Alguns setores de esquerda pensam que as eleições resolvem tudo. Mas a situação boliviana comprova que não. É necessária uma forte mobilização popular para fazer frente à ameaça de golpe. Por isto a importância da Marcha pela Pátria que na última segunda, dia 29, chegou na capital andina, depois de uma caminhada de aproximadamente 188 km, iniciada em Oruru no interior do país.
Em La Paz, ao final da marcha, mais de um milhão de pessoas estiverem presentes no ato de encerramento. A manifestação foi promovida pelos movimentos sociais do Pacto da Unidade e pela Central Operária da Bolívia (COB) em apoio ao governo e contou a presença do presidente Luis Arce e de Evo Morales, ex-presidente e líder do partido Movimento ao Socialismo (MAS).
Ainda assim a ameaça de golpe permanece. Tanto que nesta terça-feira, durante a reunião do Grupo de Puebla, o presidente boliviano denunciou que um “golpe branco” esta sendo organizado no país e solicitou o apoio dos componentes deste grupo. Essa organização conta com a presença de dos governantes do México e da Argentina, além de ex-presidentes como Dilma Rousseff (Brasil), Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai). Foi criado para se contrapor ao Grupo de Lima que reúne governos de direita com o objetivo de atacar a Venezuela.
Juntando-se a esta denuncia, Evo Morales declarou no Twitter: “Assustada, a direita golpista tenta com mentiras deslegitimar a Marcha pela Pátria que confirmou a unidade do povo para defender a democracia. A verdadeira “ameaça” contra direitos reconhecidos pela constituição é o golpismo que atenta contra o Estado de Direito”.
Como está se processando este novo golpe? A direita, através dos comitês cívicos de Potosi e Santa Cruz de La Sierra e principalmente do governador desta província Luis Camacho, um dos principais golpistas de 2019, tem realizado paralisações desde oito de novembro, declarando que não tinha prazo para terminar, mas exigindo que uma lei aprovada em agosto sobre ganhos ilícitos e terrorismo fosse revogada.
Tal reivindicação foi atendida no dia 15 quando ocorreu o recuo presidencial. Arce se justificou afirmando que não podia deixar que a economia nacional continuasse paralisada. Mesmo assim estes comitês procuraram manter as paralisações o que comprova o caráter golpista destas manifestações.
Isto comprova que a eleição do ex-Ministro de Evo Morales no ano passado não foi uma derrota dos golpistas de 2019 que impediram a reeleição de Evo, forçaram seu exílio para o México e além de realizaram inúmeras perseguições, prisões e mortes dos apoiadores do MAS em lugares como Sacaba na província de Chapare.
Contudo a vitória do MAS foi uma concessão do imperialismo e da burguesia boliviana uma vez que a situação nacional estava saindo do controle devido às manifestações populares contra o governo golpista de Jeanine Añez e agravada pela sua péssima condução do combate a Covid-19 e as desastrosas consequências econômicas para a população.
Ao mesmo tempo comprova como o partido de Evo Morales errou ao capitular perante o golpe de 2019 e não utilizou o apoio popular para resistir, preferindo fazer apelos por paz e conciliações sem combater os elementos do exército e da polícia que perseguiam os camponeses e os trabalhadores. Com Evo renunciando e fugindo para a Argentina e depois para o México para não ser preso.
O MAS considerou que a eleição de Arce, um burocrata, poderia ser aceita pela burguesia, pois ele não teria as ligações com os movimentos sociais como Evo e poderia apaziguar o país pela legitimidade que o ex-presidente lhe dá. Contudo pelo visto a burguesia estava só ganhando tempo, recompondo-se para retirar o MAS mais uma vez do poder.
Isto comprova como é fundamental estimular a mobilização popular para resistir ao golpe. Assim tanto Arce quanto Morales não podem se limitar a estas denuncias e sim devem continuar a estimular que o povo e os movimentos sociais intensifiquem as mobilizações para inibir a ameaça golpista.
