Se tivéssemos esquecido apenas quem é Alexandre de Moraes, o problema não seria tão grave, mas há uma lista grande de outros nomes na mesma situação. Se estes personagens fossem muito antigos, o esquecimento também não seria algo tão grave, mas são poucos anos que se passaram. Se aquilo que cometeram fosse algo menor, nosso esquecimento também não seria tão grave, mas destruíram o país, levaram milhões à miséria, usurparam o judiciário, tudo o que há de mais terrível fizeram.
Particularmente entre tantos, citamos Rodrigo Maia, Reinaldo Azevedo e Alexandre de Moraes, figuras que se tornaram até influentes da esquerda hoje. Lembremos o quanto estas eram figuras repugnáveis pela mesma esquerda. Naquela época, seria uma loucura imaginar qualquer defesa destes nomes. Mas, disso, esqueceu-se. Esqueceu-se tanto que é difícil até fazer lembrar. Para muitos, não há nem uma vaga lembrança deste tempo. Não há nem mais cheiro ou gosto disto pelo ar.
Não falo daquilo que eu ou algum outro particularmente percebia e sentia. Falo de uma percepção praticamente unânime em toda a esquerda ou setores progressistas há poucos anos atrás. O que vivemos é como se aquelas pessoas que assim pensavam, tivessem se tornado completamente outras hoje. Aquelas pessoas são tão distintas do que eram que se levássemos um de hoje, com uma máquina do tempo, para o passado, e colocássemos ele à frente dele mesmo no passado, os dois provavelmente se matariam.
Nos grupos de whatsapp da esquerda hoje é comum ver fotos em miniaturas de Alexandre de Moraes como destaque positivo de uma matéria de jornal. No sete de setembro do ano passado ele já aparecia por estes grupos como defensor da democracia. Em ambas as ocasiões ele surge quase como um herói.
Alexandre de Moraes se apresenta hoje como algoz de Daniel Silveira, mas na verdade o primeiro é muito mais perigoso do que o segundo, ao menos por dois motivos. Primeiro, porque ele representa algo que já incorporamos de tal modo que não podemos mais perceber como sendo estranho a nós e segundo porque se trata de uma incorporação em massa. Vejamos quem são os defensores de Alexandre de Moraes hoje. O mais forte de todos é a Rede Globo que representa a grande voz do Capital no Brasil, alinhados com esta força temos toda a direita conservadora que constitui a terceira via: Ciro Gomes, Doria, Tebet, etc.. e por fim, a reboque de todo este setor conservador e verdadeiramente autocrático, segue a “esquerda”.
Se aqueles que éramos no passado (de poucos anos atrás) tinham algum pingo de razão, o fato de estarmos completamente cegos diante daquilo que dizíamos é muito mais grave do que possamos imaginar. Estamos aos poucos, sem perceber, incorporando tudo aquilo em nossa sociedade, em nosso modo de pensar, de ser, de atuar, de acreditar, de fazer. Em uma palavra: estamos diante da formação e desenvolvimento de uma ideologia (de massas). A história não nos trás boas lembranças deste tipo de “unificação” da direita conservadora e autocrática com um vasto setor da esquerda capitulada.