Depois de um conjunto de “centrais sindicais” controladas pela burguesia lançar uma nota em defesa de Ciro Gomes contra a CUT e o PT, foi a vez de a CSP-Conlutas, “central sindical” de brinquedo criada pelo PSTU, mostrar-se solidária com o pedetista. Embora não tenha uma relação tão direta com a burguesia como a UGT e a Força Sindical, a CSP-Conlutas é uma espécie de pelega por esporte — está sempre do lado dos patrões, mesmo que sequer ganhe um cargo no Congresso para isso.
A nota da CSP-Conlutas é curta e direta: seus dirigentes querem repudiar as hostilidades do povo a Ciro Gomes no ato ocorrido na Avenida Paulista no dia 2 de outubro. Conforme diz o texto, “Ciro Gomes e membros do PDT foram ameaçados e vítimas de violência física na saída do palco”, de tal modo que os acontecimentos “precisam ser denunciados e condenados, pois são inadmissíveis em um movimento unitário”.
E qual a denúncia para fazer? Por acaso o PSTU é uma delegacia de polícia, que deve ficar atenta a supostas infrações para intervir? Seria em si absurdo se fosse, mas não é essa a resposta. O que incomoda o PSTU não é a violência em si, mas a violência propriamente contra Ciro Gomes. Afinal, conforme dizem seus dirigentes no seu último parágrafo, “reafirmamos a importância da unidade de ação”. Ou, traduzindo: “reforçamos a importância da participação de qualquer direitista que queira participar de nossos atos”. E não se trata de novidade alguma. Em artigo de 15 de novembro, o PSTU, em seu portal, já havia declarado: “a máxima prioridade para a classe trabalhadora, porém, é tirar Bolsonaro, já. E, para isso, é preciso a mais ampla unidade, inclusive com a direita que esteja disposta a ir às ruas por isso”.
A posição supostamente contra a “violência” é, portanto, apenas um pretexto moral para ocultar qual é a verdadeira posição do PSTU em relação à participação da direita nos atos. Até porque a violência dos manifestantes contra a direita não é uma questão de programa — não será resolvida doutrinando o povo. As hostilidades derivam de condições concretas, muito superiores aos discursos de qualquer partido: o povo teve uma experiência de anos e anos com a direita nacional, tiveram uma experiência com um governo popular, no qual tinham participação, viram esse governo ser derrubado pela mesma direita e está vendo sua situação se agravar a cada dia que se passa. Ninguém vaiou Ciro Gomes porque leu um artigo de algum grupo “radical”: as vaias e tentativas de agressão são produto da fome, do desemprego e de feridas muito profundas causadas pelos políticos burgueses.
E Ciro Gomes não é qualquer político burguês. Se Marinha Raupp (MDB-RO), que era deputada e votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, fosse à Avenida Paulista, já mereceria ser hostilizada pelo povo que está comendo o pão que o diabo amassou após a destituição do governo petista. Mas Ciro Gomes é muito mais que uma deputada desconhecida, ele é, assim como o MBL e Deltan Dallagnol, um militante antipetista e antilulista. Entrou nas eleições em 2018 para dividir o voto do PT, fugiu para Paris para não ter de apoiar o candidato do PT e, há uma semana, declarou que Lula era um “canalha”. Ciro Gomes insiste em chamar Lula de corrupto, responsabiliza o líder petista pela vitória eleitoral de Bolsonaro e se recusou a lutar por sua liberdade quando estava preso. Há ou não motivos para a hostilização?
A questão é mais simples do que parece: ficar contra as hostilidades a Ciro Gomes é ficar contra o povo. É defender que o povo engula, contra sua própria vontade, um direitista, um inimigo seu. É uma espécie de estupro político.
Para tentar fugir dessa questão, o PSTU falsifica a realidade. A nota da CSP-Conlutas diz que “no palanque principal, um pequeno grupo instalou uma claque, mas para vaiar e tentar impedir as falas que não lhes agradavam; faziam isso usando bumbos e intimidações”. O que o PSTU não responde, no entanto, é: como “bumbos” poderiam silenciar um poderoso caminhão de som cujo aluguel custa dezenas de milhares de reais? Como um grupo minoritário poderia gritar contra a política da esmagadora maioria do ato e ainda assim prevalecer. Não faz sentido algum.
O que acontece é o exato oposto. Mesmo em sua varanda gourmet, em cima de um caminhão de som, Ciro Gomes foi hostilizado amplamente porque a hostilidade veio das massas, de um número muito expressivo de pessoas. E não é à toa: uma pesquisa da USP apontou que 78% dos manifestantes iriam votar em Lula.
Quem quer Ciro Gomes e a direita nos atos é que é uma minoria da minoria. Tanto é assim que os burocratas que convidaram a direita para a Avenida Paulista se recusaram a discutir essa decisão com as bases, chegando a dar um golpe na própria coordenação nacional do Movimento Fora Bolsonaro e criando uma articulação parlamentar com a direita.
E não é só criticar o povo que quer o PSTU e CSP-Conlutas. Na nota, os morenistas exigem “providências por parte da organização da campanha”. Embora não deixem claro que providências seriam, pode-se afirmar que, sejam elas quais forem, serão medidas antidemocráticas — punições, represálias, ameaças, sanções etc. A defesa de Ciro Gomes é tão feroz que o PSTU está disposto a censurar o povo das manifestações do próprio povo!
Como deixam claro em seus artigos, o PSTU e a CSP-Conlutas não têm um apreço especial por Ciro Gomes: defendem o pedetista para defender a política da frente ampla de conjunto. Ou seja: que a direita participe dos atos.
Com isso, o PSTU só confirma seu curioso diagnóstico: é o partido que, faça chuva ou faça sol, seja “pela esquerda” ou “pela direita”, sempre está acoplado à política da burguesia. Quando os capitalistas montaram o golpe de 2016, o PSTU, dizendo-se mais revolucionário que todos, propôs derrubar o governo do PT junto com a direita. Agora, que a direita busca manobrar as eleições para impedir a volta do PT ao governo, o PSTU acusa o povo de radical e propõe a aliança com a direita.
A trajetória dos morenistas só demonstram que a criação da CSP-Conlutas não tinha nada de progressista. Como é uma “central sindical” que não tem base e está ligada a um partido sem programa, serve apenas para a propaganda contra uma das maiores centrais sindicais do planeta: a CUT. Central essa que, por mais vacilante que sejam as suas direções, não ficou ao lado do golpe, nem se solidarizou com Ciro Gomes.