Em sua viagem à Europa, o ex-presidente Lula discursou para os parlamentares da esquerda europeia, conversou com presidentes de países como a França e buscou estabelecer sua defesa da soberania nacional brasileira assim como dos demais países latino-americanos. Entrevistado pelo jornal espanhol El Pais, Lula declarou apoio ao recém-eleito governo da Nicarágua, de Daniel Ortega, indo na contramão da política golpista defendida pelo imperialismo contra o país.
Sua correta posição, em defesa da soberania nacional da Nicarágua, levou a imprensa internacional, sobretudo a imprensa golpista no Brasil à histeria. Além disso, Lula não apenas defendeu a Nicarágua, como também comparou o governo Ortega, atacado pelos diversos anos no poder, com governos como de Angela Merkel na Alemanha, uma das maiores lideranças “democráticas” do imperialismo, que se manteve no poder por quase 20 anos.
O apoio de Lula a Ortega rendeu diversas matérias nos principais órgãos da imprensa golpista brasileira. A Folha de S. Paulo chegou até mesmo a afirmar que este não seria um “caso isolado” e que Lula, assim como o PT, seria apoiador das “ditaduras de esquerda” em todo mundo, fazendo um suposto paralelo com o fascista Jair Bolsonaro.
Corretamente, Lula demonstrou a contradição nas matérias da imprensa burguesa “Por que Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder, e Daniel Ortega não?”. Segundo a Folha de S. Paulo, a explicação seria que na Alemanha haveria “liberdade de imprensa e eleições limpas”. Esta afirmação claramente não passa de uma profunda mentira, já que o governo Merkel não ficou conhecido apenas por ser um dos mais brutais governos imperialistas europeus, como também por se destacar no ataque a sites de esquerda, fechando diversos blogs e jornais, como também na repressão intensa as manifestações de trabalhadores.
Como não bastassem todos estes fatos desta estranha “democracia” alemã Merkel levou as eleições que concorreu sob um forte controle, tanto é que se manteve por 16 anos no poder. Na realidade, são justamente governos imperialistas como o de Merkel, verdadeiras ditaduras mundiais, que não reconhecem a eleição popular na Nicarágua. Se o imperialismo é tão preocupado com as eleições, por que a mesma campanha não é feito contra ditaduras como a Arábia Saudita, aliadas dos Estados Unidos no Oriente-Médio?
O motivo não tem nada a ver com direitos humanos, mas sim com os interesses do imperialismo em controlar e dominar a economia deste ou daquele país.
Outro argumento falso utilizado pela imprensa golpista é que Ortega teria prendido seus opositores, no entanto, o que a realidade mostra é que o governo nicaraguense deu cabo de impedir que a ação de agentes infiltrados do imperialismo, mesma ação realizada pelo governo cubano e venezuelano.
Além disso, Lula também esclarece em sua entrevista outra grande contradição desta campanha imperialista. Se a Nicarágua teve eleições ilegais pelo fato de haver opositores presos, por que motivo a imprensa não fala o mesmo das eleições brasileiras, que apenas tiveram a vitória de Jair Bolsonaro devido à prisão, comprovadamente ilegal, do ex-presidente Lula, hoje absolvido na justiça?
“Sabe, eu não posso julgar o que aconteceu na Nicarágua. No Brasil, eu fui preso. Fiquei 580 dias preso para que o Bolsonaro fosse eleito presidente”, afirma Lula.
Esta enorme hipocrisia revela na prática a cínica campanha que o imperialismo faz contra o governo Ortega e o ex-presidente Lula. Da mesma maneira que hoje o imperialismo tenta golpear o governo eleito na Nicarágua, Lula, pré-candidato à presidência em 2022, e o principal favorito a ganhar as eleições, é já o maior alvo desta operação golpista.
Toda esta campanha contra o governo nicaraguense é a mesma campanha feita contra o governo do PT no Brasil, o governo cubano e venezuelano. Não se trata da democracia x ditadura, mas sim do controle nacional pelo imperialismo. Esta manobra hipócrita da imprensa golpista, em esconder a ditadura Merkel e mentir sobre uma suposta “ditadura” de Ortega é mais uma forma de atacar os trabalhadores latino-americanos, como também a própria candidatura de Lula.
Por fim, a postura de Lula se mostra correta, ao contrário da política levada por inúmeros setores da esquerda pequeno-burguesa brasileira, que na defesa de uma suposta “democracia” imperialista, adere à campanha golpista contra os governos nacionalistas latino-americanos. Desde já, é perceptível por que motivos o imperialismo não quer de forma alguma a vitória de Lula em 2022.