A Honda foi a oitava montadora a suspender a produção por causa da pandemia do cornavírus. A interrupção será primeiramente de 30 de março a 9 de abril, devendo retomar a produção em 12 de abril. Antes dela a Toyota, Nissan, Volkswagen, Mercedes-Benz, Renault, Volvo e Scania (Brasil 247, 26/3/21). Todas informam que isso se deve ao agravamento da pandemia do coronavírus no Brasil. Mas estão manifestando algo mais grave. A Ford e a Mercedes-Benz pararam definitivamente de fabricar automóveis no Brasil. Isso se falarmos somente da crise nas montadoras, em outros ramos o fechamento e a debandada também é forte. A Sony, gigante mundial no ramo de eletrônicos vai parar de produzir no país, a Virgin Atlantica anunciou que retirou o Brasil de seus planos de voo, entre outros exemplos.
No caso das montadoras, elas hoje em dia fazem seus planos articulando suas empresas no mundo inteiro, em um complexo intricado de associações entre elas e bancos e expressam um profundo processo de reestruturação com a introdução de novos processos de comercialização e financiamento de seus produtos e com o anunciado fim do domínio dos motores de combustão interna.
Apesar de existirem dezenas de marcas, elas estão cada vez mais fazendo parte de poucos conglomerados industriais-financeiros mundiais. A crise capitalista que se iniciou em 2008 como uma crise financeira, na verdade ainda não terminou. Mesmo que se apresente como uma sequência de crises, representa um processo de forte declínio do capitalismo, que se alicerça cada vez mais em sua expressão financeira improdutiva e imaginária de um processo de valorização do capital por ele próprio em especulações de bolsas de valores às vezes representadas em ações de empresas, em outras vezes em apostas sobre preços futuros de mercadorias e de outras ações.
Se todos os proprietários de ações fossem vender seus papéis, não haveria dinheiro no mundo para comprá-los, ainda mais se estivessem nesse pacote de vendas todos os contratos do mercado futuro ou derivativos.
Na reestruturação das empresas em meio à crise capitalista, alguns mercados sofrem mais que outros, perdendo centenas de milhares de empregos com o fechamento de fábricas, quer porque suas matrizes resolveram que é melhor concentrar a produção em outros países, quer porque as empresas nacionais são compradas por empresas estrangeiras e essas resolvem levar a produção para seus próprios países. No caso brasileiro estamos vendo a duas coisas ocorrerem. Após o golpe de 2016, que cada vez fica mais claro que foi um processo gerido a partir dos EUA, tivemos a retomada acelerada do processo de desindustrialização brasileira, que já vinha ocorrendo há pelo menos duas décadas, com interrupção durante o governo Lula.
O fatiamento da Petrobras para venda aos concorrentes é um símbolo dessa derrocada, mas antes tivemos a venda da Embraer, financiada pelo BNDES, para a Boeing, que levou quase toda a produção para o exterior, e com ela as empresas de forte conteúdo tecnológico do polo de São José dos Campos ou foram juntas ou entraram em declínio desempregando centenas de engenheiros altamente especializados formados pelas universidades paulistas. O mesmo ocorreu com a indústria naval, que tem sofrido a maior queda de sua história, passando o país a encomendar navios e plataformas petrolíferas ao exterior. Isso sem falar no polo de microeletrônica e semi-condutores do Rio Grande do Sul.
Exemplos não faltam. Porém, a imprensa burguesa procura atribuir estas paralisações e fechamentos apenas à pandemia, como forma de mascarar a crise capitalista, que se agravou com ela. Omitem também que por trás desses fechamentos e paralisações de fábricas estão centenas de milhares de empregos que serão suspendidos ou mesmo destruídos. Os empregados, desde os de menor qualificação até os de maior especialização, especialmente aqueles que estão acima dos 50 anos de idade, jamais voltarão ao mercado de trabalho em áreas semelhantes ou com salários iguais aos que tinham. A maioria vai para empregos fora de suas áreas de especialização e recebendo menos da metade do que ganhava antes. É isso o que está ocorrendo em grandes centros urbanos e em regiões polos de tecnologia.
No caso brasileiro, esse desemprego em massa promove o extermínio ou destruição de uma parte importante das forças produtivas, que se materializam na capacidade técnica dos trabalhadores especializados da grande indústria (automóveis, naval, petróleo-gás) e das empresas altamente especializadas (aeroespacial, petroquímica, semi-condutores). Como no caso da pandemia, não se trata de uma fatalidade, mas sim da política entreguista, anti-nacional e retrógrada dos golpistas.