Nessa segunda-feira (22), o Brasil atingiu 12,3 milhões de vacinados contra a COVID-19. Exatamente 12.279.559 (doze milhões setecentos e setenta e nove mil e quinhentos e cinquenta e nove) pessoas. Um número que sozinho parece imponente, mas que representa, na realidade, 5,80% da população do País. Os dados são do consórcio de veículos de imprensa e foram fornecidos pelas secretarias estaduais de saúde. Entretanto, esses doze milhões, em sua maioria, receberam somente a primeira dose da vacina. O número de pessoas que receberam as duas doses e podem se considerar imunizados é ainda mais alarmante: 4.213.858 (quatro milhões duzentos e treze mil e oitocentos e cinquenta e oito) pessoas. Exatamente 1,99% da população nacional.
O consórcio de veículos de imprensa cita, ainda, um erro por parte do governo de Sergipe que “sem querer” aumentou em 72 mil o número de pessoas vacinadas no estado. No meio da luta popular contra a pandemia, o povo tem, também, que lidar com a divulgação de informações falsas, errôneas ou publicadas de maneira mal intencionada. O Ministério da Saúde já fora acusado de ocultar dados, estados já foram acusados de divulgar informações e cálculos falsos, dentre muitas outras atrocidades que o poder público vem praticando diuturnamente contra a população brasileira.
Um dos mais assustadores exemplos do tamanho do problema que estamos lidando é o fato que o imperialismo norte-americano chantageou, comprovadamente, autoridades brasileiras afim de que estas não adquirissem doses da vacina Sputnik V, da Rússia. Essa informação constou em um relatório produzido durante o governo Trump pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA (HHS no Inglês). No trecho que fala sobre “combater as influências malignas nas Américas”, o documento aponta que o Escritório de Assuntos Globais (OGA) do HHS “usou as relações diplomáticas na região para mitigar os esforços” de Cuba, Venezuela e Rússia, “que estão trabalhando para aumentar sua influência na região em detrimento da segurança dos Estados Unidos”.
Em um trecho do documento, o órgão afirma expressamente que “persuadiu o Brasil a rejeitar a vacina russa contra a covid-19”. O relatório está disponível no site do governo dos Estados Unidos desde 17 de janeiro. A informação não teve grande repercussão até que o canal oficial da Sputnik V no Twitter comentou a tentativa do governo norte-americano em evitar que outros países adquirissem o imunizante.
Ao fazer os gostos do imperialismo, o Governo Federal deixa à mingua sua população. Não obstante, os governadores fazem muito pouco ou quase nada mais que o presidente Jair Bolsonaro. Bruno Covas (PSDB), Prefeito de São Paulo, ao atingir 84% da imunização de idosos entre 72 e 74 anos, decidiu por suspender a vacinação contra o coronavírus na capital. Sem vacina, sem auxílio e sem emprego devido aos fechamentos semanais, o povo tem tido de escolher entre morrer de COVID-19 ou de fome. A desculpa que os representantes do poder público estão sustentando para não comprar vacinas ou diminuírem/fecharem/suspenderem os postos de vacinação é a falta de dinheiro. Sim, falta de dinheiro num estado, no caso de São Paulo, que possuí um PIB maior que o da Bélgica. Falta de dinheiro em um país que está, agora, entre as 15 maiores economias do mundo. É uma falta de respeito com o cidadão brasileiro, uma das piores atitudes (ou a falta delas) que nossa história já teve conhecimento.
No Paraguai, nos últimos meses, o povo, ao escutar esta mesma desculpa, saiu às ruas reivindicando ações concretas no combate à doença por parte de seus governantes. Não demorou muito e o governo paraguaio encontrou “magicamente” dinheiro para resolver os problemas. As críticas ao Governo conservador do presidente Mario Abdo Benítez, filho do secretário privado do ditador Alfredo Stroessner (1954-1989), cresceram à medida que os medicamentos foram acabando, e conforme seu sistema de saúde foi entrando em colapso, este, inclusive, considerado pelo Banco Mundial como insuficiente e desigual. Paraguaios de classe alta costumavam ser atendidos em clínicas particulares com preços equiparáveis aos dos Estados Unidos, enquanto o resto da população recorria a hospitais públicos onde, apesar dos esforços dos funcionários, a falta de recursos e de infraestrutura tornava o atendimento muito deficiente.
Médicos, enfermeiros, pacientes e seus familiares protestaram nas ruas de Assunção contra a falta de medicamentos. Os funcionários do principal centro na luta contra a covid-19 fizeram uma passeata em frente à sede do hospital, levando seu diretor a pedir demissão. Os médicos denunciavam que não havia remédios nem para quimioterapias, nem sedativos para os intubados nas UTIs, e muito menos vacina contra o coronavírus. O Paraguai tinha recebido 4.000 doses até então.
É necessário sair às ruas, como nossos irmãos latino-americanos e exigir uma vacinação em massa e gratuita, bem como reivindicar a quebra das patentes das vacinas para a produção nacional das mesmas, antes que não sobre brasileiro algum para contar a história.