O relógio marcava 7h da manhã de terça-feira (5) quando a Defesa Civil da cidade de Blumenau subiu o morro da Vila Bromberg com um aparato de 40 policiais militares fortemente armados. Qual o crime? Ter um teto em cima da cabeça e um lugar para poder dormir após longas jornadas de trabalho nas fábricas da cidade.
5 de dezembro foi o prazo estipulado pelo governo municipal para que as 18 famílias deixassem a área, a 20 dias do Natal, em meio à pandemia da COVID-19 e com milhões de desempregados no país. Como forma de “compensação” ou melhor, de cuspir na cara da população, a prefeitura ofereceu 400 reais para ajudar no aluguel durante 3 meses.
Segundo a prefeitura, a ação é motivada pela prática de “crime ambiental” e por tratar-se de uma área de risco.
Fui surpreendido ao ler uma matéria em um dos jornais locais da burguesia e me deparar com a situação de um velho conhecido e companheiro de luta, Remi dos Santos, 62 anos, que mora há 18 anos na Vila Bromberg.
Seu Remi, em 2008, sofreu com deslizamentos que afetaram duramente Santa Catarina, quando 135 pessoas morreram e 2 continuam desaparecidas. A Defesa Civil orientou o companheiro a deixar o imóvel por risco de desmoronamento. Sem ter para onde ir e esperando pela prometida moradia, ficou onde estava. Até que há três anos seus problemas de saúde se agravaram o impossibilitando de subir os cerca de 120 degraus até sua casa e decidiu erguer a casa em outro local, onde tinha uma estrada.
A prefeitura promete que a situação dos moradores da Vila Bromberg será apenas o início de uma onda de despejos. De acordo com o secretário, com o cessar da pandemia, uma comissão multidisciplinar deve atuar nos bolsões de áreas de risco para fazer uma análise das edificações, notificar os moradores da existência do risco e orientar sobre as medidas.
Blumenau é a cidade de Santa Catarina com mais domicílios em aglomerados subnormais, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O termo é usado para moradias que estão agrupadas em regiões carentes de serviços públicos essenciais, como abastecimento de água, disponibilidade de energia elétrica e saneamento básico. Além disso, também integra casas construídas em terrenos públicos ou particulares de forma desordenada.
Segundo o Censo Demográfico 2010 (período de relativa estabilidade econômica no país) eram 6,8 mil domicílios nessa situação em Blumenau, divididos em 17 regiões precárias, o que equivale a 6,7% do total de moradias particulares na cidade. Nesses locais, moram mais de 23 mil pessoas, em uma média de 3,4 moradores por domicílio.
O estudo mostrou, por exemplo, que a Rua Pedro Krauss Sênior, no Bairro Vorstard, é o ponto da cidade com o maior número de domicílios em situação precária: 551 no total. Já o Loteamento Sol Nascente, no Bairro Ponta Aguda, é o que tem mais moradores, reunindo 4.136 pessoas.
Cabe lembrar que estes números são de 2010, momento de relativa estabilidade econômica no país, de lá para cá o desemprego mais que triplicou e por consequência as moradias em área irregular.
O Partido da Causa Operária se coloca ao lado dos moradores da Vila Bromberg e todas as demais famílias ameaçadas pela prefeitura de despejo. Hoje, sexta-feira (15), nos reuniremos com os moradores da comunidade para junto a eles organizar o enfrentamento ao despejo e convocamos toda a esquerda, sindicatos, partidos políticos, movimentos sociais a se reunir na próxima quarta-feira (20) às 19h30 na sede do SINTICON para organizar um plano de luta contra os despejos.