Um levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) expôs, em números, a situação de desgraça do povo brasileiro. Fome, desemprego, não ter um lugar para morar — todos esses e diversos outros problemas foram representados em dados e deixaram claro os motivos de sua existência: PSDB e Bolsonaro.
O levantamento do órgão estatal é feito a cada quatro anos como anexo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) e Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). Tendo sido realizada em 1.662 domicílios urbanos e 518 rurais, a pesquisa foi feita há alguns meses, o que significa que a situação atualmente é ainda pior.
Fome e insegurança alimentar
Os índices de fome no Brasil foram os que mais chamaram atenção nos dados publicados: cerca de 20 milhões de pessoas passam 24h ou mais sem comida, e 24,5 milhões não sabem como irão se alimentar ao longo do dia, já tendo diminuído a qualidade dos alimentos que normalmente consomem — outras 74 milhões de pessoas são incertas sobre sua condição e temem passar por essa situação em breve. Em dezembro de 2020, 55% dos brasileiros sofriam algum tipo de insegurança alimentar.
Nas regiões mais pobres do Norte e do Nordeste, a fome chega a afetar 18% e 14% dos domicílios, respectivamente, isso considerando que a média nacional é 9%. Já no centro-oeste, terra do latifúndio, aproximadamente 33% das famílias sofrem de insegurança alimentar leve.
De acordo com uma pesquisa do Datafolha realizada para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, a população brasileira vem se alimentando cada vez mais com alimentos ultraprocessados durante a pandemia, diminuindo a qualidade dos alimentos que consomem — a faixa etária que mais mudou neste sentido foi a de 45 a 55 anos, passando de 9% para 16%.
Outro dado interessante é que, de acordo com dados do IBGE, a insegurança alimentar dos brasileiros vinha diminuindo desde 2004, e passou a aumentar novamente em 2014 — não coincidentemente, com o golpe de Estado que derrubou a presidenta Dilma Rousseff já em curso.
De acordo com os cálculos do Procon-SP e do Dieese, o valor de uma cesta básica no início do governo Bolsonaro equivalia a 71% do salário mínimo e, no fim de agosto deste ano, chegou a 98% — neste período o preço dos produtos na cesta aumentaram 52%, enquanto o salário mínimo aumentou 10%, um valor insignificante frente ao fatos que acabamos de apresentar, considerando o aumento de praticamente tudo que deve precisa pago pela população.
Desemprego, renda e inflação
De acordo com o IBGE, o número de brasileiros que trabalham por conta própria bateu um recorde no primeiro trimestre de 2021, englobando cerca de 24,8 milhões de pessoas, número que inclui trabalhos formais (um empreendimento) e informais (qualquer jeito que a população encontre de arranjar dinheiro). Cerca de 28% dos 87,7 milhões de pessoas que trabalham no Brasil o fazem por conta própria — em 12 estados, esse número passa dos 30%. É importante ressaltar que grande parte desse número consiste em trabalhadores informais, que simplesmente não conseguem um emprego e precisam se virar para sobreviver, tendo a situação dessas pessoas piorado muito durante a pandemia.
Mas a razão do problema é encontrada sobretudo na política aplicada no país pelos neoliberais — a reforma trabalhista e a CLT verde e amarela, por exemplo, foram grandes responsáveis pela retirada de direitos e a precarização das condições de trabalho, facilitando a vida do patrão enquanto esmaga o trabalhador.
De acordo com a FGV Social, desde 2014, na metade mais pobre do Brasil, o rendimento domiciliar real per capita do trabalho caiu de R$ 249 mensais para R$ 172, em média — a diminuição foi intensa, e já é sabido que a maior parte da renda dos mais pobres é gasto em alimentos, transporte e moradia. Os empregos informais e com péssima remuneração são os predominantes entre os mais pobres. A pobreza extrema — renda domiciliar per capita inferior a R$ 261, de acordo com a FGV Social — atinge 27, 4 milhões de brasileiros.
A inflação acumulada entre o fim de 2014 e setembro deste ano foi de 47,5%. Desde julho de 2018, quando foi realizado o último reajuste no valor médio dos benefícios do Bolsa Família, a inflação medida pelo IPCA acumula alta de 18%, sendo inclusive maior para pessoas de baixa renda — é importante lembrar que desde o final de 2020 o aumento na inflação foi muito significativo, tendo provocado momentos como a explosão no preço do arroz ocorrido na metade do ano.
Outro fator a ser conectado é a alta do dólar, que não desce do patamar de 5 reais há tempos, impactando em tudo relacionado a importações e, consequentemente, a vida da população como um todo.
Energia elétrica, água, gás — tudo aumentou, e muito tem a ver também com as privatizações, as quais o PSDB, sobretudo, tem um mérito grande para se gabar. Fernando Henrique Cardoso, apesar de não estar mais no governo, deixou os filhotes de seu partido, como João Doria e Eduardo leite (além de outras figuras da direita que são apêndices do PSDB), continuarem seu legado em diversas parte do país, privatizando, junto com Bolsonaro e Paulo Guedes, a Petrobras, a Eletrobras, os Correios, diversas áreas de lazer, aeroportos e muitos outros setores essenciais da sociedade — tudo isso, claro, por uma pechincha inimaginável.
Favelas
O alto desemprego e a queda de renda impactou não só na insegurança alimentar, mas também na procura de moradias mais baratas, um elemento essencial para a população. Segundo estimativa do IBGE, o número de favelas dobrou entre 2011 e 2019. No primeiro eram 6.329 em 323 municípios, enquanto no segundo estes números passaram para 13.151 favelas em 734 cidades. As moradias, caracterizadas pela falta de estrutura, saneamento básico e dignidade para a população, saltaram de 3,2 milhões para 5,1 milhões no período.
Ainda segundo o IBGE, um em cada quatro desses domicílios fica em São Paulo e no Rio de Janeiro. Apesar disso, cidades como Belém, Manaus e Salvador abrigam uma proporção bem maior de domicílios precários, contanto com 55,5%, 53% e 42% desses elementos em sua região, respectivamente.
Não é nem mesmo preciso relatar quanto a vida de alguém piorou (e pode piorar) para precisar mudar-se para uma favela. A violência, a falta de saneamento básico, a falta de renda, o descaso do Estado, a falta de acesso a serviços públicos e todos os outros problemas descritos acima são um agravante significativo, e os números não são pequenos.
A proposta do PCO
Não por uma mera coincidência, todos estes fatores se agravaram no período pós-golpe, indicando alguns dos motivos pelo qual este ocorreu.
A onda de privatizações é precedida por uma série de ações para sucatear a estatal em questão, piorando seus serviços propositalmente e utilizando isso como motivo para privatizar, sem mencionar nada significativo que o país ou a população ganharia em troca. As estatais são vendidas a preço de banana e, no fim das contas, tudo relacionado a elas aumenta. Algo como a energia elétrica, por exemplo, aumenta em “muitos %” de uma vez, o que acaba por impactar em diversos outros setores, como o de alimentos, fazendo o preço de diversas outras coisas subirem.
As reformas (previdência, administrativa, trabalhista, etc.) são outro ponto a ser abordado, uma vez que fazem parte de uma série de medidas tomadas para beneficiar banqueiros e grande capitalistas, cortando salários, retirando direitos fundamentais, retirando a aposentadoria do trabalhador, aumentando os benefícios da burguesia, etc.
É importante ressaltar também que essa política, orquestrada pelos entreguistas do PSDB e pelo capacho Bolsonaro, favorecem muito o capital estrangeiro e asseguram a dominação imperialista no país, fazendo com a que a população brasileira tenha que se subordinar a política de países como os EUA para poder sobreviver.
Tudo isso foi muito bem orquestrado pela burguesia e pela direita, sua porta-voz. Já são 5 anos de golpe que resultou na prisão do ex-presidente Lula e no aumento de todas as desgraças pela qual a população vive, transformando o Brasil num verdadeiro quintal do imperialismo.
A situação só piora e parece que estamos em um beco sem saída. Entretanto, é preciso que, para que isso seja resolvido, a esquerda e a população se juntem em torno da candidatura de Lula, uma vez que este é o candidato mais popular atualmente, e o único com chances de derrotar Bolsonaro. Capachos do imperialismo e dos banqueiros como João Doria e Ciro Gomes são apenas mais figuras da direita que seguirão a mesma política de Bolsonaro, e talvez até pior, com a única diferença de que manterão um rostinho bonito.