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Polêmica

Deturpe Lênin e justifique a opressão imperialista sobre a Rússia

Esquerda pequeno-burguesa usa o marxismo como uma recitação de frases e fatos isolados e não consegue compreender os fatos políticos.

O conflito na Ucrânia tem mexido com a esquerda que, pressionada de um lado pelo imperialismo e, de outro, pela classe trabalhadora, procura analisar e se posicionar diante da situação política. Via de regra, a esmagadora maioria se fica alinhada com a grande burguesia internacional. E os analistas de esquerda, por sua vez, estão mais para adivinhos. Daqueles que não erram todas as previsões.

Um desses magos, e que se considera marxista e revolucionário, é Valério Arcary, ex-PSTU, hoje PSOL. Analisemos aqui o que ele escreve em matéria no Brasil 247:

Não é uma guerra “justa”, mas uma guerra de conquista. A Ucrânia é vítima de uma disputa inter-imperialista pela divisão de “áreas de influência”. Putin fez o cálculo de que o enfraquecimento dos EUA permitia a recuperação de domínio sobre sua zona geoestratégica. É verdade que o governo ucraniano, liderado por Volodymir Zelensky sinalizou, antes de dezembro do ano passado, a aspiração de se integrar à OTAN”. (grifo nosso)

O trecho acima é um absurdo. Ao fazer uma análise política sobre esse fato, é preciso ter uma noção do que seja a política internacional. Não existem mais as tais áreas de influência, como no sentido que o texto tenta apresentar, no qual o mundo seria dividido entre potências e cada qual controlaria suas colônias e mercados. Atualmente, o imperialismo domina o mundo todo, ainda que em determinadas regiões alguns países imperialistas possam ter uma maior predominância.

Se Putin tivesse a intenção de ocupar a Ucrânia e até mesmo outros países como a Geórgia, Chechênia etc, para manter uma área de influência, não seria, por definição, imperialismo. Para tal, ele teria que disputar o controle da economia mundial com os outros países imperialistas. O domínio hipotético da Rússia sobre esses países citados alteraria o que no panorama mundial? Praticamente nada.

Vale notar, observando o cenário político, que o imperialismo não está em uma fase de anexação, mas de controle das diversas regiões do mudo para exercer sua dominação econômica. Por isso a derrota no Afeganistão é um fator de crise tão importante, pois com ela foi perdida uma importante posição na Ásia Central.

O choque atual entre a China e o imperialismo em torno de Taiwan, por exemplo, não existe o desejo por parte do imperialismo de ocupar militarmente a ilha, pois isso seria muito custoso e problemático; mas, ao mesmo tempo, precisa impedir que a China reassuma seu controle sobre o território que poderia ser um importante ponto de pressão sobre os chineses.

Os EUA e a Inglaterra, apesar de todo seu poderio militar e econômico, não conseguiram manter a ocupação no Iraque e sequer no Afeganistão. A Rússia, que é um país atrasado, não tem condições de manter um país como a Ucrânia que é maior mesmo que a França.

Para dominar o Brasil os Estados Unidos não precisam ocupar com tropas, pois controlam as nossas Forças Armadas e a burocracia política nacional para conseguir seus objetivos. A tentativa de avançar a OTAN para dentro da Ucrânia expõe a fragilidade da Rússia, tal manobra seria impensável no período da União Soviética. A ideia que está sendo difundida na imprensa de que os planos de Putin seria ocupar a Ucrânia e depois avançar sobre a Europa não tem a menor possibilidade de acontecer. A “Rússia conquistadora” não passa de uma invenção, de uma fantasia serve apenas de propaganda ideológica. A União Soviética tinha, com a união de países uma postura defensiva, não imperialista. Diferente da fase do império russo que, sim, tinha essa aspiração, ainda que tal desejo não se sustentasse economicamente.

A operação russa na Ucrânia é uma tentativa de reverter um quadro bastante desfavorável, pois aquele país já estava praticamente dominado pelo imperialismo. Ou seja, se trata de uma operação defensiva. Putin teve que agir antes que Zelensky conseguisse colocar a Ucrânia na OTAN, fez assim pois caso contrário teria que entrar em uma guerra direta contra o imperialismo. Ou seja, houve uma antecipação, um movimento político, pois no futuro seria ainda pior.

Arcary é vítima da ilusão de que todo país grande é forçosamente imperialista. O mesmo que dizem contra o Brasil, de que teria atitudes imperialistas na América do Sul, de que seríamos um país ‘subemperialista’, o mesmo conceito usam para China e Índia.

O que está em jogo?

A questão para os russos é que se eles permitirem, não se arriscarem, vão terminar como a Sérvia, um país totalmente retalhado em nações menores, pois os países grandes são um problema para a dominação imperialista.

Se se tratasse de um confronto dentro do imperialismo, como propõe Valério Arcary, teríamos que nos apoiar na realidade, teríamos de recorrer às duas guerras mundiais, que foram abertamente disputas por mercados e colônias. A Alemanha, que era um país forte, com maior poderio que a Inglaterra e a França, não um país fraco como a Rússia atual, tentou tomar para si as colônias inglesas e francesas. E, seguramente, se houvesse a intenção de Putin de disputar os mercados mundiais com o imperialismo, o conflito já teria escalado para uma guerra mundial.

Deturpando Lênin

Os analistas mais ‘esquerdistas’ tentam se utilizam de Lênin para analisar a situação atual. Embora do assunto não entendam nada. Dizem, por exemplo, que Lênin condenava o chauvinismo grão-russo, que de fato é condenável dentro do contexto de uma revolução proletária, era preciso evitar que numa federação de países socialistas houvesse um sentimento de dominação por parte dos russos. No entanto, isso não tem nenhuma relação com a situação atual.

Querem colocar nas costas de Putim o desejo de voltar à velha Rússia do Czar ou da União Soviética, mas é sabido que não existe condição para tal. Não adianta querer uma coisa para que ela aconteça, é preciso que para tal existam condições reais. A motivação russa é muito mais simples: é montar uma barricada em frente da porta para evitar o assédio dos inimigos, no caso imperialismo.

A esquerda ‘nem-nem’ sustenta que na Primeira Guerra Mundial Lênin não apoiava nenhum dos lados e está correto, mas, naquele período, tratava-se mesmo de uma guerra interimperialista. Não estamos na Primeira Guerra, o argumento não serve.

Marxismo não é cartilha

Há aqueles que acusam o PCO de fazer uma análise não dialética do conflito na Ucrânia, como se ali os movimentos das classes e os povos não contassem, e fosse tudo uma espécie de peças se deslocando sobre um tabuleiro de jogo como o War.

Lênin usava uma expressão de Clausewitz que dizia que ‘a guerra seria a continuação da política por outros meios’. Ora, a guerra é política, não está separada dela, e a política é a luta de classes; portanto a guerra é luta de classes. Se existe um conflito entre a burguesia e a classe operária isso pode muito bem se estender para um conflito armado. Mas isso não altera a natureza do conflito, ainda que tenha se transformado em uma guerra civil.

Parte da esquerda reduz a luta de classes ao confronto de apenas duas: trabalhadores x burguesia. Ocorre que a sociedade capitalista é muito complexa. Muitas vezes os interesses dentro da burguesia são contraditórios. Uma política cambial que favoreça uma burguesia agrária exportadora pode prejudicar uma outra parte da burguesia agrária voltada ao mercado interno de um país, o que poderá fazer com que entrem em choque. O mesmo serve para os interesses da grande burguesia internacional que domina as burguesias locais de países atrasados. Ou seja, a ação do imperialismo contra a Rússia, apesar de que este seja um país capitalista (e pobre), é luta de classes. Como disse Trotski, a burguesia de países atrasados é uma classe semiexploradora e semiexplorada. O confronto da burguesia de um país pobre contra a grande burguesia internacional é também a luta dos exploradores contra os explorados. A luta dos russos contra a OTAN é uma luta de classes.

Do que foi dito, devemos deduzir que, em última instância, a burguesia, de fato, é aquela que explora todas as outras burguesias. E a luta da classe operária, ainda que ocorra contra a sua burguesia imediata é principalmente, fundamentalmente, contra a burguesia mundial, o imperialismo. Por isso essa luta pode se transformar em uma luta entre Estados. A luta de classes para chegar no seu ponto culminante tem que ser uma luta política

Posicionamento revolucionário

O inimigo real da classe trabalhadora, ao contrário do que querem nos vender, é a OTAN, o imperialismo, não o Putin, neste momento. Por isso é preciso combater essa esquerda que usa o marxismo, ou o leninismo como uma coisa fixa, em vez de aplicar o materialismo dialético em situações reais, levando em consideração as bases materiais de cada conflito.

A Rússia, apesar de grande, está sendo assediada como foi o Iraque, o Irã, a Síria, o Afeganistão… não podemos nos deixar influenciar pelo tamanho do país e de seu poderio bélico que, apesar de ser poderoso, é infinitamente menor que o dos países imperialistas somados.

Marxismo não é uma recitação de fatos e frases isoladas, e sim um método de análise que nos permite compreender a realidade. O uso correto dessa poderosa ferramenta é o que distingue a esquerda revolucionária dos intelectuais aventureiros e adivinhos pequeno-burgueses.

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