No último mês, tivemos o falecimento de duas conhecidas figuras no campo da cultura nacional, particularmente da música. Primeiramente, o pianista clássico Nelson Freire, e pouco depois, a cantora sertaneja Marília Mendonça. Para além da questão do gosto pessoal de cada um, é impossível não se surpreender com a diferença de tratamento dado para ambos os casos.
Começando pelo caso mais recente, a morte da cantora levou a diversos setores da esquerda a se lamentarem em suas redes sociais. Muito foi dito sobre seu posicionamento político esquerdista, procuraram, inclusive, encontrar um valor em sua música que a princípio nunca existiu. Um caso semelhante ocorreu com a misteriosa morte do cantor MC Kevin ocorrida não muito tempo atrás. É claro que a causa da morte em si foi um fato chocante, um avião que caiu em um rio. Não se deve menosprezar esse aspecto.
O problema real, no entanto, não é necessariamente esse, mas sim a total ausência de comentário da esquerda quando da morte do pianista Nelson Freire, um dos mais importantes artistas brasileiros do nosso período. Nelson era tido, no mundo inteiro, como um dos mais habilidosos, sensíveis e sofisticados pianistas, até o momento, vivos.
Se a morte de Mendonça foi uma catástrofe chocante, a de Freire também tem algo de trágica. O pianista havia sofrido um acidente e perdido parte dos movimentos dos braços alguns anos atrás. Ele se encontrava em depressão profunda, e foi cogitada até a possibilidade de ter cometido suicídio, apesar de nada do tipo ter sido confirmado pela família.
A esquerda abandonou totalmente a discussão a respeito da música clássica e da arte como um todo, deixando amplo terreno para a direita e a extrema-direita fazerem demagogia nesses campos. A música clássica, particularmente, é fruto de propaganda do governo PSDB em São Paulo, com orquestras como a OSESP e outros grupos. Mas todos sabem que a única coisa que o governo tucano realmente faz é desmontar, retirar financiamento e massacrar os artistas.
É preciso ter um posicionamento sobre a cultura, o que não quer dizer fazer demagogia com o que é de má qualidade, acreditando que isso é o que “o povo gosta”, à semelhança de donos de gravadoras que procuram enfiar “goela abaixo” da população tudo que é ruim. Mas sim, procurar elevar o nível cultural da classe operária e marcar posição no campo da cultura. É nesse sentido que o GARI (Grupo por uma Arte Revolucionária Independente) – o coletivo de artistas do PCO – procura atuar e levar adiante uma discussão sobre a arte de um ponto de vista revolucionário.