Depois de realizar uma sequência de atos, desde maio passado, que levaram às ruas em vários dias de mobilização, centenas de milhares de pessoas, o tradicional Dia de Luta do povo negro (ou dia “da consciência negra” como foi oficialmente batizado) foi marcado por atos minoritários, menores até mesmo do que algumas mobilizações reais puxadas pelo movimento negro, como os protestos contra o massacre de Jacarezinho – em maio passado -. Isso porque não tinham eixo político claro e mobilizador e foram usados, fundamentalmente para iniciativas demagógicas e de campanha eleitoral de grupos da esquerda que apontam na eleição de um punhado de “representantes” da luta do negro para o parlamento como objetivo maior de toda sua atividade política.
Acrescente-se que a data – de forma distracionista – foi apresentada como a data geral do Movimento Fora Bolsonaro, sendo – até o momento – a última data deste ano de mobilização pública contra o governo e teremos que se processou uma clara operação de sabotagem da mobilização pelo Fora Bolsonaro e das próprias manifestações de luta do povo negro por parte da maioria das direções da esquerda.
O pretexto do “protagonismo” das direções das entidades do movimento negro (em sua maioria setores da pequena burguesia de esquerda que usa a questão racial como um trampolim) serviu apenas para ocultar a verdadeira operação de esvaziamento das mobilizações que abalaram o governo Bolsonaro e intensificaram a crise no interior do conjunto do regime golpista, nos primeiros meses em que levaram milhões às ruas, antes da infiltração da direita no movimento (incluindo setores fascistas do MBL, golpistas do PSDB, notórios inimigos dos trabalhadores do DEM, MDB etc.), amplamente repudiada pela militância da esquerda que mobilizava e apoiada pelos setores da esquerda defensores da frente ampla com a direita golpista, tendo à frente o PCdoB, PSOL e a ala direita do PT.
No dia de ontem, ficou ainda mais evidente que os setores que lamentaram o amplo e majoritário repúdio à presença da direita nos atos, trataram de esvaziar a mobilização, puxar ainda mais “o freio de mão”, para fazer aquilo que a direita golpista, que busca construir a “terceira via” quer: conter a mobilização politica dos explorados que cria um clima desfavorável para as articulações golpistas que pretendem colocar o país em uma terceira etapa do golpe, com uma nova derrota de Lula, da esquerda e de todo o povo explorado, de maioria negra, através da eleição de um candidato sem apoio popular que não mobiliza ninguém, como os presenciáveis do PSDB que não conseguem fazer com que nem 4% dos filiados ao partido votem em sua prévias.
A manobra repete o que já tinha sido visto, em agosto, quando fizeram de tudo para se evitar um novo ato de massas contra Bolsonaro. Isso após cabos eleitorais tucanos foram colocados para correr da Avenida Paulista quando tentavam se infiltar no ato da esquerda. Naquela oportunidade (18/8), o a direção do Movimento “apoiou” e colocou no calendário do Movimento Fora Bolsonaro, como neste dia 20, um ato convocado pela CUT (e supostamente pelas demais centrais) contra a PEC 32 – um dia de luta dos servidores -. A esquerda frente amplista sabotou a mobilização, as “centrais” (à exceção dos sindicatos da CUT, limitadamente), não mobilizaram ninguém e não houve nem atos de massas pelo Fora Bolsonaro e nem dia real de luta do movimento sindical.
Agora, a sabotagem se deu em torno do dia de luta do povo negro, que foi esvaziado, com um número bem menor de atos pelo Brasil, atos minúsculos na maioria das capitais, pulverização de pequenos atos em várias cidades (para melhor atender mesquinhas demandas eleitorais) e até mesmo participação de setores da esquerda em atos com apoio oficial, com a participação de órgãos dos governos co-responsáveis pelo massacre do povo negro, como se viu no Rio de Janeiro e outras cidades.
No maior de todos os atos, em São Paulo, o ato de luta, foi substituído por um conglomerado de manifestações culturais,
religiosas e de pequenas atividades politicas dispersas, reunindo menos de 10% dos grandes atos realizados pelo Movimento Fora Bolsonaro. Ainda com toda a sabotagem, sem nenhum trabalho mais amplo de convocação, sem que fosse chamado em torno de reivindicações concretas do povo negro e de todos os explorados (como a luta pela redução da jornada, contra o desemprego; a luta pelo fim da PM contra o massacre policial etc.) e sem o únicos eixos políticos capazes de unificar o povo negro e a esquerda, a luta por Fora Bolsonaro e por Lula presidente; o ato mostrou um certo estado de ânimo de parte da militância presente, evidenciando que o problema central é a politica das direções frente ampliadas que atuam para bloquear a mobilização em favor da politica da direita.