A campanha contra o futebol brasileiro se intensifica na Copa. A imprensa de direita, de seu jeito dissimulado, ataca a Seleção, enaltecendo os europeus, ao mesmo tempo que faz uma propaganda ufanista da boca para fora para garantir os lucros da audiência. E a esquerda, com seu grande espírito “crítico” guiado pela direita imperialista, endossa a campanha contra o futebol nacional, que é a mesma coisa que dizer, campanha contra a cultura nacional.
Na véspera da estreia do Brasil, em completa dissonância com o clima do povo na rua, o PSTU publicou uma matéria no seu portal na internet colocando a questão: “A seleção é brasileira ou formada por jogadores brasileiros?”.
O autor do artigo, Cyro Garcia, velho dirigente do PSTU, não defende que o brasileiro deve torcer pela Seleção, mas apresenta o problema de uma maneira negativa, como se houvesse alguma culpa nisso. Como se estivesse desculpando aqueles que torcem contra. Vejamos o que diz o artigo:
A gente vê cada vez mais um distanciamento entre os jogadores que compõem a nossa seleção e a torcida brasileira. (…) Isso se deve em grande parte ao fato de que a maioria desses jogadores não atuam nos gramados brasileiros, alguns deles nós nem vimos jogar por aqui porque já foram quase que diretamente da base para o futebol europeu.
É fato que os jogadores saem do País cada vez mais cedo. O problema, no entanto, não está na maior ou menor identidade que o brasileiro tem com a Seleção, mas é um problema que diz respeito aos monopólios capitalistas.
A questão é compreender o problema e propor que se resolva. A esquerda não pode se colocar como mera espectadora dos problemas do povo, e isso inclui o futebol. A observação de que a Seleção não é “brasileira” apenas serve para jogar água no moinho daqueles que não compreendem a importância do futebol para o povo. É preciso, nesse sentido, ter uma política para o futebol e essa política passa obrigatoriamente pela defesa do futebol brasileiro, uma riqueza nacional. E aqui, quando falamos riqueza estamos nos referindo à cultura e à economia.
Esses jogadores, que como bem lembra Cyro Garcia, são tirados muito jovens do País, são uma riqueza valiosa. A ação do imperialismo, através dos monopólios do esporte, grandes empresários etc. é uma atitude de rapina comparável ao roubo do nosso petróleo. Quanto mais cedo os jogadores são tirados do País, mais lucros eles dão.
Deveríamos defender uma política que protegesse o futebol, os jogadores e clubes, dessa política de rapina.
Mas é preciso dizer claramente que essa política começa pela defesa intransigente do futebol brasileiro como um patrimônio nacional do povo brasileiro.
O ataque ideológico contra a Seleção visa a convencer o brasileiro de que seu futebol não tem tanto valor assim, desvalorizando nossos jogadores.
Por isso, a ideia central do artigo de Cyro Garcia não contribui criticamente como denúncia da ação do imperialismo, ao contrário, contribui para a desmoralização da Seleção diante do povo. A colocação, já pelo título, não tem lógica, é óbvio que a Seleção é brasileira, a não ser que consideremos que um brasileiro deixa de ser brasileiro porque trabalha em outro país. O autor conclui que:
Essa concentração de jogadores no futebol europeu ajuda a distanciar o torcedor brasileiro da seleção, transformando a Copa num mix de Champions League com uniformes de selecionados diferentes. Na seleção atual, as torcidas que tem mais identidade com o time são a do Santos, pela presença de Neymar, e a do Flamengo pelas presenças de Pedro, Everton Ribeiro, Paquetá e Vini Jr.
Se é verdade que qualquer brasileiro gostaria de ver os jogadores de seus clubes jogando a Copa, não é verdade que o torcedor esteja realmente distanciado da Seleção. Qualquer pessoa que realmente gosta de futebol sabe que torcer para um time é torcer incondicionalmente. Não importa se no seu time só tenha pernas de pau, não importa se o dirigente do seu time é corrupto e direitista, não importa nem mesmo se seu time virou clube-empresa como é o caso do Botafogo, time para o qual torce Cyro Garcia.
Por que com a Seleção seria diferente? A resposta para essa pergunta nos remete ao início desse texto. Com a Seleção é diferente, porque há uma campanha orquestrada pela direita pró-imperialista de desmoralização do nosso futebol. Tudo vira motivo para criticar, não torcer, virar a cara. Essa campanha tem o objetivo de levar adiante a política denunciada pelo próprio artigo de Cyro Garcia para roubar nossos talentos.
A esquerda deveria fazer uma campanha contrária, ou seja, instigar no povo brasileiro, nos trabalhadores, o orgulho de sua cultura.
A prova de que a suposta falta de identidade com a Seleção é um produto da propaganda imperialista contra nosso futebol está no caso Neymar. Como afirma Cyro Garcia, há uma identidade da torcida do Santos com Neymar, e isso é fato. O artigo não diz, mas Neymar é uma exceção naquilo que denuncia corretamente o autor. Neymar foi revelado pelo Santos e jogou pelo clube da baixada santista por muitos anos, resistindo a várias propostas de contrato de clubes europeus. Mesmo tendo jogado no Santos por muito tempo e ganhado títulos, o jogador é alvo de uma enorme campanha contrária por parte da imprensa, ignorando esse fato. Ou seja, se sair cedo do País, é ruim, se não sair cedo também é ruim. Não importa o que se faça.
O artigo de Cyro Garcia, a pretexto de denunciar essa política de rapina, acaba caindo na vala comum da desmoralização e do desânimo. A mensagem que fica é “até podemos torcer, mas essa seleção nem brasileira é”.
A obrigação da esquerda é defender a cultura nacional porque só a esquerda pode fazer isso de fato. A defesa incondicional do futebol brasileiro é parte importante da luta do povo contra o imperialismo.