A entrevista que a recém-empossada presidenta da UNE, Bruna Brelaz, deu para a Folha de S.Paulo teve grande repercussão nos veículos da esquerda. De tantas declarações absurdas, a maior delas provavelmente foi a de que há uma “rede de ódio” dentro da esquerda e que isso precisaria ser combatido. Como já mencionado em outra coluna aqui no Diário Causa Operária, a fala de Brelaz explicita todo o seu medo das reações populares, como o que aconteceu com Ciro Gomes na Av. Paulista, em São Paulo.
De alguma forma, parece que a presidenta já estava prevendo o que viria acontecer após apresentar suas posições direitistas de forma bem clara, à todo o público. O cenário de mobilizações intensas indicou que não há espaço para a frente ampla e para a direita nas ruas. Da mesma forma, não só a população comum, mas também o conjunto da esquerda mais atuante, que tem de fato ido às ruas pela derrubada do governo Bolsonaro, não tolera mais essas alianças absurdas com a direita que promoveu o golpe de 2016.
Após defender o diálogo com o PSDB e com o MBL – responsáveis direto pelo golpe -, Bruna Brelaz sofreu mais uma vez as consequências de seu direitismo, sendo “vítima” da “rede de ódio” que, no final das contas, é apenas a manifestação de indignação de todo um setor militante que está de saco cheio desses dirigentes que não dirigem nada.
Ao ser novamente criticada, os apoiadores da frente ampla saíram correndo em sua defesa. Não faltou “sororidade” por parte de figuras do PCdoB, PSOL e PCB para dizer que Brelaz teria sido vítima de racismo, de machismo e o que mais fosse possível. A Revista Fórum, por exemplo, repercutiu as manifestações em defesa de Brelaz, como a de Jandira Feghali, também do PCdoB, que denunciou os “radicais bolsonaristas e outros de esquerda”.
No caso em questão, a presidenta da UNE alega ter sido vítima de racismo após alguém ter mencionado que ela seria mais uma negra servindo à casa grande. E é exatamente disso que se trata. No passado, vimos setores da esquerda ficarem ofendidos quando Fernando Holiday foi chamado de capitão-do-mato. O apontamento aqui, em ambos os casos, tem um cunho muito mais político do que racial. Ambos são serviçais que atuam, em diferentes escalas, à serviço da burguesia, a verdadeira exploradora da classe trabalhadora, dos negros, das mulheres, etc.
Essa demagogia só serve para defender um setor minoritário. A real política desses setores da frente ampla foi muito bem colocada pela própria Brelaz, quando disse que o PT estaria mais preocupado com o debate eleitoral, pelo fato de Lula estar liderando as pesquisas e menos comprometido com a frente ampla. “Isso é interessante para o PT, só que não acho interessante para o Brasil”, afirmou Brelaz. Na sequência da entrevista, a presidenta da UNE segue defendendo que o PT tenha mais atuação no projeto da frente ampla, que dialogue mais com os setores da direita.
Por trás de toda demagogia com as mulheres e os negros, há um trabalho intensivo para anular a candidatura de Lula e abrir espaço para o candidato da terceira via, da qual o PCdoB é um dos grandes entusiastas. Esse identitarismo nunca serviu para defender a ex-presidenta Dilma do golpe de 2016. Ou para defender as companheiras militantes do PCO que receberam uma cuspida de um dos funcionários de Ciro Gomes no último ato do dia 2 de outubro. É uma farsa completa!
Se fôssemos levar a luta contra essas opressões com tamanha demagogia, estaríamos aqui fazendo uma grande defesa de Lula pelo fato de ser nordestino. Lula é atacado diariamente pela imprensa golpista com todo tipo de calúnia, com acusações infundadas e muito mais. A disputa aqui, no final das contas, é meramente política. Não há porquê dessa esquerda, que não possui vínculo algum com os trabalhadores, defender a candidatura de Lula. Essa esquerda atua à reboque da política da direita, que é a de justamente tirar Lula da disputa política.
A presidenta da UNE, eleita sob um congresso farsante realizado virtualmente, sem a presença dos estudantes, deve arcar com as consequência de sua política direitista. A defesa das mulheres e dos negros aqui só serve para defender os funcionários da frente ampla, como a própria Bruna Brelaz, como Tabata Amaral, que recentemente ingressou no golpista PSB, como Isa Penna, que enfrentou a orientação nacional do PSOL e participou do ato do MBL no dia 12 de setembro e muitas outras. Todas foram criticadas por suas posições direitistas e, no caso de Tabata Amaral, por sua política abertamente neoliberal. O difícil para Bruna, neste caso, vai ser convencer todos os estudantes e trabalhadores de que ela de fato não está à serviço da Casa Branca ou, em termos mais contemporâneos, à serviço da burguesia.