O presidente eleito Lula (PT) ainda nem tomou posse, mas a burguesia já está em campanha franca sobre o futuro governo. A proposta do petista de abrir um espaço de R$200 bilhões acima do Teto de Gastos, para dar conta das promessas de campanha e usar o dinheiro público com o povo — como a expansão do auxílio de R$600 para ter um adicional de R$150 por filho, além de reverter os cortes e expandir o programa Farmácia Popular e a verba para as escolas, em destaque para a merenda, e a proposta de isenção do imposto de renda para quem ganhe até R$5 mil — colocou a burguesia em polvorosa. A imprensa burguesa busca explicações e restrições, e pressiona por indicadores concretos de que nada seria colocado acima deste valor, além de exigir novas cláusulas de “equilíbrio fiscal”, ou seja, de compromisso com a austeridade, com cortes sociais.
A política de garantir o auxílio e valorização do salário encampada por Lula não é apenas uma política de assistência, mas de desenvolvimento nacional. Aumentando o poder de compra da população, o mercado interno do Brasil fica fortalecido, abrindo maior espaço para o desenvolvimento da indústria nacional em diversos setores, que necessitam de um mercado para se estabelecer. As empresas brasileiras se favorecem por já produzir em território nacional o que, aliado a uma política fiscal de proteção da indústria, algo natural, é a receita para o desenvolvimento do país, seja em setores básicos da economia como, inclusive, em áreas de tecnologia.
Mais que isso, o maior investimento na educação permite o desenvolvimento tecnológico nas universidades brasileiras, que podem formular tecnologias nacionais para a indústria nacional. Um exemplo do que se pode atingir foi o chamado MagLev Cobra da UFRJ, um trem magnético brasileiro, desenvolvido pelo setor da engenharia da universidade.
O desenvolvimento nacional exige também um gestão de viés nacionalista nas empresas públicas. A tentativa de rapina da Petrobrás que ocorre agora demonstra as expectativas da burguesia para o ano que vem. Só no final do ano, privatizações e transferências de dividendos antecipadas para os acionistas estão sendo emplacadas pelo governo golpista de Jair Bolsonaro. Nesse sentido, a imprensa burguesa ainda diz que não pode certificar de fato posição sobre o pedido na transição governamental para gastos sociais, até que seja divulgada a composição ministerial do governo Lula, pressionando para um ministério o mais direitista e entreguista possível.
Segundo a posição de José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, os ministérios da Fazenda e Planejamento são os que mais trazem preocupação e motivam a pressão da burguesia imperialista e financeira. Para ele, existem três prováveis opções: o apontamento de ministros neoliberais (chamados por ele em linguagem cifrada de “ortodoxos”) deixaria o “mercado” feliz, e o que ele não fala, massacraria o povo; a indicação de membros do PT com experiência em administração pública, ou seja, burocratas com o costume de ceder às pressões da burguesia, geraria uma reação neutra, de esperar para ver; já a indicação de ministros com perfil desenvolvimentista, ou seja, de focar na indústria, nas condições de vida da população e no desenvolvimento nacional de conjunto, com geração de empregos e expansão da participação estatal na economia no sentido de fazer avançar o país, isso traria uma reação bastante negativa nos mercados.
A burguesia busca um ministro do Fazenda alguém do perfil de Henrique Meirelles, neoliberal de destaque na política nacional, criador e defensor do Teto de Gastos, medida terrorista que serve para impedir o governo de gastar com a população, independente da fome e da miséria. Ainda, buscam fazer reduzir o pedido pela equipe de transição, de R$200 bilhões acima do Teto de Gastos, falando em uma liberação de “pelo menos R$100 bilhões”, numa demonstração de que o montante pedido não será aprovado com facilidade, caso uma proposta de garantia de austeridade não seja acordada.
Os trabalhadores, que elegeram de fato o governo, precisam estar organizados para contrapor a pressão da burguesia com a pressão de baixo, das massas. Um movimento organizado é o que garantirá, realmente, um governo dos trabalhadores. Os ministérios todos devem atender aos interesses da classe operária, e estes interesses são os de desenvolvimento do Brasil, com uma indústria forte e diversificada, o que gera empregos e estabelece salários mais altos. O governo Lula, ao ceder às pressões da burguesia, apenas teria a se desmoralizar. A única saída é um governo decidido pelo desenvolvimento do Brasil, um governo que só pode se apoiar concretamente nos trabalhadores, único setor da sociedade capaz de fazer frente aos interesses do imperialismo.