Na última terça-feira (13) foi publicado um artigo pelo Estadão onde o mesmo dá supostas dicas de como evitar o contágio pelo COVID-19 no transporte público. Segundo o jornal, “os riscos do transporte público em grandes cidades preocupam”. Como sempre, a imprensa capitalista tenta diminuir a gravidade real da situação. A capital paulista, neste momento, não teve um dia sequer sem lotações nos trens e metrôs da cidade.
É impossível calcular quantas das mais de 350 mil mortes causadas pelo coronavírus são de pessoas que se contaminaram indo ou voltando de seus trabalhos, contaminadas ao buscar o pão de cada dia para suas famílias.
Segundo o jornal, a principal medida para conter os riscos seria a máscara N95/PFF2 e o uso de álcool gel. Entretanto, os próprios especialistas ouvidos pelo Estadão contradizem a informação: “Não tem solução mágica”, afirma Airton Stein, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. “Mesmo que tenha sido encontrado o vírus em objetos como maçanetas e bancos, a transmissão ocorre basicamente de indivíduo para indivíduo”, disse. Daí pra frente a matéria tenta, de diversas maneiras, realizar verdadeiros malabarismos para não dizer que, na verdade, a única solução seria o fechamento dos transportes público.
Como já denunciado neste mesmo Diário Causa Operária: Lockdown com transporte funcionando é uma farsa, tão somente. O lockdown e o isolamento social, desde sempre, são recursos limitados e que influenciam realmente só uma ínfima parcela da sociedade: os ricos e aqueles que podem ficar em casa. Para os trabalhadores comuns, operários, e a maioria da população pobre, a realidade desde sempre foi muito diferente, diametralmente oposta àquela desfrutada por um setor da classe média, que tem condições de realizar o isolamento social.
Para os trabalhadores, a luta diária para chegar ao trabalho e assim garantir o sustento familiar se transformou numa literal e cruel aventura onde o maior objetivo é manter-se vivo, pois o transporte público nas grandes cidades (trem, metrô, ônibus, etc.) sempre foram os locais de maior risco de contaminação pelo vírus, respondendo pela maioria dos casos de infecção que acometeram os trabalhadores. Enquanto estes vivem a dura realidade, o Estadão os aconselha a comprarem máscaras N95/PFF2, usarem óculos e ficarem em lugares com maior ventilação nos transportes coletivos. Ventilação, sim, nas latas de sardinhas que são os vagões da linha vermelha no horário de pico de São Paulo.
O fato é que a imprensa burguesa é coautora dessa política de morte trazida pelo poder público ao Brasil. Junto com Bolsonaro, Dória e a Direita golpista, ela foca em noticiar festas e aglomerações como se crimes fossem, quanto o que realmente causa aglomeração é o fato de mais de 80% da população do país precisar trabalhar para colocar comida na mesa e, para isto, pegar transportes públicos lotados diariamente. Quando a isto, como o Estadão, a imprensa faz vista grossa e produz matérias cínicas como essa. O Estadão, o jornal do editorial “Uma Escolha Difícil”, ao invés de criticar a redução da frota de transporte, age como um folhetim oficioso do governo do Estado de São Paulo, falando diariamente que está tudo bem entrar num ônibus com mais 150 pessoas ao mesmo tempo, que é normal, que o cidadão “tem que se virar”.
Ao contrário da opinião do jornal, o que era de se esperar fosse que, já que o governo não pretende suspender o transporte, que pelo menos se aumentassem as frotas no horário de pico. Entretanto, fizeram justamente o contrário: diminuíram as frotas e aumentaram o tempo de espera dos passageiros, segundo o próprio artigo do estadão. São medidas contraproducentes em si, que não fazem sentido nem na mais desvairada alucinação febril. Um outro fator importantíssimo ressaltado por um dos especialistas ouvidos pelo jornal é o de que três máscaras descartáveis custam o mesmo que um litro de leite, de forma que pessoas de baixa renda não conseguiriam trocar as mesmas com tanta facilidade, fator preponderante para a diminuição dos contágios. Ou seja: o pobre não tem dinheiro para se defender do vírus de forma plena, de forma que atitudes concretas e lógicas por parte dos governantes seriam, numa realidade diferente, a única saída para salvarmos vidas.
Como também já dito neste mesmo DCO, por mais de um ano, não houve, por parte das autoridades sanitárias, tanto por parte do governo federal e dos governadores estaduais, nenhuma medida efetiva para enfrentar a pandemia. Suas ações se limitaram a medidas puramente políticas para não deixar o problema das infecções e das mortes se avolumarem, o que poderia causar um desgaste ainda maior, do ponto de vista político para os governantes. No plano federal, o governo não só desdenhou a pandemia, com o presidente fraudulento e golpista ironizando a doença e debochando dos doentes, como também não foram adotadas medidas para o enfrentamento efetivo da disseminação do vírus. Não foram abertos novos hospitais ou novos leitos, mesmo com o crescimento dos casos de infecção e mortes; não houve a contratação de mais profissionais para atuarem na linha de frente do combate à pandemia; não foram destinados mais recursos para a compra de equipamentos (oxigênio, máscaras, luvas, álcool etc.), assim como os valores destinados ao auxílio emergencial para socorrer a população desempregada foram irrisórios, enquanto jornais como o Estadão publicam matérias ridículas como esta do dia 13 de abril.