Quem acompanha a animada política burguesa já deve saber da confusão e dos tumultos que marcaram as fracassadas prévias dos tucanos golpistas no último domingo. Contudo, a revista Veja, no seu blog Maquiavel, revelou que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, pagou por volta R$6 milhões a instituição criadora do aplicativo através de um contrato do Banrisul, banco controlado pelo governo gaúcho. O aplicativo batizado como Prévias do PSDB, que teria provocado as inúmeras discussões e denuncias de fraudes entre as facções tucanas no último domingo devido ao seu funcionamento lento e cheiro de falhas.
Esta instituição é a Fundação de Apoio a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs), uma entidade sem fins lucrativos e com administração autônoma da universidade ainda que seu diretor-presidente seja indicado pelo seu reitor cujo atual, Carlos André Bulhões, foi indicado por Bolsonaro, recebeu um valor de R$5,96 milhões para o período de outubro de 2020 a outubro de 2021 por um contrato do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul) cujo presidente, Claudio Coutinho Mendes, foi indicado pelo governador gaúcho Eduardo Leite, um dos três concorrentes das prévias tucanas.
Tanto a Fundação como o Banco já se emitiram suas alegações. A Fundação alega que este contrato foi firmado através de edital público e da gestão anterior. Atual Diretora-Presidente, Ana Rita Facchini, indicada pelo atual reitor, e os outros diretores assumiram em janeiro do corrente ano. Já o Banco se defende dizendo que tem uma relação comercial de 20 anos com a referida fundação com a prestação de inúmeros serviços sempre por meio de editais públicos.
Contudo todas estas explicações provavelmente não vão acalmar os ânimos das aves tucanas. Pois o aplicativo desta fundação com o custo de um milhão e trezentos mil de reais deveria ter permitido que os filiados sem mandatos e vereadores votassem sem precisar ir para Brasília onde estavam às urnas eletrônicas cedidas pelo Tribunal Superior Eleitoral para os outros filiados votarem sendo que mesmo estes deveriam se cadastrar no aplicativo.
Desde o inicio o grupo do Doria questionou o emprego do aplicativo e das urnas eletrônicas, defendendo o uso das células em papel. É extremamente revelador como no momento que Doria tem os seus objetivos políticos em xeque muda sua posição em relação ao uso dos dispositivos eletrônicos em eleições. Uma atitude normal da direita que quando ele interessa aponta como o sistema é passível de manipulação e de fraude. Em 2014, Aécio Neves questionou os resultados daquelas eleições presidenciais. Reconhecendo que eleições sempre estão sobre as ameaças de fraudes e que dispositivos eletrônicos com as atuais urnas não são garantia de nada.
Toda esta disputa mostra como a esquerda pequeno burguesa foi iludida e manipulada quando fez campanha para que não fosse possível adotar uma medida de voto impresso para se contrapor as urnas eletrônicas. Bem diferente da decisão do tribunal constitucional alemão que, em 2009, apontou que qualquer cidadão tem de ser capaz de auditar os votos de uma eleição. Como isto pode ser possível com as urnas eletrônicas e seus programas quando a grande da população brasileira nem sabe o que é um código fonte? Por isto é preciso garantir o máximo de transparência e possibilidade de ser fiscalizado pela população.