Max Weber, no ensaio “A ciência como vocação”, afirma que seu tempo tem como característica a racionalização, a intelectualização e, acima de tudo, o “desencantamento do mundo”, o que levou os homens a banirem da vida pública os valores sublimes, que se encontravam na vida mística, na fraternidade e nas relações entre os indivíduos.
Posteriormente, Weber irá afirmar que “Já não precisamos recorrer aos meios mágicos para dominar os espíritos ou exorcizá-los, como fazia o selvagem que acreditava na existência de poderes misteriosos. Podemos recorrer à técnica e ao cálculo.”
A técnica e o cálculo predominam no pensamento ocidental a partir da Idade Moderna e ganha primazia com os iluministas. Mas tanto a técnica como o cálculo não são apenas instrumentos da racionalidade do mundo. São instrumentos de produção.
E esses instrumentos, como todo instrumento de produção, são, em essência, instrumentos de dominação. Quem domina, nesse caso, é a mercadoria, que tornou aquele que faz uso dos instrumentos de produção em meros assessórios da máquina.
Toda a relação entre os homens, que um dia firmava-se num universo místico de fraternidade, tornou-se num mundo material de interesses individuais.
No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels escrevem que a “burguesia arrancou às relações familiares o seu comovente véu sentimental e as reduziu a pura relação monetária.”
Vemos aí que as relações entre os indivíduos que outrora se firmava numa fraternidade quase mística, agora se encontra toldada pelo véu do mais puro materialismo mercantil. A burguesia precisa modificar-se continuamente e só pode existir revolucionando os meios e produção e, consequentemente, as relações sociais. Esse revolucionamento distingue a época burguesa de todas as outras.
Todas as relações fixas e enferrujadas, com o seu séquito de veneráveis representações e concepções, são dissolvidas; todas as relações novas, posteriormente formadas, envelhecem antes que possam ossificar-se. Tudo o que está estratificado e em vigor volatiliza-se, todo o sagrado é profanado, e os homens são finalmente obrigados a encarar a sua situação de vida, os seus relacionamentos mútuos, com olhos sóbrios.
O que se vê em Marx e Weber é uma reificação do mundo, um mundo despojado de deuses. A burguesia tomou para ela o destino do mundo; transformou o sagrado em profano e, ao mesmo tempo, o que era profano em sagrado. Ao despojar de deuses o mundo, tornou-se ela própria um deus. A burguesia “criou para si um mundo à sua própria imagem e semelhança.”
Criou o homem moderno.
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