Depois da espetacular vitória do povo afegão, pobre e oprimido, sobre a maior potência capitalista do mundo, depois de 20 anos de invasão e destruição pelas tropas norte-americanos, dirigentes do Talibã anunciaram uma “anistia geral” em todo o Afeganistão, bem como solicitaram às mulheres que se juntem ao seu governo.
Essas e outras declarações dos líderes do Talibã, bem como a forma pacífica como foi tomada a capital do país, Cabul, diante do enorme apoio popular e da deserção das forças repressivas do governo que se viram impotentes para combater o levante nacional contra a dominação imperialista, desmentem a propaganda da imprensa de que eles seriam selvagens e que a vitória comandada pelo grupo nacionalista representaria um retrocesso para a imensa maioria do povo afegão, principalmente para as mulheres.
Em uma nova etapa da luta do povo afegão, com a fuga do governo capacho do imperialismo, os novos chefes do governo do Afeganistão procuram deixar claro que as mulheres terão direitos, que os opositores não serão punidos, que as embaixadas estrangeiras e até mesmo a liberdade de imprensa serão respeitadas etc. A própria imprensa capitalista se vê forçada a reconhecer que “o Talibã está tentando se mostrar como mais moderado do que quando comandou o país, entre 1996 e 2001, e adotou uma visão extremamente rigorosa da lei islâmica (sharia), impondo restrições sobretudo às mulheres, que eram impedidas de trabalhar e estudar” (G1).
De certa forma, eles mesmos evidenciam qual poderia ser o motivo para as mudanças da etapa atual, em relação ao período anterior, quando chegaram ao governo após derrotarem os russos, com o apoio dos EUA: desta feita chegaram ao poder por meio de uma gigantesca mobilização das massas afegãs, com um amplo apoio das parcelas da juventude afegã e de outros setores da população violentamente esmagados pela destruição imposta pelo imperialismo. São – neste momento – “pressionados” por todos esses setores e pelas mulheres e, claramente, apresentam posições mais “progressistas”, o que parece indicar um certo giro à esquerda do Talibã.
Aprenderam da própria experiência. Anunciaram claramente que chegaram ao poder como resultado de uma coligação de forças do país, cuja principal aliança foi com os trabalhadores e camponeses, e isso os direcionou a posições mais progressistas, a uma conduta mais liberal (é claro que ainda marcada por posições reacionárias e hábitos culturais conservadores do país e de todo a região), a conceder mais direitos, de não serem, ao menos aparentemente, mais tão profundamente fundamentalistas como antes.
A situação é o resultado de um claro levante popular revolucionário, que expulsou os norte-americanos, que derrotou a máquina de guerra e destruição dos Estados Unidos em um gigantesca vitória não só dos talibãs e de todo o povo afegão, mas de todos os povos oprimidos do mundo.
Uma realidade que contraria toda a reacionária campanha da venal imprensa imperialista, dos seus “analistas” e dos setores da esquerda pequeno-burguesa que os acompanham e que choram pela derrota dos abutres capitalistas que mataram centenas de milhares de afegãos, bombardearam impiedosamente povoados civis, estupraram, torturaram e mataram milhares de pessoas pobres, depois de invadirem seu país e, agora, querem – cinicamente – que a derrota dos algozes do povo afegão e de todos os povos oprimidos do mundo, seja considerada um retrocesso.
Ao contrário disso, os novos dirigentes afegãos disseram que todos “devem retomar sua vida cotidiana com total confiança” e pediram, inclusive, aos funcionários públicos que voltem a trabalhar normalmente.
É preciso desmascarar a fraude do imperialismo e a capitulação e dos setores da esquerda que repetem, como bonecos de ventríloquos, o que divulga o PIG (Partido da Imprensa Golpista) e tirar dos fatos as lições fundamentais para a luta da classe trabalhadora e todos os setores oprimidos da nossa sociedade: por meio da luta revolucionária do povo, o imperialismo pode e será derrotado, ainda que sejam grandes os sacrifícios, que abundem as traições de setores dispostos a se venderem para os opressores para defenderem seus próprios interesses contra os interesses do povo e mesmo que essa luta seja, em suas diversas etapas, dirigida por setores com enormes e naturais limitações políticas, como é o caso do nacionalismo burguês (representado, no Afeganistão, pelo Talibã).
A luta de classes, em diferentes ritmos, se encarregará da necessária evolução política das massas, como vemos nesse momento no Afeganistão e em muitas regiões do planeta.