Artigo publicado na próxima edição do jornal Causa Operária impresso, número 1167
No último dia 15 de junho, 19 clubes brasileiros se reuniram para criar uma Liga, incluindo os 20 clubes da série A e os clubes da série B do Brasileirão.
Segundo carta enviada à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) pelos clubes formadores da tal “Liga”, eles exigem mudanças estatutárias na entidade, maior participação dos clubes nas decisões entre outras coisas. Além disso, a ideia é a “Liga” já organize o Campeonato Brasileiro de 2022.
A articulação política veio na carona do afastamento do presidente da CBF, Rogério Caboclo, acusado de assédio sexual. Acusação e afastamento político que foram produto das disputas em torno da Copa América no Brasil.
Os clubes que formam a “Liga” aproveitaram a crise na CBF para uma jogada política que é apenas um desejo antigo dos chamados “grandes” do futebol brasileiro.
Ao ler as declarações dos presidentes dos clubes e as informações na imprensa burguesa, não fica muito claro qual o sentido dessa manobra. Como é comum no mundo do futebol, a politicagem interna entre os cartolas são complexas de compreender pois há muitos interesses obscuros.
À primeira vista dá até para acreditar que a criação de tal “Liga” seria um passo progressista. A decisão é apresentada como uma espécie de independência dos clubes em relação à CBF, colocando sobre a entidade todo o peso das maracutaias que acontecem no futebol brasileiro há muito tempo.
No entanto, a análise está muito longe de ser assim tão simples.
Para saber o sentido político real dessa manobra é necessário saber como a imprensa burguesa – ligada aos grandes monopólios capitalistas – e os próprios capitalistas estão recebendo a notícia. Em geral, tanto um como o outro estão elogiando a iniciativa dos clubes.
Matéria do Estado de S. Paulo do dia 17 de junho afirma que “Muitos detalhes da nova Liga de clubes brasileiros não foram esclarecidos ainda, mas para especialistas do mercado, essas transformações são bem-vindas.” O chamado “mercado”, que nada mais é do que os especuladores imperialistas ligados ao futebol, está gostando da ideia.
Na mesma matéria, o ex-presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, responsável pela criação do extinto Clube dos 13 em 1987, afirma que “acredito que os clubes precisarão ser transformados em empresas e não podem ser dependentes das federações”.
É aí que está a chave do problema da manobra. Tal “Liga” nada mais é do que um esforço por parte dos presidentes dos clubes, provavelmente impulsionados pelos capitalistas do futebol, para abrir caminho para a implantação do clube-empresa no Brasil. Devemos lembrar que o projeto do clube-empresa está em aprovação no Congresso Nacional.
Esse é um desejo dos monopólios imperialistas que controlam o futebol: controlar ainda mais o futebol brasileiro. Para isso, estão operando, por meio dos cartolas dos clubes, políticos da direita e imprensa, uma transformação estrutural no futebol brasileiro.
Não há nenhuma preocupação real com o futebol em si, como procuram apresentar a iniciativa. Trata-se de uma modificação do futebol brasileiro de acordo com o sistema europeu, que é mais adequado para o domínio dos capitalistas.
A própria crise na CBF, que resultou no afastamento de Rogério Caboclo, é produto dessa luta que se dá nos bastidores entre dois setores dos cartolas. Um que por interesses econômicos imediatos procura defender a CBF e o regime atual da estrutura do futebol brasileiro e outro de setores ligados ao imperialismo que quer assumir o controle do futebol brasileiro, que são os verdadeiros interessados nessa cultura genuinamente popular.
O que está em jogo é o controle do futebol mais lucrativo do mundo. O Brasil é o País que mais fornece jogadores para o mundo todo e essa riqueza, assim como um minério encontrado no País, está sendo cobiçada pelos capitalistas estrangeiros.
Não que esses capitalistas já não tenham um bom controle sobre o futebol brasileiro, mas eles querem mais. A crise internacional força o imperialismo a ser ainda mais agressivo. Por isso, estão procurando transformar os clubes brasileiros em empresas e controlar os campeonatos do País para que eles possam usufruir de quase todos os níveis do futebol, desde as categorias de base e negociações de jogadores até os campeonatos. Dessa maneira também, o fundamento do futebol brasileiro, as categorias de base e os milhares de clubes considerados “pequenos” sofrerão ainda mais com a crise, pois a tendência é que o futebol esteja monopolizado nas mão de poucos.
A esquerda precisa se posicionar claramente nessa luta, defendendo o futebol brasileiro contra a intervenção do imperialismo. Mostrar que os cartolas não estão dispostos a defender o futebol até as últimas consequências. Quem pode defender o futebol brasileiro é o povo organizado, mais especificamente os torcedores organizados.