Na última segunda-feira, foi mais uma vez comprovado que ser indígena não significa ser um lutador contra a opressão da burguesia e do imperialismo. O exemplo vem do Equador através da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE), que declarou a sua vontade de “dialogar” com o presidente neoliberal equatoriano, o banqueiro Guilherme Lasso.
Na nota, a CONAIE exige que o governo Lasso atenda às demandas dos cidadãos tais como fixação de preços dos combustíveis, redução da taxa de desemprego, atendimento à seguridade social e ao seguro rural e alocação dos recursos necessários para a saúde e educação. Ela igualmente diz que participará das mesas de negociação marcadas para iniciar em primeiro de outubro chamadas pelo banqueiro, digo presidente Lasso.
A organização alerta que poderá optar pela mobilização contra o governo caso não tenha suas demandas atendidas. Ela também assume que vai suspender sua participação nos protestos contra atual governo liberal desde sua posse há quatro meses.
Logo esta burocracia indígena resgata o papel que desempenhado nas imensas manifestações de outubro de 2019 quando praticamente uma insurreição conseguiu a derrubada do governo Lênin Moreno. Esta vitória não aconteceu por que as lideranças da CONAIE, mais correto dizer burocracia, aceitaram um acordo com Moreno que se limitou a volta de um subsídio sobre os combustíveis.
Com o fim da mobilização popular, o governo Moreno se reestruturou, perseguiu as lideranças que não aceitaram o acordo realizado. Contudo que este presidente chegou às eleições de 2021 tão enfraquecido que não quis concorrer à reeleição.
Contudo, da burocracia indígena da CONAIE, saiu o instrumento utilizado pela burguesia para dividir e confundir o eleitorado equatoriano nas últimas eleições presidenciais, o ex-governador da província de Azuray, na região andina, Yazu Sacha Pérez Guartambel.
Ele foi o representante do Partido Pachakutik que se passa de esquerdista ao se dizer ecossocialista. Assumindo o papel de ser a novidade a esquerda e uma opção contra o candidato apoiado por Rafael Correia, o economista Andrés Arauz.
Yazu Pérez é um advogado nascido com o nome de Carlos Ranulfo, passou a usar este nome de origem em quéchua. Ele ganhou destaque nas manifestações de 2015 contra o Rafael Correa como o presidente da ECUARUANARI (Confederação dos Povos da Nacionalidade Kichwa do Equador, um braço da CONAIE), e nas eleições presidenciais de 2017 apoiou o Guillerme Lasso, dizendo preferiria “um governo dos banqueiros” a um ditadura. Além disso, considerou positivos os golpes contra a presidente Dilma e contra Evo Morales, pois seria a derrota da corrupção nestes países.
Não se pode esquecer que no segundo turno a burocracia indígena da CONAIE se posicionou pelo voto nulo, o que na época um voto para a direita visto que não era uma opção dentro da perspectiva de classe contra burguesia e o imperialismo, mas sim um acordo do capacho indígena dos banqueiros e acabou por viabilizar a eleição do atual governo.
Agora a burocracia indígena através da CONAIE acena um acordo para garantir a direita no poder. Ao mesmo tempo Pérez continua na sua função de confundir o eleitorado, pois saiu do partido em que foi candidato para montar um novo movimento no qual “as práticas da velha política não terão espaço” e as preocupações ambientais serão prioritárias, ou seja, o seu papel de dividir a esquerda e o eleitorado equatoriano continuará. Um belo brinquedo com ar de grande esquerdista a serviço do imperialismo.