A operação de sequestro do movimento Fora Bolsonaro foi montada. Na última quinta-feira (30/09), a colunista da golpista Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo, anunciou, em tom entusiasmado, que o ato pelo Fora Bolsonaro em São Paulo já teria a presença confirmada de 21 partidos políticos, entre os quais estaria a maior parte da corja direitista que atuou com afinco no golpe de Estado de 2016 e nas medidas golpistas posteriores — PSDB, DEM, MDB, PL, Podemos, Solidariedade, Cidadania, PDT, entre outras agremiações.
Pois bem. Neste sábado, dia 2, os atos pelo Fora Bolsonaro ocorreram em mais de 300 cidades de 18 países diferentes, e de fato contaram com a presença da direita golpista. Representantes do PSDB, do PDT, do Solidariedade, do MDB etc marcaram presença nos atos da esquerda em várias cidades. O dado interessante dos atos, no entanto, foi que os manifestantes não receberam os benfazejos “aliados” da luta contra Bolsonaro com beijos e abraços.
Em São Paulo, principal palco político do país, onde as tendências se manifestam de maneira mais concentrada e desenvolvida, esse foi um dos traços mais importantes da manifestação.
O ativismo de esquerda mostrou que ainda não esqueceu a participação do conhecido pelego Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, do Solidariedade, no golpe de Estado que derrubou o governo de Dilma Rousseff (PT). O capacho dos patrões foi estrondosamente vaiado no carro de som em sua fala na Avenida Paulista, e o coro de “golpista, golpista…” foi entoado energicamente pelos manifestantes. O atual presidente da Força Sindical, Miguel Torres, teve sorte semelhante.
Outro episódio se deu com o tucano Fernando Alfredo, presidente do diretório municipal do partido em São Paulo e um dos sabujos de João Doria. Foi vaiado, xingado e, para coroar, alvo da ira do povo que, não se contendo, arremessou alguns objetos contra o tucano, enquanto discursava no carro de som.
O ponto alto da festa popular de repúdio ficou com o abutre Ciro Gomes, do PDT. Aquele que chamou Lula de “canalha” na Rede Globo, na semana que passou, não teve vida fácil neste 2 de outubro. As hostilidades populares contra o coronel começaram logo quando subiu ao caminhão de som. Quando se deram conta de sua presença no ato, os manifestantes começaram a vaiar e xingar. Os brados de “Ciro golpista” não demoraram a aparecer. Muitos ainda gritaram o nome de Lula em oposição ao seu: “Lula sim, Ciro não”. Chegado o momento da sua intervenção, o que presenciamos foi um discurso inaudível, visto que engolido pelas vaias e xingamentos. Foram cerca de 3 a 4 minutos de legítima revolta e repúdio populares.
O quadro desenhado pelos atos deste sábado expõe com clareza a contradição incrustada no interior do movimento Fora Bolsonaro: de um lado, a política das direções da esquerda pequeno-burguesa (PSOL, PCdoB e ala direita do PT, essencialmente), a política da chamada Frente Ampla, que se traduz na aliança com setores da direita tradicional e se expressa no esforço para contrabandear esse setor para dentro dos atos da esquerda; de outro, as tendências manifestadas pelas massas populares, pelos setores de bases, pelo ativismo classista, no sentido de uma política independente da burguesia e dos representantes políticos dela, uma política de frente única das organizações de luta dos trabalhadores e dos oprimidos.
As direções trouxeram a direita para os atos, mas as bases do movimento mostraram que não apoiam a manobra. As vaias e xingamentos endereçados às figuras da direita golpista confirmam aquilo que o PCO vem destacando há tempos. A aliança com setores da direita tradicional em nome da luta contra Bolsonaro é um erro em todos os sentidos. Em primeiro lugar, serve apenas para dar um ar de popularidade, valendo-se da mobilização e dos recursos da esquerda, à falida direita golpista. Em segundo lugar, e ainda mais importante, ao contrário do que afirmam os defensores da Frente Ampla, a presença da direita só levará ao esvaziamento dos atos e à derrota do movimento. Em terceiro, trazer a direita para os atos significa infiltrar os piores inimigos do povo, aqueles que levaram adiante o golpe de 2016, que prenderam o ex-presidente Lula, que colocaram Bolsonaro no poder, aqueles que apoiam a reforma administrativa, as privatizações, os ataques aos direitos dos trabalhadores e assim por diante.
As massas mandaram um recado: nada de direita nos atos. As direções da esquerda pequeno-burguesa, porém, também mandaram o seu: no dia 15 de novembro, a infiltração da direita nos atos precisa continuar e, se possível, ser ainda maior e mais bem organizada. O Bloco Vermelho, expressão organizada das tendências de mobilização dos setores classistas e populares, conseguiu mais uma vez atuar em consonância com os sentimentos do povo, que rechaça terminantemente a direita nas mobilizações. Nesse sentido, é mais do que necessário desenvolver e jogar ainda mais peso na constituição do Bloco em todo o país, formando uma verdadeira frente de luta contra Bolsonaro, contra o golpe e que coloque em evidência todas as reivindicações dos trabalhadores, ao lado da defesa da candidatura de Lula para a presidência.