A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) criou um site com o nome de “campanha indígena” que, segundo o site, seria para apoiar e dar visibilidade às candidaturas indígenas.
A iniciativa conta com um manifesto que tem como slogan “Aldear a Política” e refere-se ao que chamam de Bancada Indígena. Na página que descreve o projeto da bancada indígena lemos o seguinte:
“As indicações foram realizadas pelas organizações regionais de base que compõem a Apib”.
Aqui concluímos que não se trata de um apoio às candidaturas de índios de modo geral, mas de apoio às candidaturas de índios selecionados pela instituição. Portanto trata-se de candidaturas coordenadas pela política da APIB para os índios. Nesta lista não aparece a única candidatura majoritária de índio no país, a candidatura de Magno de Souza ao Governo do MS.
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É inegável que a APIB tem feito ações em defesa dos índios, no entanto, é fundamental destacar que nenhuma instituição é neutra. Todas as instituições têm ideologias alinhadas com suas posições políticas concretas.
Então é preciso deixar claro que, antes de ser neutra e universal (para todos os índios), a APIB é uma instituição que tenta implementar uma política e uma ideologia específicas, dentro das comunidades indígenas. A saber, a política e a ideologia que acredita.
Uma série de questões devem ser colocadas neste ponto:
Quanto de fato a APIB representa os índios?
Como são os processos em que os representantes das comunidades são escolhidos?
Como as comunidades são ouvidas neste processo?
O quanto as pautas levantadas pela APIB, bem como suas ações, de fato resolvem ou representam a situação dos índios?
Magno de Souza é um índio comum, realmente um índio da base. Magno de Souza é liderança na retomada em que vivo. No decorrer de sua campanha, temos visto a identificação de muitos índios com a candidatura de Magno. O motivo é simples: Magno literalmente encarna a realidade do índio. Seu modo de falar, as preocupações que tem, as dificuldades que enfrenta, etc…
A candidatura de Magno sofre perseguição e preconceito por parte da sociedade branca. Mas o mais grave é que diante de tudo isso, estamos vendo tanto as instituições defensoras de índios, como a esquerda identitária, em silêncio. A discriminação que sofre Magno pelo regime eleitoral burguês é uma discriminação contra todos os índios e o silêncio das instituições é um silêncio diante desta discriminação contra todos os índios.
Este silêncio medonho tenta ser justificado, a boca pequena, por boatos que tentam constranger a escolha de Magno por um partido operário e não burguês. Se é justo que os índios ou os apoiadores de índios não tenham nenhuma obrigação de defender as ideologias da candidatura de Magno, do mesmo modo as candidaturas do projeto “aldear a política” também devem ser colocadas ao julgamento dos apoiadores e dos índios.
No entanto, a defesa do direito de um índio se candidatar, o combate contra a deslealdade e discriminação de uma candidatura indígena, deveriam ser obrigações, tanto de apoiadores quanto da comunidade indígena em si, bem como dos partidos que se dizem progressistas e defendem a diversidade ou a democracia. Ao invés de justificar a violência contra Magno e condenar a vítima por sua escolha, estes setores deveriam prontamente denunciar a violência e os agressores.
O que fica claro é que a luta de classe desmascara a ideologia de um suposto movimento universal em defesa dos índios. Não são todos os índios que são defendidos, mas apenas aqueles que aderem aos modos burgueses de fazer política. Como era de se esperar, a luta de classe perpassa também o movimento indígena.