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2022

A direita não disse “fora Bolsonaro” e não quer “Lula lá”

As especulações feitas nos meios da esquerda pequeno-burguesa sobre o apoio de setores da direita a Lula em 2022 são completamente infundadas

A suspeição do ex-juiz Sérgio Moro pelo Supremo Tribunal Federal alimentou as esperanças de um setor da esquerda em que o ex-presidente Lula seja reconduzido ao Planalto com o apoio de setores da burguesia. A ausência de uma opção viável como “terceira via”, segundo alguns, faria da adesão da chamada “centro direita” à candidatura de Lula no segundo turno de 2022 algo natural. As duas coisas, no entanto, não se relacionam da mesma maneira no mundo real.

A “centro direita” é apenas um eufemismo para os partidos e políticos que organizaram e levaram a cabo o golpe de Estado de 2016. Que interesse aqueles que derrubaram o governo do PT cinco anos atrás poderiam ter em levar Lula novamente ao poder?

“Fora Bolsonaro”?

O primeiro equívoco é acreditar que os que derrubaram Dilma Rousseff sejam mesmo tão ferrenhos opositores de Bolsonaro a ponto de militar para que Lula seja eleito em 2022. A campanha feita pela imprensa burguesa confunde. Bolsonaro nunca foi o candidato favorito da burguesia. Foi eleito em 2018 porque era o único com uma base social minimamente sólida. Face ao colapso dos partidos tradicionais da burguesia – notadamente dos tucanos – Bolsonaro era o único com votos suficientes para vencer o candidato do PT. Só foi eleito, ainda, porque Lula foi tirado da disputa de maneira fraudulenta.

A imprensa capitalista é muito cuidadosa ao conduzir a sua versão da campanha pelo “fora Bolsonaro”, a começar pelo fato de que nunca levantaram essa a palavra de ordem como tal. Apenas dão a entender que o presidente precisa ser removido, apontando sempre caminho diverso do da manifestação da vontade popular. 

Ao longo do último ano, editoriais dos principais jornais da burguesia flertaram com a ideia do impeachment. Uns vociferaram contra o capitão, outros o ironizaram, expondo a incompetência do presidente que eles mesmos levaram ao poder por terem combatido duramente os governos do PT.

A direita e seus partidos tradicionais não estão dispostos a abandonar suas pretensões ao governo tão facilmente. Ocorre que, para conseguir fabricar um nome capaz de representá-los nas urnas, são obrigados a atacar Bolsonaro, isto é, enfraquecer o nome detrás do qual se esconderam nas eleições passadas. É uma manobra arriscada, sempre. Mas não há outra alternativa.

Lula, por falta de opção?

Lula é considerado o único nome capaz de derrotar Bolsonaro e o inverso, até o momento, também é verdade: Bolsonaro é o único nome capaz de fazer frente ao de Lula nas urnas.

O fato da direita tradicional ainda não ter definido quem será seu candidato não significa que tenham descartado Bolsonaro como opção. Declarações como as de Delfim Neto ou Fernando Henrique Cardoso, que flertam com a ideia de uma aliança com Lula contra Bolsonaro nas eleições, não significam que votarão em Lula nem que votarão em Lula contra Bolsonaro. 

Bolsonaro ainda é uma opção, mas Lula, não. A burguesia certamente prefere outro nome que o de Bolsonaro, mas isso não é suficiente. Os nomes de Doria, Leite ou Huck foram levantados, mas até agora não emplacaram – e podem mesmo não avançar um milímetro. Se reeleger Bolsonaro for a única saída para defender as “conquistas” de 2016 – as reformas, a destruição dos empregos, a terceirização, a liquidação dos serviços públicos etc. – não hesitarão em fazê-lo.

A burguesia não vai recuar de seus interesses por falta de opção nas urnas. A classe dominante que mergulhou o país na sua mais profunda crise não vai abrir mão do que conseguiu tão facilmente. Não vai apoiar o nome que hoje representa eleitoralmente a antítese de tudo o que fizeram desde 2016 para continuar a obra que o golpe do impeachment inaugurou.

Se Lula tivesse sido escolhido candidato de “centro”, se tivesse se tornado “o candidato dos golpistas”, o apoio a seu nome seria unânime. Ele é o único que pode derrotar Bolsonaro nesse momento, e não sem dificuldades. Mas, se é assim, por que Ciro Gomes, por exemplo, insiste em sua candidatura? Por que o acordo não foi fechado ainda? Porque a preocupação da direita e de seus partidos é derrotar Lula e não Bolsonaro.

Não nos enganemos: há tempo de sobra para impedir Lula de ser candidato

O grade problema da burguesia continua ser sabotar a candidatura Lula e impor um candidato de direita em 2022. Correm contra o relógio, o ordenamento jurídico e a vontade de milhões de brasileiros. Mas ainda há tempo para fazer uma manobra forçada e mais uma vez levar a eleição no tapetão.

A anulação dos processos contra o ex-presidente, com as declarações de incompetência e suspeição do ex-juiz Sergio Moro na operação Lava Jato, não são obstáculos intransponíveis à abertura de um novo processo contra o ex-presidente. Há tempo de sobra para que o processo seja instruído e Lula seja condenado a tempo de impedir sua candidatura. Quem, no meio da esquerda, acredita no contrário, está correndo o risco de repetir o vexame das análises que diziam que o impeachment era impossível, que não seria aprovado na Câmara ou que seria revertido no Senado.

Em suma: a direita falou contra Bolsonaro, mas não moveu uma palha para tirá-lo do governo; reconhecem que Lula pode derrotá-lo nas urnas, mas não abriram mão da possibilidade de impedir sua candidatura; jogam com as expectativas de todo o eleitorado de direita, conservador, de classe média, desgostoso com Bolsonaro e ainda sem um nome alternativo; manipulam as esperanças da esquerda que não enxerga obstáculos no caminho que ligaria as decisões de Fachin e da terceira turma do STF à ascensão de um quinto mandato presidencial do PT. 

Não disseram “fora Bolsonaro”, tampouco “Lula lá”. A burguesia e seus representantes tradicionais estão buscando um caminho para se livrar de ambos, por mais difícil que isso pareça ser. 

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