O novo governo Lula ainda nem começou, mas já está sendo alvo de uma intensa disputa pelos cargos na Esplanada dos Ministérios. A exigência da vez é de organizações do chamado “movimento negro” que reivindicam, ao menos, 30% em cargos de alto escalão.
Os argumentos são os mais identitários possíveis como “o novo governo não pode perpetuar o colonialismo de homens brancos” ou “a mulher negra e o homem negro elegeram a frente democrática”, palavras da Educafro, por exemplo, uma das organizações.
As lideranças da organização disseram ter apresentado ao governo uma proposta na qual, em até seis meses, o percentual de negros em cargos de alto escalão passaria de 10% para 30%, faixa aonde os salários são de 18 mil reais, pelo menos.
Luta em causa própria
Apesar de parecer uma proposta que traria “grande avanço” para a sociedade, a verdade é que a ocupação destes cargos por indicados das organizações do chamado movimento negro só beneficiarão os próprios. Não tendo efeito nenhum sobre a massa proletária que terá a vida decidida por aspectos centrais do governo como a política econômica e social, onde serão definidos questões de emprego, moradia, salários, custo de vida etc.
Para estes pontos, a realidade é que independe se quem proporá será um negro ou um branco, mas sim se a política que guiará as decisões e medidas que o governo e cada ministério tomarão irá de fato beneficiar os setores mais oprimidos, como o trabalhador negro.
E, na realidade, o que temos visto nos últimos anos, pra não dizer desde sempre, é que estas figuras que se colocam como lideranças do movimento negro, indígena etc., que dirigem estas ONGs que, praticamente todas, são financiadas pela burguesia imperialista, têm um histórico de atuação exatamente de defesa de políticas reacionárias e que levam no sentido de desorientação da luta organizada destes setores.
Por exemplo, todos estes ditos líderes do movimento negro são profundos defensores do identitarismo – entoando como mantras diário termos como branquitude, lugar de fala, racismo estrutural, colonialismo, decolonizar etc. – que se tornou uma das principais políticas do imperialismo contra povos oprimidos de todo o mundo.
Estão constantemente pedindo mais atuação do Estado para, segundo eles, resolver o problema do genocídio do povo negro, os mesmo que pedem mais polícia, mais “preparo da polícia”, mais leis, mais prisões e advogam contra o armamento da população, por exemplo. Ou seja, querem que os principais algozes do povo negro, o Estado burguês e todo o seu aparado de repressão (leis, judiciário e as polícias) resolvam o problema dos crimes que eles cometem.
Em suma, a proposta de levar cotas aos ministérios do novo governo Lula, na verdade, é mais uma jogada carreirista de pessoas que vivem de cargos dentro da política burguesa e sobre organizações de luta dos trabalhadores, como sindicatos e movimentos sociais. Estes cargos, na verdade, representam somente “um toma lá, dá cá” que faz parte da política direitista de todos os governos, mas que trazem os piores efeitos para a luta real dos trabalhadores, simplesmente, pois estes ditos líderes se colocam na posição de “salvadores” de representantes e deixam os trabalhadores paralisados, assistindo “eles atuarem”.
O que deveria fazer um líder de uma organização de luta dos trabalhadores é aproveitar o momento em que um governo com características populares foi eleito e intensificar a organização e os meios de luta para pressionar o governo e os parlamentares para conseguir benefícios reais para todos os trabalhadores, inclusive os mais oprimidos, como os negros.