No último dia 6, o vice-presidente ilegítimo da república, o general da reserva Hamilton Mourão, atrasado em seis dias, decidiu comemorar e defender o golpe militar de 64 através de uma coluna no jornal O Estado de São Paulo. A tática de aguardar seis dias, que pareceria a priori inócua, funcionou. Setores da esquerda viram boas notícias no artigo dizendo que o vice-presidente criticou Bolsonaro. O que se viu de fato é que Mourão comemorou e enalteceu o golpe de Estado de 1964, e também aproveitou para colocar-se em linha com a política neoliberal e pró-imperialista.
Mourão já inicia o seu artigo com uma boa dose de cinismo: “Neste momento de dificuldades, a sociedade conta que seus militares não se esqueçam dos compromissos com a Pátria que juraram defender”. O que deve ficar claro aqui é que esse argumento da defesa da pátria é base das políticas fascistas. Mussolini e Hitler fizeram o mesmo discurso de defesa nacional, visando angariar um setor desesperado da sociedade.
Continuando ao estilo golpista e pró-imperialista, Mourão se rende às demandas da burguesia entreguista e defende as reformas tributária, administrativa e política. Dá um discurso de alinhamento com a burguesia imperialista, se propondo a promover grandes ataques à classe trabalhadora.
O vice-presidente mostra também a capacidade de falsificação dos fatos, típica dos militares, quando diz: “Nas eleições de 2018 o País fez uma clara escolha pela condenação do maior caso de corrupção da História”. Mourão, que foi um dos maestros do golpe de 2016-18, em 2017 fez a seguinte declaração: “companheiros do Alto Comando do Exército entendem que uma “intervenção militar” poderá ser adotada se o Judiciário não solucionar o problema político”. Ele ainda ousa dizer que houve alguma escolha na eleição e tenta ocultar a enorme pressão que ele e seus colegas militares fizeram com ameaças ao judiciário, juntamente com controle e espionagem das organizações populares.
Continua seu artigo e parte para uma crítica do tipo Olavista quando diz que o país teve a administração aparelhada pela política partidária e pela ideologia – referindo-se aos governos do PT. Contudo, sabemos que o golpe militar de 1964 foi planejado e orquestrado pelo alto comando militar dos Estados Unidos, quando após a segunda guerra mundial, impulsionou ideologias anti-comunistas em toda a América latina. A defesa do golpe militar brasileiro, é também uma defesa do imperialismo norte americano, da entrega dos países pobres e de uma ideologia capitalista de miséria e fome.
O artigo deixa claro o alinhamento e a submissão de Mourão aos Norte Americanos, quando faz questão de citar que os militares nos EUA garantiram a transição de governos na “maior democracia do mundo”, quando esta passou por uma crise. Mais uma típica amostra de um bajulador de imperialista e ignorante, que vê em uma eleição fraudulenta, controlada por uma imprensa golpista e enormes corporações monopolista algum tipo de democracia.
Se dirigindo para a conclusão, mostra seu caráter fascista quando enaltece o golpe de 1964: “Goste-se ou não, foi o regime instalado em 1964 que fortaleceu a representação política pela legislação eleitoral, que deu coerência à União e afastou os militares da política, legando ao atual regime, inaugurado em 1985 e escoimado de instrumentos de exceção, uma República federativa à altura do Brasil”. Aqui devemos dizer que não foi regime, foi uma ditadura; que essa ditadura não fortaleceu nenhuma representação política e foi o oposto: com assassinatos, terrorismo, ocultação de cadáveres, perseguição intelectual, os militares garantiram que fosse realizada a entrega do país nas mãos imperialistas o mais seguramente possível sem revoltas populares. E quanto ao legado, devemos ser claros que a transição foi um produto de diversas crises internas e externas do capitalismo, que culminam na constituição anti-popular de 85.
E finaliza o “artigo” com uma ameaça: “neste momento de dificuldades por que passa o País ela (a sociedade) espera mais. Ela conta que seus militares, da ativa e da reserva, não se esqueçam dos seus compromissos com a Pátria que juraram defender, servindo-lhe com ou sem uniforme, ciosos de sua cidadania, orgulhosos do que fizeram e confiantes no que podem fazer de bom para o bem do País”. Mourão como um bom fascista admite ter orgulho de ter participado de um regime impulsionado pelos Estados Unidos, atuando como funcionário desse aparato esmagador da população pobre. Um regime podre, decrépito; um regime fascista.
O recado foi dado: Mourão e os militares continuam alinhados com o imperialismo norte-americano e com o programa neoliberal. Mostram-se disponíveis, caso necessário, a aprofundar o golpe já iniciado em 2016 para que a entrega do país seja a mais rápida e efetiva, salvando as grandes corporações capitalistas da crise.