Na última terça-feira, 16 de março, o presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), Rui Costa Pimenta, realizou sua habitual análise política em parceria com o canal TV 247, tendo abordado temas relacionados à pandemia e ao cenário político nacional.
Mudanças no Ministério da Saúde
Sobre a saída de Eduardo Pazuello e a indicação de Marcelo Queiroga para o Ministério da Saúde, Rui Pimenta afirma que: “O governo Bolsonaro se deu conta de que a falta total de controle da pandemia […] está tendo um custo político grande. […] não vejo que tenha havido alguma crise interna no governo nem nada. A mudança de ministro [da saúde] serve para marcar que há mudança de política.”
Sobre as mudanças na atitude de Bolsonaro após o discurso do Lula, o presidente do PCO afirma que os fatos não têm relação, mas sim que “Lula, pelo menos por enquanto, está na corrida presidencial e isso muda muito profundamente o quadro político”. Ele também afirma que a causa não é apenas Lula, mas que também Bolsonaro pode estar querendo recuperar um terreno perdido por conta de sua política impopular.
Sobre as declarações de Queiroga a favor de Bolsonaro ao assumir, o companheiro Rui declarou que “Bolsonaro é quem vai dar as cartas” e que “Bolsonaro não quer um novo Mandetta”, ao afirmar que é o presidente quem irá se beneficiar da política levada pelo novo ministro.
Lockdown e vacinas
“É uma medida tão desesperada quanto ineficiente […] é, em grande medida, uma encenação […] se você mantiver essa política por muito tempo, o país explode”, afirma Rui Pimenta sobre o lockdown, “a medida de lockdown é muito mais política do que sanitária.”
Sobre os protestos realizados pelas pessoas dos comércios que pedem sua abertura, Rui afirma que tais atos são legítimos e compreensíveis e que não devem ser confundidos com atos bolsonaristas, “pode ser que uma parte desse pessoal seja bolsonarista, mas o problema [do lockdown] é real. […] não é legítimo decretar um lockdown, a não ser que fosse de 2, 3 dias, sem oferecer às pessoas uma alternativa à paralisação de sua atividade econômica”, “O pessoal tem que viver de alguma forma, muitos trabalhadores estão assim também.”
Sobre a questão das vacinas, o companheiro Rui afirma que tem “uma concepção crítica de tudo”. Em primeiro lugar não confio em nenhuma instituição pública no mundo todo […] as que menos confio são as brasileiras […] acho que tudo que está acontecendo é manipulado, tem uma medida de realidade e uma medida de manipulação.”
Sobre os casos de efeitos colaterais da AstraZeneca e de sua suspensão em 21 países é dito que não é verdade que as vacinas estejam sendo testadas, mas sim que o mundo todo está servindo de cobaia: “medidas emergenciais precisam ser tomadas, mas o que não concordo é o pessoal simplesmente mentir descaradamente para a população [sobre a eficácia das vacinas]”. Rui afirma que o povo precisa ser informado sobre a situação, inclusive sobre as consequências de medidas emergenciais, a exemplo de aplicação de vacinas com eficácia baixa ou não comprovada.
Lei de segurança Nacional
Sobre o caso da censura imposta ao youtuber Felipe Neto usando a Lei de Segurança Nacional, o presidente do PCO comenta que era natural que isso acontecesse e que “uma coisa que muitas pessoas têm dificuldade de entender é que nosso país está mergulhando numa ditadura. […] Nessa situação a luta pelos direitos democráticos se torna uma luta essencial para a sobrevivência política de vários setores da sociedade. Aí a esquerda caiu no erro de apoiar a Lei de Segurança Nacional contra o deputado de extrema-direita que, como nós destacamos aqui, é um deputado pé-de-chinelo, ladrão de galinha, não é nenhum dirigente da extrema-direita.” Ele ainda afirma que o caso Daniel Silveira foi um ato arbitrário do STF e que após esse fato choveram declarações a favor do golpe e o STF não fez nada. “O que acho interessante é que […] é uma pessoa de destaque [o Felipe Neto], o ataque contra ele tem um impacto muito maior do que o que fizeram com aquele Allan dos Santos […] e eu acho que abre caminho para atacar a imprensa em geral.”
“Estamos todos ameaçados. Agora, é preciso responder, e para responder é preciso mudar essa atitude de aprovar as arbitrariedades que são cometidas, finalmente, somos nós quem vamos pagar, não é o Bolsonaro. O Bolsonaro faz o que quer e não acontece nada com ele.” Ainda sobre a questão da censura, Rui Pimenta afirma que existem dois fatos que precisam ser bem acompanhados: a escalada de violência da direita depois da anulação dos processos do ex-presidente Lula e a intensificação das operações de GLO (Garantia de Lei e Ordem) das Forças Armadas, que são um treinamento para enfrentar uma revolta popular.
Caso Lula e posicionamento da burguesia
Sobre as declarações de diversos ministros do STF sobre a questão da anulação dos processos do Lula, o companheiro Rui afirma que tudo isso é um jogo político que não tem relação com Lula e que é preciso ser cauteloso e preparar uma medida para caso a anulação seja revertida. Ele também afirmou que a burguesia procura uma alternativa e que essa, para dar certo, era necessária a ausência do Lula: “Se atacar muito o Lula, ele cresce mais ainda.” Sobre a declaração do Delfim Netto de que este votaria no Lula, o presidente do PCO afirma que não vê grande valor nesse tipo de declaração.
“O posicionamento de todo mundo [burguesia] é muito claro, ninguém quer que o Bolsonaro saia, o impeachment do Bolsonaro foi colocado na gaveta […] a burguesia falou ‘é Bolsonaro até 2022!’. Na minha opinião eles vão tentar encontrar uma alternativa porque o Bolsonaro, embora eles apoiem, não é o candidato ideal, mas chegando em 2022 e não tiver alternativa, é o Bolsonaro de novo. Nós não devemos acreditar que o Bolsonaro esteja totalmente enfraquecido. […] inclusive acho que estão usando um pouco o Lula para ver se diminui a popularidade do Bolsonaro.”
“A burguesia não atua com uma política única, eles sempre apresentam várias caras políticas diferentes”, afirma Rui Pimenta sobre a proposta de Aécio Neves de união com Ciro Gomes e Mandetta. Rui também fala que Ciro é uma carta que sempre esteve na mesa da burguesia, seja para tirar votos do PT, seja como candidato da direita. Isso, em conjunto com o anúncio do Doria de desistência de sua candidatura, daria a entender que a burguesia pretende enfrentar a situação pela esquerda, mas para isso acontecer não pode ter Lula, o que é reforçado pelos inúmeros ataques feitos ao PT por Ciro nas últimas semanas: “A burguesia joga pesado para tentar levar um outro candidato ao segundo turno, transforma a eleição não numa eleição contra o Bolsonaro, mas numa eleição contra o Lula.”
Questão eleitoral para o PCO
Sobre o posicionamento e a atuação do PCO nas eleições, Rui Pimenta afirma que: “a eleição, ao contrário do que as pessoas pensam, não é um problema de opinião das pessoas. A eleição é controlada rigidamente. Por exemplo, há muita gente que votaria no PCO, mas na ‘hora h’ vai votar no PT porque eles encaram que o PT é o partido com mais possibilidades. Aí acabam votando em deputados que não cumprem nenhum papel e tudo mais. A eleição é complexa, nesse sentido, para nós [PCO] e para toda a extrema-esquerda brasileira. […] O sistema é antidemocrático, nós não temos aparelho, a eleição brasileira é uma eleição fortemente controlada pela oligarquia política e precisaria haver uma crise política muito grande para mudar este quadro.”
Bolsonaro e a política imperialista
Rui Pimenta afirma que não vê Bolsonaro como ameaça global e que não acha que a burguesia está muito preocupada com a questão da pandemia: “A situação brasileira [em relação a pandemia] é a situação em toda a América Latina, não é só no Brasil que está ruim a situação. […] o Bolsonaro continua sendo uma peça importante do jogo imperialista. Veja-se um detalhe: não houve nenhum atrito entre Bolsonaro e Joe Biden.”
A esquerda pequeno-burguesa e Lula
Sobre a declaração de Marcelo Freixo que pedia autocrítica do PT, o companheiro Rui afirma que “Acho que há uma pressão grande dentro do PSOL, de alguns setores, para apoiar o Lula. Num certo sentido é o resultado da própria política do PSOL porque o PSOL pediu uma frente ampla para derrotar Bolsonaro […] e com essa propaganda eles teriam que aceitar o Lula, qual seria melhor candidato do que o Lula? Vai apoiar o Ciro Gomes? Vai apoiar o Luciano Huck? Não faz sentido para a política do PSOL […] Marcelo Freixo pede uma autocrítica do PT quando na verdade ele deveria estar pedindo que se abrisse um inquérito contra as pessoas que ele apoiou na Lava-Jato. Fica meio grotesco esse tipo de colocação […] acho que vamos ver uma nova onda de antipetismo.”
Sobre os ataques do Ciro ao PT e a TV 247: “O que Ciro Gomes tenta fazer é um estelionato político. Nós já denunciamos, ele quer o eleitorado do Lula. Isso é uma tentativa de, através de criar uma série de fantasias, de coisas irreais, se passar de Lula, como se ele fosse o ‘verdadeiro Lula no lugar do Lula’ […] é um estelionato político, não se faz isso daí. Você confronta um outro partido com suas próprias propostas e com seu próprio perfil.”
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