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Brasil perde mais

Golpe levou à desindustrialização, demissões e desinvestimentos

O Brasil está retornando à condição de um país colonial e agroexportador, a indústria definha e os trabalhadores são jogados na miséria

A Mercedes-Benz deixará de fabricar automóveis no Brasil. A Ford fechará suas fábricas no país e manterá a produção da Argentina. A Volkswagen quer demitir pelo menos 35% de seus empregados. E abre Programa de Demissão Voluntária (PDV) para a fábrica de Taubaté (SP) (G1, 11/1/21). A Petrobras anuncia que vai produzir plataformas (P78 e P79) em Singapura, gerando 80 mil empregos por lá. Esses são anúncios dos últimos dias. Dando sequência a um movimento de fechamento de empregos industriais no país que vem de muito tempo e que foi acelerado com o golpe de 2016.

A indústria é o setor mais dinâmico do país e o que mais sofre com as flutuações de curto prazo. A partir da década de 1990, com a implantação de políticas neoliberais, o setor tem perdido posições em relação ao PIB. (R. Bonelli, S. Pessôa, FGV, março de 2010) “A controvérsia sobre a desindustrialização no Brasil constitui um capítulo particular da história do pensamento econômico nacional neste início de século XXI. Ela pode ser entendida, resumidamente, como a redução, no longo prazo, do peso da indústria de transformação no produto interno bruto (PIB) em um determinado espaço econômico, geralmente nacional (Unctad, 2003; Akyuz, 2005). Este indicador é conhecido como grau de industrialização e, no Brasil, passou de um máximo de 35,9%, em 1985, para 9,8%, em 2013. Ou seja, uma redução de mais de 72% em um período em que prevaleceu o baixo crescimento econômico, manufatureiro e dos investimentos.” (D. Sampaio, IPEA, 2015)

Com o golpe de 2016 o processo de desindustrialização e desnacionalização da economia se acelerou, especialmente com o entreguismo descarado da Lava Jato e as medidas de privatização e venda de empresas nacionais ao capital internacional, foram perdidos milhares de empregos na indústria naval (com a Petrobras passando a consumir de exterior), na construção civil pesada (setor em que o Brasil apresentava grande liderança mundial), na indústria aeronáutica (venda da Embraer e fechamento de empresas nacionais do setor).

Na atual gestão privativista da Petrobras, presidida por Carlos Castelo Branco, os estaleiros nacionais não receberam mais encomendas da empresa. “Antes portentosa, a indústria naval fluminense vive de reparos, sem grandes encomendas. Se antes, em 2014, teve 30 mil trabalhadores, com 120 mil empregos indiretos no estado, hoje tem apenas 9 mil. No País, a queda em números de postos de trabalho no setor foi de 82 mil para 30 mil.” (CTB, 10/1/21)

Os ataques à indústria naval acabam retirando dela sua capacidade em competir com estaleiros da Ásia. Nenhuma indústria aguenta a volatilidade do mercado brasileiro e as ondulações provocadas pelos governos. Na crise atual, sofrem mais profundamente os estaleiros localizados no Rio de Janeiro, em Pernambuco e no Rio Grande do Sul. São dezenas de milhares de empregos que não se recuperarão mais.

Os trabalhadores que perderam empregos nesses últimos anos e os que estão perdendo agora provavelmente jamais retornarão aos tipos de emprego que tinham antes, terão que mudar de atividade e isso os levará à condições muito próximas da miséria, como estamos vendo em várias áreas do país. Se empresas desses setores vierem a contratar novamente o farão com níveis salariais muito abaixo dos patamares atuais e em condições de contrato muito mais exploradoras. É importante lembrar que junto com esse movimento de desindustrialização ocorreu uma série de alterações na legislação trabalhista que regrediu em décadas os direitos dos trabalhadores. Sem uma série de direitos e com sindicatos enfraquecidos, os salários tendem a cair e a proteção social a ser anulada. Perspectiva de envelhecer sem previdência social e sem emprego é o que assombra centenas de milhares de trabalhadores de empresas de ponta da indústria nacional. Antes no topo da classe trabalhadora, o que lhes restará é a miséria.

Para a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o anúncio do fechamento das fábricas da Ford no Brasil “é consequência da completa ausência de um projeto de retomada da economia brasileira” e em nota assinada pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, pela Industriall Brasil e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos da Força Sindical as entidades denunciam que “o governo despreparado e inepto de Bolsonaro e Guedes finge ignorar a importância da indústria como motor do desenvolvimento nacional, não apresenta qualquer estratégia para a atuação da indústria no Brasil e condena o país a uma rota de desindustrialização e desinvestimento, como vínhamos alertando há tempos. A Ford ‘foge’ do Brasil deixando um rastro de desemprego e desamparo, após ter se valido durante muitos anos de benefícios e isenções tributárias dos regimes automotivos vigentes desde 2001, e que definiram a instalação da empresa em Camaçari, bem como a permanência das suas atividades no Ceará.” (CUT, 12/1/21)

A decisão da Ford vai colocar na rua 50 mil trabalhadores na cadeia produtiva das três fábricas que serão fechadas. Passará a importar veículos da Argentina e do Uruguai.

No caso da indústria automobilística, o fechamento da Ford e da Mercedes anunciam o desdobramento de uma crise que afeta o setor em todo o mundo. Há mudanças nessa indústria que já deveriam ter sido realizadas com a substituição dos envelhecidos motores a combustão interna com uso de combustíveis fósseis e no sistema de propriedade dos carros. Nas próximas décadas será um dos setores com maior alteração em seu perfil de produção e comercialização. Seguindo tendências mais radicais de financeirização da produção e de substituição da propriedade dos bens por uma subordinação permanente e vitalícia dos consumidores às empresas financeiras das montadoras. Ao contrário que as pessoas pensam, provavelmente não será uma “uberização” da compra de veículos, mas uma espécie de leasing imposto aos consumidores para que se transformem em devedores vitalícios, situação muito semelhante aos que compram automóveis à prestação hoje em dia.

A crise brasileira é parte da crise do capitalismo mundial. Poderá ser um momento de transformações se a classe trabalhadora conseguir se organizar e superar as debilidades do capitalismo em cada país e região. Poderá ser um momento de inflexão para maior exploração e miséria dos trabalhadores. O jogo ainda não terminou.

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