A vitória do Talibã sobre as tropas norte-americanas mostrou que qualquer povo é capaz de derrotar o imperialismo. Mas não só isso: mostrou também que a esquerda brasileira, sobretudo os setores que estão envolvidos na manobra da “frente ampla”, é uma esquerda pró-imperialista.
PSOL, PSTU, PCB e UP não comemoraram a vitória do Talibã e do povo afegão. Alguns mais discretos, outros mais descarados, todos encontraram algum jeito de, no final das contas, defender a intervenção imperialista no Afeganistão. Assim como na época do golpe de 2016 ficaram ao lado do imperialismo dizendo que o governo do PT era “indefensável”, agora escondem seu apoio a Joe Biden, Barack Obama e George Bush sob o manto da “defesa da mulher”.
É preciso dizer com todas as letras: combater o Talibã neste momento é combater o povo afegão. E, portanto, alistar-se ao exército norte-americano. Foi o Talibã quem liderou a insurreição contra a invasão imperialista. Foi o grupo que teve a disposição, a convicção, a coragem de pegar em armas e convocar uma massa de afegãos pobres para enfrentar o arsenal mais poderoso do planeta.
Se no Afeganistão a esquerda não defende o Talibã, defende o que exatamente? Defende que o PSOL organize uma ciranda e livre o Afeganistão do imperialismo? Defende que isso seja feito pelos vídeos de Jones Manoel? Obviamente que não defendem, pois tal coisa é impossível. Essa esquerda, essencialmente pequeno-burguesa e antipetista, foi incapaz de prever o golpe no Brasil, como seria capaz de organizar uma insurreição armada?
O que propõem é impossível. Propõem a expulsão dos norte-americanos dirigida por ninguém — ou por um santo da Igreja Católica. E como o que propõem é impossível, no final das contas, estão propondo que as coisas se mantenham como estão. Ou seja, são advogados da dominação imperialista.
Estar a reboque do imperialismo tem sido a regra para essa fração da esquerda brasileira no último período. Mas não por acaso: isso é um sintoma claro da situação política. Na medida em que cresce a polarização política, os partidos vão sendo obrigados a tomar uma posição cada vez mais definida. O centro político tende a desaparecer e a situação se apresenta de maneira cristalina: contra o imperialismo ou a favor dele.
Na próxima etapa da luta política no Brasil, será preciso ter essas coordenadas muito bem definidas. Não vai adiantar a esquerda e seus “sociólogos” tirarem da cartola palavras mágicas, explicações fantásticas, “lacres” e “cancelamentos”. Terão de dizer: estão ao lado do povo brasileiro ou serão lacaios da escória da humanidade? Ou, dito ainda mais diretamente, apoiarão Lula e a mobilização popular pela derrubada do regime ou ajoelhar-se-ão diante da candidatura da terceira via?