Um setor econômico que vem se impondo no Brasil desde o golpe de estado contra o governo Dilma Rousseff é o das apostas pela internet. A regulamentação dessa atividade está em discussão atualmente no congresso nacional e pode impactar o mundo do futebol.
Os defensores e possíveis interessados em negociatas com os portais de apostas online estrangeiros abordam a questão conforme sua conveniência, é claro. Um dos argumentos em defesa da plena abertura para essas empresas é que elas já patrocinam times brasileiros e realizam ações de marketing nos jogos.
Na prática, o acesso às apostas online já acontece, inclusive aquelas do tipo “jogo de azar”, que são proibidas em negócios situados no território nacional. Esse é um dos pontos mais disputados no atual projeto de legalização, pois essas empresas obtém uma cota expressiva dos seus lucros justamente com jogos como bingo, raspadinha e roleta virtuais.
Os críticos desse tipo de atividade apontam fatores sociais, como as relações familiares dos viciados em jogos, e os impactos na saúde mental, como depressão, ansiedade e suicídio. Segundo um levantamento do Departamento de Psiquiatria da USP, realizado em 2017, cerca de 1% dos brasileiros tem compulsão por jogos, algo em torno de 2 milhões de pessoas.
Mas o problema dos jogos de apostas vai mais além. Não é segredo que a manipulação dos resultados dos jogos interessa economicamente àqueles que organizam e controlam as apostas. Os casos são muitos e atingem uma vasta gama de modalidades esportivas, se não atingir todas. No Brasil, é particularmente preocupante o potencial de interferência nos jogos de futebol.
A enorme popularidade do esporte atraí oportunistas do mundo todo. Uma das frentes onde isso é bastante evidente são os chamados clubes-empresa, que são um prato cheio para especuladores colocarem e tirarem dinheiro. Não é por acaso que os sites de apostas procurem se promover para o público que acompanha o futebol.
Também não é por acaso que o avanço dessas empresas foi precedido pela implementação do famigerado VAR, sigla em inglês para árbitro assistente de vídeo. Como é possível observar a cada rodada nos principais campeonatos, o VAR interfere diretamente no resultado dos jogos. Muitas vezes, interferindo decisivamente em mais de uma jogada de gol. Existem casos nos quais a ferramenta é usada até para retroceder alguns minutos e justificar a marcação de uma falta, anulando um gol ocorrido bem depois. Em resumo, é uma fábrica de intervenções nos resultados dos jogos.
Existe um grande risco de que o estabelecimento dessas empresas e o consequente estreitamento dos seus laços com os clubes de futebol acaba ampliando esse mercado de manipulação dos resultados. E quem mais perde são os torcedores, os verdadeiros responsáveis pela popularidade do futebol.