Nesta segunda-feira (15) ocorreu a volta às aulas na rede pública estadual de ensino na Bahia. Decretada pelo governador Rui Costa (PT), em modalidade remota, a chamada EAD (Educação à Distância), o retorno se dirigiu a 700 mil estudantes e foi apoiado pela Central Única dos Trabalhadores no estado (CUT-BA). Sob o argumento de “preservação da vida e da saúde de professores, alunos e funcionários”, a central legitima um precedente perigoso, que mesmo antes da retomada presencial total das aulas, objetivo final do plano do governador, colocará em risco aqueles que a entidade procura defender.
Em reunião da CUT-BA no último dia 12, a presidenta Maria Madalena Firmo (Leninha), afirmou que:
“Poder contribuir com essa importante demanda para os filhos da classe trabalhadora no estado, além de ser um grande desafio para o movimento sindical é uma ação de cidadania e reparação do tempo onde muitos alunos estiveram fora da sala de aula por conta da pandemia.”
Aqui é preciso divergir da dirigente. O papel da CUT e dos sindicatos nesse momento não é ajudar na volta às aulas, mesmo que sejam remotas. Mas sim mobilizar nacionalmente contra a volta às aulas presenciais, que coloca professores e estudantes sob o risco de contágio e mortes por coronavírus.
O caso de São Paulo é claro. Atendendo a pressão dos empresários do ensino privado e dos capitalistas em geral, o governador golpista, dito “científico”, João Doria (PSDB), decretou a volta às aulas no momento mais crítico da pandemia desde o início. O resultado são milhares de profissionais da educação (professores e funcionários), estudantes e familiares contaminados com todo o azar de variantes do coronavírus – entre as quais as que tem efeito crítico na juventude – e dezenas de mortos, em pouco mais de um mês de retorno na modalidade híbrida.
Na Bahia, o coronavírus já ultrapassou 744 mil casos e 13 mil mortos, apenas em dados oficiais, segundo boletim da Secretaria de Saúde do estado (Sesab) desta segunda (15). Isto enquanto 86% dos leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) estão ocupados.
Desta forma, é preciso alertar que a retomada das aulas começará remota, mas tem como objetivo final a retomada do ensino 100% presencial, segundo informações do próprio governador da Bahia, Rui Costa (PT). Em transmissão ao vivo pelas redes sociais no dia 23/02/21, ele explicou as fases em que se dará o retorno.
A 1ª Fase será 100% remota, com os cerca de 700 mil estudantes recebendo materiais e conteúdos pelas plataformas digitais. Detalhe, estudantes que não tem acesso a internet terão que ir até as escolas, presencialmente, para ter acesso aos conteúdos de forma digital ou impressa. Como isso vai funcionar não está claro, mas vale lembrar que a contaminação de professores tem ocorrido em estados como o Paraná, só com professores e funcionários trabalhando nas escolas. Incluir alguns estudantes nesta equação é apenas um risco desnecessário.
A última fase será a 100% presencial, mas a grande questão é a 2ª Fase – Híbrida, que terá 3 dias de aula presencial e 3 dias de aula remota. Por exemplo, segunda, quarta e sexta, metade da turma irá às aulas, na outra semana, a outra metade. Eis aqui o problema.
O governo tem utilizado o ensino híbrido como uma espécie de preparação para a retomada do ensino presencial. É uma espécie de política de “cozinhar o sapo na panela”. Fazer como Doria fez em São Paulo, levará a uma mobilização grande dos trabalhadores e da juventude, como está ocorrendo na greve dos professores tanto estaduais quanto municipais.
Isto fica claro quando o governo responde quando iniciará a fase do ensino híbrido?
“Quando nós tivermos a contaminação sob controle. Quando a gente tiver dominado a curva de contaminados. Tivermos o controle e a segurança de que não está crescendo o número de mortos, não está crescendo o número de pessoas procurando a UPA [Unidade de Pronto Atendimento] ou o hospital. Então esse é o momento de iniciar o híbrido. Então não vamos fixar a data do híbrido hoje, mas sim a data do remoto.” (Rui Costa-PT, governador da Bahia)
Sem contar que o ensino remoto é uma avacalhação do processo de ensino aprendizagem. As condições para o ensino remoto no País, como o acesso à internet e a configuração das casas da maioria dos estudantes, inviabiliza que haja ambiente adequado para estudar.
O governador Rui Costa (PT), que compõe a ala direita do seu partido, acompanhou, em todos os momentos, a política dos chamados governadores “científicos”, como Doria. Foi assim que ele decretou lockdown na Bahia, acompanhando a política criminosa da direita, que vai agravar a crise econômica e a pandemia, dado que as pessoas não vão esperar para morrer de fome em casa.
Neste momento é preciso lutar pela vacina e pelo auxílio emergencial. Por isso, seja pelo precedente do ensino presencial, seja pelo nivelamento por baixo do EAD, a principal preocupação dos trabalhadores deve ser a mobilização para apresentar um programa independente de luta para a crise econômica, social e sanitária. É preciso exigir dos governos que apareçam com a vacina. Colaborar com a volta às aulas, neste sentido, é um grave erro, que apenas ajudar a esconder a crise, é exatamente o que a a extrema direita “negacionista” e a direita dita “científica”, que não fazem nada para resolver o problema da pandemia, querem.