Um estranho “erro de digitação”, supostamente cometido pela Secretária de Municipal de Saúde de Goiânia (GO), vem preocupando alguns profissionais de saúde do município.
Duas médicas de Goiânia denunciam ao Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) que ao consultarem seu CPF no App do SUS (Sistema Único de Saúde), que informa qual vacina e quando esta foi aplicada, observaram que, conforme o App, não apenas receberam as duas doses da Coronavac contra Covid-19, mas também uma terceira dose, dessa vez da Astrazeneca.
Elas de fato tomaram as duas doses da Coronavac, mas a dose “extra” da Astrazeneca foi uma surpresa.
A Secretaria Municipal de Saúde alega que foi um erro de digitação ao inserir dos dados no Sistema do Programa Nacional de Imunizações da COVID-19 que causou o problema e que já teria informado ao Ministério da Saúde, responsável por corrigir o erro.
Essa seria uma desculpa até plausível caso se tratasse um erro pontual, contudo, afirmam as médicas que não é algo que esteja acontecendo apenas com elas, mas com diversos outros colegas profissionais da saúde, grupo prioritário para receber a vacina.
Errar a inserção de um CPF é aceitável, mas errar a inserção de diversos CPFs de uma mesma comunidade já é uma estranha coincidência que traz sérios indícios de fraude, um provável desvio de vacinas para outros grupos.
Sem qualquer investigação mais profunda, a secretária alega que não houve prejuízos, uma vez que a dose extra nunca foi aplicada, mas de onde saíram as informações para que pudessem ser então erroneamente digitadas se ninguém nem mesmo a teria recebido?
Essa denúncia se soma a diversas outras que tem surgido pelo país, o que releva que o desvio de vacinas ocorre em larga escala e em nível nacional.
Que confiança se pode ter nesse sistema de distribuição de vacinas que permite a aplicação de duas vacinas diferentes? Isso deveria ser impossível por uma questão de saúde.
O sistema de distribuição de vacinas do governo Bolsonaro, além de incrivelmente desorganizado e sem objetividade, se mostra frágil e fraco. São vacinas que estragam sem uso, vacinas que deveriam ir para um lugar e chegam em outro.
A vacinação deve ser imediatamente posta sobre controle de organizações populares para que possam fiscalizar e garantir que as vacinas cheguem onde se faz mais necessário. Apenas o controle das comunidades no processo de vacinação pode, se não extinguir, ao menos diminuir os desvios e garantir que todos sejam vacinados.