou que a verdade deve ser dita às massas, por pior que seja. Lênin explicou que a verdade é sempre revolucionária.
É esse o espírito que devemos ter nesse segundo turno. Mostrar a realidade ao povo e chamá-lo a agir, a lutar.
O otimismo infundado não apenas impede o povo de lutar como deixa o povo desprevenido para o golpe que está se montando contra Lula.