A revista João Cândido, do coletivo de negros do PCO, está em sua 15ª edição, pronta para tomar as ruas das periferias e favelas brasileiras. É fruto de um esforço partidário, do próprio coletivo, que busca financiar sua imprensa com recurso daqueles que a defendem, que a apoiam.
Uma revista com a temática negra, com as reivindicações do negro, impressa, deve ser festejada, especialmente por seu caráter independente, ou seja, não existem bancos, fundações internacionais, organismos imperialistas que estão bancando a propaganda.
Esse é um problema fundamental que a esquerda abandonou: a necessidade de uma imprensa independente, pois, como diz o dito popular, “quem paga a banda, escolhe a música”.
No movimento negro esse problema é ainda mais grave. Dadas as deficiências do movimento, e a situação do povo negro; os ataques sofridos ao longo do tempo fizeram com que uma fina camada da classe média do movimento buscasse seu lugar ao sol, custe o que custar, com franco apoio do imperialismo.
É o que estamos vendo, ao vivo, in loco, com os representantes da Coalizão Negra por Direitos (já carinhosamente apelidada de Coalizão Negra por Dinheiro), que, do dia para a noite, apareceram nos atos e manifestações como representantes da luta do negro, sabe-se lá por qual motivo (finalmente, ser negro não torna ninguém representante do movimento negro). Outros batem no peito, “sou da favela”! Isso também não faz da pessoa uma representante dos favelados. Mas enfim.
Aí, nessa nova geração identitária e histérica (quantos gritos nos carros de som, meu Deus!) se concentram recursos vindos da OXFAM, por exemplo, e, na pessoa de Douglas Belchior (apenas outro exemplo), recursos vindos da fundação do banco Itaú. É mais fácil enxergar isso como um militante apoiando a causa do banqueiro que o contrário. Finalmente pacificaram a relação bancos x negros, sempre conflituosa, por certo. Digo por experiência própria, até mesmo ancestral (risos).
Um jornal feito com o dinheiro do povo trabalhador, com sua contribuição, com suas reivindicações impressas, ali, escritas, prontas para serem repassadas, é o que se faz necessário no atual momento. Não uma coluna na Folha de S. Paulo, a revista esquerdista do golpe de Estado, em matérias que visam mais à autopropaganda de seus oportunistas autores.
Com dificuldades típicas do trabalho de organização da luta de um povo oprimido (e não poderia ser diferente), a imprensa negra precisa retomar o princípio de agitação e mobilização dos seus, em defesa de sua luta, pela derrubada do capitalismo e do regime racista, o que só pode ser feito junto de sua gente, pelo esforço de seu povo, e não pela corrupção escancarada.