A esquerda está apavorada com Bolsonaro, essa é a verdade. As comemorações após os atos do dia 7 são prova desse desespero, estavam com medo de um golpe que não ia acontecer, e uma vez que não aconteceu a esquerda saiu comemorando como se Bolsonaro estivesse acuado e sem força, mesmo este tendo colocando centenas de milhares nas ruas. O medo tirou a capacidade crítica de avaliação da esquerda pequeno-burguesa e por isso ela busca desesperadamente um acordo com a direita.
O próximo passo depois de comemorar o “fracasso” de Bolsonaro é o refúgio nos braços da direita. Os atos de Bolsonaro foram os maiores atos de rua desde os atos pró-impeachment de Dilma Rousseff, superando inclusive estes. Mesmo contando vantagem, a esquerda ainda está assustada, teme que Bolsonaro vá dar um golpe a qualquer momento, por isso busca o apoio da direita. A direita está armando esse golpe para a esquerda desde o início das manifestações. Para ela, é necessário que a esquerda desista de lutar contra Bolsonaro através das mobilizações e de uma candidatura unitária em torno da figura de Lula. A direita assim espera que a esquerda limite-se ao plano institucional, completamente controlado pela burguesia golpista, e esconda-se através do candidato que a terceira via decidir.
O PCdoB e o PSOL foram os grandes expoentes desta política. Não por acaso são dois partidos pequenos do ponto de vista parlamentar e estão ameaçados pela cláusula de barreira. A cláusula pode significar o fim do fundo partidário para esses dois partidos que sobrevivem quase que única e exclusivamente dele. O dinheiro que recebem da burguesia e da própria mobilização é insuficiente para manter o partido. Ambos estão desesperados para conseguir o apoio eleitoral da direita em alguns governos e assentos nos legislativos no ano que vem.
De certo modo, não é errado dizer que a esquerda se comporta como uma criança amedrontada se refugiando no colo de seu algoz. Ou pior: como uma criança ingênua que, andando sozinha na rua, é chamada por um desconhecido a entrar em uma van cujas janelas estão fechadas. E a criança entra, toda alegre, acreditando que há doces e brinquedos dentro da van.
A direita é pai e mãe de Bolsonaro e tem o mesmo programa econômico que o presidente, pode-se dizer que na verdade é ainda mais devastadora no ponto de vista econômico. Seu interesse em derrubar Bolsonaro não é o mesmo que o da esquerda. Enquanto a esquerda está lutando para reverter o golpe, a direita está lutando para retomar o controle que perdeu após o processo golpista. Bolsonaro é instável demais para eles, e muito ineficiente para executar a política do neoliberalismo.
Os dois partidos supracitados estão se mobilizando para ir aos atos da direita no dia 12. Orlando Silva, Isa Penna e outras figuras da esquerda amedrontada já confirmaram presença e tentam arrastar outros elementos. Esses atos existem apenas porque ficou claro que o PSDB, MBL e demais partidos da direita não são aceitos nos atos da esquerda. Vimos o que aconteceu no dia 3 de julho com o PSDB. A presença da esquerda nesses atos pode causar uma enorme confusão junto à população.
É preciso denunciar essa política desesperada e começar a agir da maneira correta quando se teme um inimigo; trabalhar para superá-lo. Devemos superar Bolsonaro nas ruas mobilizando. A esquerda deve abandonar imediatamente da direita falida e começar a agitação para levar o maior número de pessoas em seus atos. Nada está garantido para o ano que vem a não ser o confronto.