A colunista Ruth de Aquino publicou o artigo “Não saia às ruas no 7 de Setembro” na edição digital de 2 de setembro do jornal O Globo. A argumentação é a de que a esquerda não deve sair às ruas contra o governo Jair Bolsonaro (ex-PSL, sem partido) no dia da Independência do Brasil e, sobretudo, não enfrentar os bolsonaristas.
O dia 12 seria mais adequado para a esquerda se manifestar, no ponto de vista de Ruth. O problema é que esse ato foi chamado pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e por organizações de direita ligados ao PSDB e DEM para aparecerem como opositores de Bolsonaro. A intenção original da direita era se infiltrar nos atos da esquerda para desfigurá-los de seu caráter de classe e transformá-los em ato cívicos verde-amarelo. O entrevero com militantes da esquerda do PCO e PT no ato de 3 de julho na Avenida Paulista fez com que esses planos fracassassem e a direita tivesse que chamar seus próprios atos.
A colunista da Globo, que se crê qualificada para ser conselheira da esquerda, diz que o “que parece covardia pode ser sabedoria”. Realmente é um bom conselho. No entanto, o passado a condena. A Globo deflagrou uma violenta campanha contra o governo Dilma Roussef (PT) que contribuiu para preparar as condições para o golpe de Estado de 2016. Se tem alguém responsável pela ascensão do bolsonarismo, esse alguém é o monopólio de comunicação representado pelas Organizações Globo.
Na sequência do golpe de 2016, a Globo levou adiante uma campanha de tom moralista “contra a corrupção” para subsidiar a Operação Lava Jato, prender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atacar a esquerda e os sindicatos e permitir que a extrema-direita bolsonarista chegasse à presidência da República. As “reformas” aprovadas por Michel Temer (MDB) e Bolsonaro, duros ataques aos direitos trabalhistas, previdenciários e democráticos dos trabalhadores, contaram com apoio da Rede Globo. Para este veículo de imprensa, tal como para a burguesia, os ataques dos golpistas significavam a “modernização” da legislação brasileira.
Agora a Globo quer opinar e determinar o que as organizações de esquerda – da qual é inimiga – deve fazer. O serviço que a Globo presta é tentar desmobilizar a esquerda e, com isso, fortalecer o bolsonarismo. Pedir que a esquerda “fique em casa” no dia 7 de setembro é um apoio indireto às mobilizações bolsonaristas.
Contudo, é fato público e notório que a Globo apoia a candidatura de João Doria (PSDB). O governador paulista proibiu ilegalmente a esquerda de protestar na Avenida Paulista e também procurou proibir o ato no Vale do Anhangabaú. Aliás, por orientação de Doria, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) expediu uma proibição para atos da esquerda contra Bolsonaro em todo o território estadual. Um coronel da Polícia Militar declarou que mastros, instrumentos musicais – e até mesmo fogões – serão apreendidos pela força repressiva no Vale do Anhangabaú. A Polícia Militar afirma que todos serão revistados e, inclusive, os militantes de esquerda devem tomar cuidado com suas palavras.
No fundo o contorcionismo verbal da colunista Ruth de Aquino é um chamado para que esquerda respeite a proibição fascista de João Doria e , mais uma vez, como se já não bastasse um ano e meio escondida debaixo da cama, “fique em casa”. Se a esquerda tiver que se manifestar, conforme o sábio conselho, deve ser junto com o PSDB, DEM, MBL e o pato da FIESP no dia 12 de setembro. Não é segredo que a operação política da Globo é impulsionar a “terceira via” e colocar João Doria como o antagonista de Bolsonaro. Nada mais absurdo, uma evidente farsa.
É um cinismo sem precedentes a Globo se colocar na posição de conselheira e querer determinar a orientação política da esquerda. Justo a Globo, emissora ligada ao imperialismo, visceralmente anticomunista e antipetista, criada na época da ditadura militar e sua apoiadora. Justo aqueles que são os principais carrascos do povo brasileiro, um monopólio fraudulento e antidemocrático da comunicação, responsável direto pelo desemprego, destruição da economia nacional, retirada de direitos e por um golpe de Estado e uma fraude eleitoral.
A única forma de derrotar Jair Bolsonaro é pela via da mobilização independente das massas, sem nenhum tipo de aliança com a burguesia. É preciso mobilizar as massas e suas organizações para realizar um grande ato vermelho com trabalhadores, estudantes, professores, sindicalistas, metalúrgicos, bancários, operários fabris, jovens e desempregados no Vale do Anhangabaú.
O que a esquerda jamais deve fazer é ouvir os sábios conselhos da Rede Globo. Caso estes forem ouvidos, o resultado será a tomada de posse de João Doria como presidente da República em 1º de janeiro de 2023.
