Artigo de Vladimir Safatle, no Brasil 247, intitulado “Anistia nunca mais”, repete os mesmos erros que a esquerda vem cometendo. Incriminam Bolsonaro e desconsideram aqueles que o colocaram no poder.
Safatle diz que “Na América Latina, quem deixou impunes os crimes do passado viu eles se repetirem”. Na verdade, está faltando nomear quem são os verdadeiros criminosos, ou melhor: os mandantes.
Ao afimar que, no caso dos crimes cometidos pelos militares durante a ditadura militar “setores da sociedade e do governo impuseram o silêncio duradouro sobre os crimes contra a humanidade perpetrados durante os vinte anos de governo autoritário”, é preciso dizer que esses mesmo setores agiram para colocar Bolsonaro no poder. Houve a mesma orquestração golpista planejada e dirigida pelos Estados Unidos, houve a participação das Forças Armadas, do Judiciário, a participação ativa da grande imprensa. Bolsonaro pode ser um considerado um criminoso, no entanto, foi amplamente apoiado pela burguesia e pelas instituições para conseguir um segundo mandato.
Os militares torturaram, é verdade. E como devemos chamar a prática de prender as pessoas ‘preventivamente’ sem data para soltura à epera de uma ‘confissão’? Ou a prática de se utilizar matérias de jornais como provas? E a exposição de réus e seus familiares, ou os juízes virarem celebridades equanto os processados são silenciados? E o que dizer de aberrações jurídicas como o ‘domínio do fato’ e a prisão sem provas baseadas na ‘literatura jurídica’? Como devemos chamar a prática de se colocar um homem de 73 anos na cadeia, durante 580 dias, sem que houvesse nenhuma prova contra ele e com a Constituição garantindo que não poderia ser preso?
A tortura, se formos olhar direito, parece nunca ter deixado de ser praticada no Brasil. E nem precisamos falar daquilo que faz a Polía Militar todos os dias impunemente contra a população pobre.
Quem pariu?
Vladimir Safatle tem razão quando diz que “Para tentar silenciar de vez as demandas de justiça e de verdade, vários setores da sociedade brasileira, desde os militares até a imprensa hegemônica, não temeram utilizar a chamada “teoria dos dois demônios”. Segundo ela, toda a violência estatal teria sido resultado de uma “guerra”, com “excessos” dos dois lados”. A grande imprensa é porta-voz de quais interesses?
Ninguém vai poder dizer que não se trata de pessoas sem discernimento e que não sabe o que diz. A imprensa encobriu/encobre crimes porque é venal e, nesse sentido, é igual ou pior do que aqueles que pagam por seus serviços.
Ao citar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli que declarou, “em pleno 2022, pós-Bolsonaro: “Não podemos nos deixar levar pelo que aconteceu na Argentina, uma sociedade que ficou presa no passado, na vingança, no ódio e olhando para trás, para o retrovisor, sem conseguir se superar (…) o Brasil é muito mais forte do que isso”, deveria lembrar que Toffoli foi o primeiro presidente do Supremo Tribunal Federal a ganhar um general como ‘assessor’ durante sua gestão.
Bolsonaro foi “um governo que, durante quatro anos, fez de torturadores heróis nacionais, fez de seu aparato policial uma máquina de extermínio de pobres”. Nada muito diferente de quem colocou um milico como sombra de um ministro do STF.
Os crimes
Vladimir Safatle, repetindo a imprensa, tanto a corporativa quanto a alternativa, de que Bolsonaro teria cometido crimes na pandemia e crimes cometidos no processo eleitoral. Com relação aos crimes eleitorais, é preciso dizer que no Brasil é proibido contestar as eleições. Um juiz decidiu isso, da própria cabeça, e pronto, está decidido. A ação da Polícia Rodoviária Federal impedindo eleitores de se deslocarem até seus locais de votação encontrou alguma resistência efetiva por parte do Tribunal Superior Eleitoral? Não.
Os crimes durante a pandemia tiveram total conivência do imperialismo. Será que o Tribunal Penal Internacional está disposto a levar os grandes laboratórios multinacionais ao banco dos réus? Quem foi que mais pressionou para que o governo brasileiro não comprasse vacinas da China ou da Rússia? Terá rolado algum suborno? Nunca o saberemos. A única certeza é que três laboratórios, Pfizer, Moderna e BioNTech, dominaram o mercado mundial de vacinas e estão lucrando vários bilhões.
O que fazer?
Safatle cobra energia do próximo governo, no entanto, não basta ganhar as eleições, é preciso formar uma base de sustentação e, todos sabemos, o próprio Psol, partido de Vladimir Safatle, costuma fazer oposição ao PT e teve entre seus quadros importantes apoiadores da Lava-jato e do golpe contra Dilma.
Mesmo que concordemos que Bolsonaro tenha cometido crimes, e seja um fascistoide, as críticas não devem recair exclusivamente sobre ele. Tudo o que fez teve respaldo. A sua própria eleição foi fruto de uma grande operação judicial fraudulenta que retirou o principal candidato de seu caminho.
Culpar única e exclusivamente Bolsonaro é bom, pelo menos para quem o pariu e tentou colocá-lo de novo no poder. Esses, seguramente são ainda piores que aquilo que saiu do ovo que ajudaram a chocar.